As tensões que envolvem Taiwan continuam a se intensificar após a visita à ilha da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi. Pequim anunciou nesta sexta-feira que está congelando a cooperação com Washington em questões-chave como meio ambiente e segurança, e imediatamente cancelando reuniões militares de alto nível com a maior potência do mundo. O governo chinês também anunciou sanções econômicas contra Pelosi e sua família.
“Apesar das sérias preocupações e forte oposição da China, Pelosi insistiu em visitar Taiwan, interferindo seriamente nos assuntos internos da China, minando a soberania e a integridade territorial da China, atropelando a política de ‘uma só China’ e ameaçando a paz e a estabilidade do Estreito de Taiwan”, diz uma declaração do Ministério das Relações Exteriores. A decisão chinesa deixa o governo dos Estados Unidos, que desaconselhou a visita de Pelosi a Taiwan, em uma posição muito delicada e certamente irá piorar as relações já deterioradas com Pequim.
Há oito itens listados entre as questões que serão afetadas pela retaliação de Pequim à visita de Pelosi a Taiwan. Pequim anunciou que “cancelou” as comunicação entre líderes militares, reuniões de trabalho entre Ministérios da Defesa e reuniões do “Acordo Consultivo Marítimo Militar”.
Além disso, “suspendeu” — termo que sugere se tratar de uma retaliação temporária — a cooperação entre a China e os EUA no repatriamento de imigrantes ilegais, na assistência jurídica criminal e no combate ao crime transnacional e ao tráfico de drogas.
As atuações conjuntas entre os dois países sobre mudanças climáticas, uma vitória diplomática do governo Biden anunciada durante a última Conferência do Clima, também estão suspensas. A porta-voz da Chancelaria chinesa, Hua Chunying, culpou os EUA por causar a crise.
“As medidas de resposta são justificadas, necessárias, apropriadas e nada excessivas”, disse. Além disso, o Ministério das Relações Exteriores da China anunciou nesta sexta-feira que vai aplicar sanções contra Pelosi e seus parentes.
Em nota, a Pasta informou que a viagem de Pelosi “interferiu seriamente nos assuntos internos da China e prejudicou seriamente sua soberania e integridade territorial”. Por isso, “sanções” serão impostas contra a legisladora e “sua família imediata”.
A China já impôs sanções contra vários funcionários do governo americano no últimos anos por ações, na opinião de Pequim, contrárias ao interesses do país e por declarações sobre os direitos humanos em Hong Kong e na região de Xinjiang, algumas vezes sem especificar a natureza das medidas.
O ex-secretário de Estado americano Mike Pompeo e Peter Navarro, que foi conselheiro comercial do ex-presidente Donald Trump, já foram alvos de sanções, com a proibição de entrar na China ou de fazer negócios com empresas chinesas. Em março, Pequim adotou restrições de visto a uma lista não publicada de funcionários americanas que supostamente “inventaram mentiras sobre questões de direitos humanos envolvendo a China”.
Ainda assim, o gesto contra Pelosi, a terceira autoridade de mais alto nível dos EUA e a segunda na linha de sucessão ao presidente Joe Biden, tem dureza incomum.
A primeira resposta do governo chinês após a visita foi o anúncio de exercícios militares que começaram nesta quinta-feira e levaram ao bloqueio naval e aéreo de Taiwan. Segundo o Ministério da Defesa em Pequim, 16 mísseis balísticos foram lançados do continente com o objetivo de testar suas “capacidades de ataque de precisão e negação de área”.
A princípio, autoridades em Taipé se referiram a 11 projéteis que caíram em suas águas, em dois pontos diferentes. Segundo autoridades do Japão, os outros cinco foram parar na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Japão, a sul de Okinawa. As atividades militares de países estrangeiros nessas áreas constituem uma zona cinzenta do direito internacional e não chegam a constituir uma ilegalidade.
As manobras devem ser realizadas até domingo. O ministério da Defesa de Taiwan disse que as suas Forças Armadas permanecem em estado de alerta e monitoram de perto as atividades chinesas. A ilha “manterá o princípio de se preparar para a guerra sem buscar a guerra e com uma atitude de não escalar conflitos e não causar disputas”, disse o ministério em comunicado.
Washington acusou Pequim de ter reagido “exageradamente” à visita de Pelosi e alertou que seu porta-aviões USS Reagan continuará “monitorando” os arredores de Taiwan. Os Estados Unidos também anunciaram que adiaram um teste de mísseis intercontinentais “para evitar uma maior escalada de tensões”, segundo o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.
*Informações IG