Por telefone, o Amigo Luiz Taques me deu a triste notícia. Não queria acreditar que minha querida Amiga de exatos 35 anos havia se eternizado. Logo ela que vivera intensamente uma existência produtiva, como cidadã, como profissional (e que profissional!) e sobretudo como pessoa de rara qualidade humana.
Conhecemo-nos no ano em que ingressei na antiga FUCMT, em meados de 1979. Ela, Irmã da não menos querida Amiga Mariza Bittar, era uma discretíssima dirigente no Movimento Estudantil em Campo Grande, gente da Vanguarda. De personalidade, preferiu optar pela organização de uma nova frente política, eminentemente de esquerda (o Partido dos Trabalhadores), enquanto os demais membros de sua Família (então, além da Mariza, o Márcio Bittar, hoje deputado no Acre, começava a despontar como dirigente secundarista), quase de modo uníssono, optavam pela estratégia da frente única contra a ditadura, o MDB (depois PMDB).
Fomos, por pouco mais de um ano, vizinhos de moradia, na saudosa Cândido Mariano (hoje Marechal Rondon), tendo merecido sua visita em nossa modestíssima república de estudantes na bucólica Vila Shangrilá, em que ela e a Mariza me levaram alguns livros de que precisara para um trabalho do curso. Foi quando confirmei que aquele comportamento afável, muito raro numa juventude ansiosa de transformações tinha um veio no Oriente Médio, mais precisamente no Líbano de meus ancestrais.
Sem dúvida, tratava-se de uma pessoa muito especial. Sincera, solidária, literalmente Companheira. Teria sido, sem dúvida, uma excepcional dirigente do PT, mas sua alma generosa e discreta a tornava incompatível com a velha prática da militância política. Sem correr o risco de cometer um exagero, ela foi uma das melhores presidentes do emblemático DAJS (Diretório Acadêmico José Scampini), do Serviço Social da FUCMT, que ao lado do DAFEZ (da Filosofia da FUCMT), do DAPP (da Engenharia da UFMS) e do DAHERMA (da Medicina da UFMS), eram tidos na época pelos órgãos de repressão como os “ninhos da subversão”, mas na verdade uma verdadeira Escola de Cidadania e de formação do caráter de várias gerações.
Aluna brilhante, permanecera na academia mesmo depois de ter concluído sua graduação, e precocemente construiu uma brilhante carreira universitária, tendo sido pioneira no Serviço Social a partir para o Mestrado e Doutorado. Isso ao mesmo tempo em que constituiu uma linda e exemplar Família, como que algo lhe dissesse que sua iluminada e generosa presença entre nós não fosse longeva, para nossa tristeza.
Nosso reencontro se deu 20 anos depois, em 1999, graças à Amiga Estela Scandola (na época dirigente do IBISS/CO, entidade coordenadora do Fórum de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente), de quem a querida Mariluce era orientadora em seu Mestrado em Saúde Pública. Desde então, ainda que por telefone ou pela internet, nosso contato era relativamente frequente.
Na despedida ao querido Amigo e Camarada Manoel da Guató, 14 meses atrás, ela, que me proporcionou o reencontro com os queridos Amigos Mariza (a Irmã), Amarílio (o cunhado) e Mário César Ferreira (o Cecéu do Movimento Estudantil da década de 1980), me enviou uma de suas derradeiras e emocionantes mensagens, que aqui tomo a liberdade de compartilhar com todo(a)s, como uma homenagem sincera, um “até sempre!”, do fundo do coração, à querida Amiga de praticamente adolescência, juventude e sobretudo de ideais generosos e altruístas.
Por: Ahmad Schabib Hany