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Até sempre, Aurélio Tórrez e Adriano Aveiro!

 

Triste início de Primavera, este de 2012. Ao final da tarde do primeiro domingo, chega a estonteante notícia dando conta do falecimento precoce e trágico do jovem Adriano Aveiro, com pouco mais de 20 anos de idade e uma contagiante vontade de viver a vida com muita intensidade. Pouco mais de duas horas depois, outra notícia igualmente estupefativa, desta vez acerca da trágica morte, também no estúpido trânsito corumbaense, do técnico de enfermagem e de radiologia Aurélio Mansilha Tórrez, de pouco mais de quarenta anos de vida, deixando dois órfãos menores de 18 anos, uma jovem viúva e seus pais desolados, além de muitos generosos projetos inacabados.

Ironia da Vida, ambos residiam no bairro Universitário, a uma distância não superior a quinhentos metros. Ouso dizer que, ao longo dos últimos quatro anos, me tornei amigo de Adriano Aveiro, motorista de praça, profissão de seu dedicado Pai, Antônio Aveiro, que estava prestes a conseguir um táxi para profissionalizar este jovem que era um de seus filhos caçulas. Adriano encarnava o perfil do jovem corumbaense, detentor de alegria cativante e ao mesmo tempo ávido por oportunidades. Em meu encontro derradeiro com ele, carinhosamente apelidado de Tatu pelos Amigos, durante uma corrida habitual, semanas atrás, me contagiou com sua vontade de viver e suas ideias juvenis: profissionalizar-se na praça, ajudar a saldar as dívidas da família, construir seu lar e retomar os estudos, assim, nessa ordem. Até porque, órfão de Mãe ainda em tenra idade, queria ver a família tranquila antes de partir para uma experiência conjugal. E tudo isso com uma alegria própria dos jovens, para quem a Vida sorri o tempo todo. Mal sabíamos que um acidente na BR-262, próximo ao Assentamento Urucum, viria a interromper sua alegria no fatídico primeiro domingo primaveril de 2012.

Por seu turno, o leal, solidário e incansável Companheiro Aurélio Mansilha Tórrez, ex-presidente do Conselho Municipal de Saúde de Corumbá, ex-presidente do Sindicato dos Empregados de Estabelecimentos Privados de Saúde de Corumbá e Ladário (SINDEESAÚDE) e fundador e membro da coordenação colegiada do Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário (FORUMCORLAD), vivia um dos melhores momentos de uma vida de luta infindável: com muito sacrifício conseguira concluir o curso de técnico de radiologia havia poucos anos, o que lhe custou o primeiro casamento, do qual teve três filhos. Mas a solidão não durou muito, pois pouco tempo depois encontrou uma grande Companheira de luta e de vida, que lhe proporcionou momentos de felicidade intensa. De origem humilde, tudo o que conquistou foi fruto de árdua luta e muita garra, que nunca o levaram às deploráveis mas recorrentes mudanças de rota. Ao contrário, jamais abriu mão de seus compromissos de sindicalista comprometido com sua categoria, explorada e humilhada por déspotas travestidos de democratas, conforme a ocasião, que tomaram de assalto o hospital, como se tivesse sido privatizado. Não é de se duvidar que muitos hoje estejam fingindo lamentar a sua trágica morte, mas Aurélio, melhor que ninguém, sabe quais são os seus verdadeiros companheiros de luta, com os quais esteve até o momento derradeiro de sua rica e generosa existência, fazendo jus à sua ascendência incaica, de filho de imigrantes bolivianos que hoje têm um governo dos autênticos remanescentes dos povos originários que não abdicam princípios nem a inatacável lealdade forjada na luta.

Não darei adeus a esses dois queridos Amigos que a Vida, generosa, me presenteou. Dar-lhes-ei o habitual até sempre, porque, cada um ao seu modo, escreveu em nossas vidas a história indelével de quem traz a cada vez mais rara mensagem de que é preciso ter fé na Vida e esperança na humanidade, a despeito dos que se pretendem feitores do Planeta, da História e do porvir da humanidade. Só lamento não ter dito isso em vida, até porque nossa atribulada existência sempre nos leva enquanto nós acreditamos que somos nós a levá-la.

 

Por: Ahmad Schabib Hany