Margarida Gomes Marques. Altiva, solícita, solidária, ponderada. Pantaneira oriunda dos Pampas. Melhor, Cidadã (com letra maiúscula) do mundo e de seu tempo, universal. Até por isso, como poucos, soube captar a alma do povo descendente dos Guaicuru, dos Kadiwéu, dos Guarani, dos Terena, dos Guató.
Quem teve a sorte de conhecê-la, nos anos de chumbo, na defesa destemida e intransigente dos povos originários, como membro do Grupo de Apoio ao Índio (creio que a consigna era “o destino do índio está na consciência do branco”), fortificou suas convicções por uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.
Com o mesmo denodo com que se dedicava às causas justas (então proibitivas), atuava no ofício do Jornalismo (com maiúscula) – uma dama na luta e na arte. Engajada desde sempre, nem por isso desdenhou as artes e a cultura (que num tempo o maniqueísmo ideológico havia segregado, tal qual a heresia nos tempos inquisitoriais).
Sem preconceito, soube generosamente revelar, valorizar e divulgar com maestria e elegância talentos que desabrochavam corajosamente, a despeito da aridez institucional e a mesquinhez da intelligentsia de plantão, nas letras, nas artes e na vida política.
Não por acaso, foi das primeiras dirigentes do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul e, no primeiro governo de esquerda do estado, presidente da entidade mantenedora do único canal aberto de tevê pública. Tanto num como no outro cargo, exerceu seu mandato de forma republicana: discreta, plural, aberta.
Para Margarida Marques, a militância era a própria Vida. A estatura moral e a formação sólida deixaram claro aos amigos – fossem eles conservadores ou progressistas – que ela dispensava rótulos ou clichês, discursos extremados ou frases feitas. Ela encarnava a própria dialética em sua alma peregrina.
Vítima de complicações respiratórias, a Dama do Jornalismo se foi, nesta triste sexta-feira de agosto, discreta e silenciosamente, como viveu toda a sua vida. Por certo, lutou estoicamente contra o mal que certeiramente a abateu. Mas, feito aroeira, tombou altiva e majestaticamente, como guerreira tenaz e incansável.
Perdemos a Dama não só do Jornalismo, mas a Dama da Cidadania, da Ética. Porém, perseverante como ela só, de onde estiver, continuará a escrever a nova História que os sem voz e vez haverão um dia celebrar. Até sempre, Amiga querida!
Por: Ahmad Schabib Hany