Corumbá

Relatório da CPI da Decoada reforça indícios de fraudes na prefeitura

Vereador Marquins lê relatório da CPI da Decoada

 

Depois de ouvir 16 das 20 pessoas acusadas de envolvimento ou conivência com as suspeitas de fraudes licitatórios na prefeitura de Corumbá, denunciadas pela Operação Decoada em maio deste ano, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal criada em junho para apurar as irregularidades foi concluída esta semana.

O relatório final, de 37 páginas, foi lido na sessão desta terça-feira pelo relator e vereador Marcos de Souza Martins (PT), o Marquinhos, e aponta “uma quantidade significativa de indícios de irregularidades e ilicitudes sobre diversos procedimentos realizados pela prefeitura” com base em depoimentos e documentos.

Diante do que chamou de “sérios indícios” de corrupção revelados pela Polícia Federal, Ministério Público e Controladoria-Geral da União (CGU), o relator afirma que a CPI conclui “pela necessidade das autoridades competentes em aprofundar firmemente na elucidação das investigações e responsabilização dos envolvidos”.

Marquinhos, ao ler o relatório no plenário, disse que buscou por meio do controle emocional e serenidade ser o mais isento possível nas suas conclusões – o relatório foi aprovado pelos demais membros da comissão, vereadores Oséas Ohara (PMDB) e Antônio Vianna Galã (PMDB) – e espera que a Justiça seja feita.

O papel da CPI, segundo o vereador, não foi de julgar o caso, mas de contribuir com o Poder Judiciário e apontar onde ocorreram as falhas administrativas. O relatório cita a fragilidade da prefeitura no controle financeiro e nas operações licitatórias, bem como recomenda maior transparência na prestação de contas.

O relator acrescenta que os depoimentos de funcionários e prestadores de serviços poderiam ter sido mais elucidativos “não fosse o subterfúgio utilizado por diversos investigados”, citando que o ex-secretário Daniel Martins (Finanças e Administração), informou, em ofício, que se comparecesse à CPI ficaria calado.

Vereador Marquins lê relatório da CPI da Decoada

Obstrução do trabalho

Também cita a “frustrante” convocação do prefeito Ruiter Cunha de Oliveira, que recorreu à Justiça e conseguiu uma liminar para não ser ouvido. “Deve-se aqui registrar – diz o relatório – que a oitiva do prefeito era essencial para apurar sua participação, conhecimento e responsabilidade nos graves fatos apurados pelas investigações policiais”.

“Entre tantos indícios da prática de irregularidade, que, em tese, o prefeito deveria ter conhecimento – diz o relatório -, e que merece destaque, é o repasse de recurso financeiro para o desfile da Escola de Samba Belford Roxo (Rio de Janeiro), que ora o presidente da escola afirma ter recebido auxílio da prefeitura de Corumbá, ora a prefeitura afirma que o auxílio se deu através de doações de empresários”.

“A verdade é que, sob a máscara distorcida da proteção constitucional – diz o relatório -, alguns suspeitos desobrigaram-se a relatar a realidade dos fatos e correram para não responder a muitos questionamentos de interesse da Justiça e do interesse público”.

A CPI conclui, também, que durante a apuração dos fatos existiram obstáculos, colocados por agentes e órgãos públicos, de forma a deliberadamente obstruírem a atuação da comissão. O relatório cita a negativa da prefeitura de enviar dados e informações requisitadas e a tentativa de suspender a CPI judicialmente, cuja ação foi negada.

Mais controle

Nas recomendações finais, o relator Marquinhos observa que o Executivo municipal deve reavaliar os mecanismos existentes e estabeleça novos padrões de controle e transparência, promovendo o acesso do público às informações de forma mais ampla, fácil e rápida. “O Executivo deve ser transparente e voltado para resultado”, aponta.

Também pede a reestruturação dos conselhos municipais, inclusive com reformulação da legislação que determina suas composições, “tornando-os mais autônomos, independentes, livres de pressões políticas e de influência nas suas decisões de cunho fiscalizatório”. Segundo o relator, os conselhos atuam com fortes restrições.

No caso dos grandes eventos culturais da cidade, como carnaval, São João e Festival América do Sul, a CPI orienta que a promoção seja precedida de divulgação dos projetos e orçamentos prévios. Após a realização dos mesmos, a prefeitura deve divulgar as despesas orçadas e realizadas, com detalhamento de pagamentos, “para que a população exerça o controle social, checando a veracidade dos gastos”.

 

Por: Da Redação