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Síndrome de Odorico Paraguaçu

 

Quem se lembra de Odorico Paraguaçu, personagem principal da novela “O Bem Amado”? Ele representa a classe dominante, inescrupulosa e corrupta, da política brasileira. Sua voz representa o discurso vazio dos políticos que buscam manter o poder, a legitimação, a qualquer custo. Como prefeito de Sucupira, cidadezinha do litoral baiano, determinado a realizar suas idéias, constrói sua verdade e faz com que o mundo se apresente de maneira particular. Cego, não faz autocríticas, atuando sempre de acordo com seus preceitos morais.

Esse desejo de ser parte da história, de chamar a atenção, é acentuado em Odorico, que por suas falas e atitudes transita entre o absurdo e o cômico. Ao ensaiar o discurso de inauguração de grande obra de seu governo, o prefeito Odorico afirma seu desejo de reconhecimento: “Meus concidadãos! Este momento há de ficar para sempre nos anais e menstruais da História de Sucupira!”, aludindo às obras pintadas de vermelho por conta dos petistas.

O discurso político da oposição, que inúmeras vezes se faz situação, começa a reproduzir o mesmo discurso. O discurso ambíguo, sempre interessante por permitir que seu orador lhe imprima o tom que lhe for conveniente. Esse discurso é o melhor modo de manter o poder e garantir o apoio público. O discurso dissimulado, típico da classe política, obedece a essa regra: fala-se o que deve, executa-se o que deseja.

Provando ter uma mentalidade séculos à frente de todos os políticos brasileiros, Odorico possuia um telefone vermelho, igual ao vermelho do PT, e foi pioneiro em milhares de coisas.

Veja uma pequena lista de suas visões futurísticas:

Primeiro prefeito a enviar divisas a um banco do exterior;

Primeiro prefeito a vender a mãe para ganhar a eleição;

Primeiro prefeito a acusar a imprensa de ser “marronzista”;

Primeiro prefeito a colocar “apenasmente” cupinchas no gabinete;

Primeiro prefeito a subir vertiginosamente os impostos municipais;

Primeiro prefeito a dizer que não sabia de nada;

Primeiro prefeito a inaugurar o cemitério de Sucupira.

Como sofremos dessa síndrome, cabe a cada um de nós mudar esse quadro da política populista, de discursos vazios e da inauguração de obras como plataforma política. Afinal, se para os “Odoricos”, o que vale é tentar captar votos, para o povo, o que vale é ter uma administração honesta, íntegra, responsável e capaz de resistir às tentações.

Sucupira também é aqui. E ainda é possível decidirmos se, na nossa novela, o enterro do prefeito será o capítulo final ou se haverá um novo episódio.

 

Por: Lucianne Andréa Sampaio