A notícia de que o Pentágono está monitorando um suposto balão de vigilância chinês nos céus dos Estados Unidos levanta uma série de questões – entre elas, o que exatamente ele pode estar fazendo.
Autoridades dos EUA disseram que a rota de voo do balão, avistado pela primeira vez sobre Montana na quinta-feira (2), poderia levá-lo a “uma série de locais sensíveis”, mas que estão tomando medidas para “proteger contra a coleta de inteligência estrangeira”.
Porém, o que está menos claro é por que os espiões chineses iriam querer usar um balão, em vez de um satélite para coletar informações.
Esta não é a primeira vez que um balão chinês foi visto sobre os EUA, mas esse parece estar agindo de forma diferente dos anteriores, avaliou um oficial da Defesa dos país.
“Parece que está ‘saindo’ por um longo período, desta vez, [e é] mais persistente do que anteriormente. Isso seria um fator diferenciador”, disse o funcionário.
Na sexta-feira (3), Pequim afirmou que o balão era um “dirigível civil” usado principalmente para pesquisas meteorológicas que se desviou de seu curso planejado.
A declaração, feita por um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, é a primeira admissão de que o dirigível se originou na China desde que o Pentágono revelou que estava rastreando o balão, na quinta-feira.
Espionagem com satélites
O uso de balões como plataformas de espionagem remonta aos primeiros dias da Guerra Fria. Desde então, os EUA usaram centenas deles para monitorar seus adversários, destacou Peter Layton, membro do Griffith Asia Institute na Austrália e ex-oficial da Força Aérea Real Australiana.
Mas com o advento da tecnologia moderna de satélite, que permite a coleta de dados de inteligência do espaço, o uso de balões de vigilância saiu de moda. Ou pelo menos até agora.
Avanços recentes em tornar a tecnologia cada vez menor significam que as plataformas flutuantes de inteligência podem estar voltando ao moderno kit de ferramentas de espionagem.
“As cargas dos balões agora podem pesar menos e, portanto, eles podem ser menores, mais baratos e mais fáceis de lançar” do que os satélites, ponderou Layton.
Blake Herzinger, especialista em política de defesa do Indo-Pacífico no American Enterprise Institute, ressaltou que, apesar de suas baixas velocidades, os balões nem sempre são fáceis de detectar.
“Eles têm assinatura muito baixa e emissão próxima a zero, tão difíceis de detectar com a tecnologia de vigilância ou consciência situacional tradicional”, explicou Herzinger.
E os balões podem fazer algumas coisas que os satélites não podem.
“Os sistemas no espaço são tão bons quanto, mas são mais previsíveis em sua dinâmica orbital. Uma vantagem dos balões é que eles podem ser dirigidos usando computadores de bordo para aproveitar os ventos e podem subir e descer em um grau limitado. Isso significa que eles podem permanecer no local até certo ponto”, destacou.
“Um satélite não pode demorar e muitos são necessários para cruzar uma área de interesse para manter a vigilância”, acrescentou.
O que pode estar espionando?
De acordo com Layton, o suposto balão chinês provavelmente está coletando informações dos sistemas de comunicação e radares dos EUA.
“Alguns desses sistemas usam frequências extremamente altas, que são de curto alcance e podem ser absorvidas pela atmosfera. É possível que um balão seja uma plataforma de coleta melhor para essa coleta técnica específica do que um satélite”, disse.
O coronel aposentado da Força Aérea dos EUA Cedric Leighton, analista militar da CNN, concorda com Layton.
“Eles podem estar coletando sinais de inteligência, em outras palavras, eles estão olhando nosso tráfego de celular, nosso tráfego de rádio”, afirmou Leighton a Erin Burnett, da CNN.
Os dados de inteligência coletados pelo balão podem ser retransmitidos em tempo real por meio de um link de satélite para a China, acrescentou o especialista.
Os analistas também observaram que Montana e os estados próximos abrigam silos de mísseis balísticos intercontinentais dos EUA e bases de bombardeiros estratégicos.
Autoridades dos EUA dizem que tomaram medidas para garantir que o balão não colete dados confidenciais. Eles decidiram não derrubá-lo por causa do risco contra vidas e propriedades com a queda de destroços.
Além disso, se os Estados Unidos conseguissem derrubar o balão dentro de seu território sem destruí-lo, então ele poderia revelar alguns de seus próprios segredos, acrescentou Layton.
Mas talvez não haja segredos ou espionagem envolvidos. Isso pode ser apenas um acidente, com o balão saindo do curso ou os operadores chineses perdendo o controle de alguma forma.
“Há pelo menos alguma possibilidade de que isso tenha sido um erro e o balão tenha acabado em algum lugar que Pequim não esperava”, ponderou Herzinger.
*CNN Brasil