Hoje, ao raiar do dia, o sentimento percebeu com estranheza que a sinfonia do canto dos galos trazia melancolia nas suas notas, bem como se percebia que os vagalumes boêmios alados ainda resistiam a ir repousar.
Um choro de perda tomou asas, e, com os olhos inchados, dava conta de que o radialista Antônio Sebastião Ávila havia acabado de retornar à pátria espiritual.
Por um instante, as vozes se calaram nos microfones, não pela dor da perda, mas em deferência a um dos expoentes – e relíquia – da radiofonia corumbaense, brasileira e internacional em plena atuação.
As vozes se calaram por um instante para permitir que as lágrimas pudessem ditar do coração a antecipação da saudade, no singular, essa que tem o significado da eternidade.
Quando o radialista tem sua voz guardada na caixa de ressonância da saudade, em razão de seu retorno ao mundo espiritual, ficam órfãos o sentimento e as emoções.
Antônio Ávila conseguiu exercitar e distribuir indistintamente os dons que lhe foram conferidos pelo Criador quando veio reencarnar neste plano, pois trazia o garoto no coração, e desta forma por onde passava conseguia integrar-se às famílias.
Crianças, jovens e idosos o saudavam, expondo nos olhos a felicidade que o coração sentia. Na sua voz, conduzia a autoestima, o estímulo, o carinho e a esperança àqueles que o ouviam.
Doentes nos hospitais, no cômodo de seus lares ou nas filas para recebimento de assistência médica, eram sensibilizados quando docemente eram saudados por ele, a exemplo daqueles outros nos albergues e asilos.
Antônio Ávila sabia operacionalizar com humanismo o papel social do homem do rádio.
Amante, boêmio e romântico de carteirinha, sentia-se à vontade para, por meio da música, acordar a saudade e permitir os suspiros de recordações dos seus ouvintes, fosse qual fosse a idade, a geração e o gênero.
Apaixonado pelo futebol, suas narrações traziam o clima das arquibancadas, das gerais, das cadeiras e a paixão do torcedor para o ouvido, o sentimento e a emoção do ouvinte.
Antônio Ávila foi o nome definido por ele desde menino, como identificação do profissional de rádio que sempre sonhou ser.
Pequeno, ensaiava as narrações dos jogos de campinhos do seu bairro, em Cuiabá, onde nasceu, usando lata de massa de tomate como microfone.
Na vitrola (ou tocadiscos, como quiserem) de seu pai, escolhia as músicas nos LPs de vinil, e protagonizava na sala de estar o estúdio de rádio, oferecendo músicas para as garotas do bairro – sempre a lata de massa de tomate como microfone.
Chegou ao rádio bem extrovertido. Alguns locutores já experimentados asseguravam de que ele dava a impressão de já ser veterano na área.
O jeito garoto, brincalhão, meigo e temente a Deus também o acompanhou na doença. Por inúmeras vezes, ao se ver acometido de gravidade em sua saúde, em todas, conversava com o Supremo Criador dos Universos implorando a sua misericórdia.
Nas últimas vezes em que esteve internado, rogou ao Pai de Bondade a sua permanência neste plano, pois desejava ver a filha formada. Quando Érica recebeu o diploma de Bacharel em Direito, a sua primeira fala foi: “Senhor, obrigado! Obrigado, Pai!…”
Em outra, teve sua permanência estendida neste plano, pois desejava ter no colo a neta, filha de Érica e Felipe, e quando esta deu o seu choro de anuência e presença à vida, em silêncio agradeceu ao Pai.
Amigo de fé e irmão camarada, em Cristo: nas ocasiões de suas internações eram dirigidas a Deus preces das mais diferentes religiões em sua intercessão. Novenas, joelhos ao chão nos templos e igrejas, súplicas nos tambores da fé eram registro do carinho que o ouvinte lhe devotava.
Por certo, quando uma música de Roberto Carlos for ouvida, o coração vai bater mais forte, e como presente Antônio Ávila virá em lembrança nos visitar.
Agora, solicitado por Deus a ajudá-lo em outra missão de paz e ensino de amor e bondade, certamente abraços há muito guardados lhe serão dados pelos colegas Acyl Barbosa, Paulo Roberto, Roberto Zambelli, Roberto Hernandes, Aparecido Paulo, Pedro Gonçalves de Queiroz, entre outros, que agora, juntando à sua voz, irradiam mensagens de Jesus Cristo e de Nossa Senhora nas rotas do mundo.
Antônio Ávila, segura na mão de Deus, e vá…
Cada lágrima de saudade que brotar de nossos olhos nos acordará para a verdade de que o amor tudo cura e pela trilha do amor devemos caminhar.
Quando os nossos olhos se voltarem ao Firmamento, estaremos procurando a estrela mais luzente delas, pois saberemos que o seu coração ali estará, a irradiar amor, esperança e alegria, como sempre…
Por: Juvenal Ávila de Oliveira