Fechadas as urnas, contados os votos e anunciados os vencedores ou perdedores (no primeiro turno), contabiliza-se agora se o julgamento do mensalão teve ou não capacidade de influir na decisão dos eleitores dos municípios brasileiros. Há quem diga que a influência foi quase nula e outros acreditam que o fato ajudou a pautar as escolhas de candidatos durante o processo eleitoral. Seja o que for que tenha realmente acontecido, será difícil saber com precisão. Como se viu, pesquisas de opinião não conseguem captar a alma do povo no ponto exato para se tornar uma referência palpável de análise da realidade.
O que é possível depreender do julgamento do mensalão é de que se trata de um acontecimento que está diariamente permeando o cotidiano da população em função da cobertura da imprensa, explicitando que pessoas poderosas estão no banco dos réus com grandes possibilidades de serem punidas como nunca antes na história do País. Isso, certamente, não é pouca coisa, ainda mais se pensarmos que a cultura da impunidade está profundamente arraigada em nossa cultura. Nesse aspecto, muita coisa muda na cabeça dos eleitores, pois há uma sensação de que as instituições estão funcionando como se deve.
Talvez outra influência do julgamento do STF tenha ocorrido no plano dos financiamentos das campanhas. Com certeza, tendo o mensalão como espécie de ameaça permanente a rondar os fluxos (legais e ilegais) de caixa, muitos “financiadores” e “financiados” tomaram cuidados redobrados para não deixar pontas soltas, a não ser num caso ou outro, como a história esquisita da campanha do PT num município do Pará, em que se encontrou mais de R$ 1 milhão numa bolsa dentro de um avião.
Aqueles que tentam minimizar a influência do mensalão em contendas eleitorais (como no caso de São Paulo) estão pensando nos efeitos de curto prazo. Só que o buraco é mais embaixo. Todo o processo sedimentará um jeito novo de pensar a política no Brasil. Certamente, muito do modelo antigo permanecerá, pois nossa tradição autoritária dificilmente leva a rupturas surpreendentes. Mas pouco a pouco novos padrões de pensamento vão se impor e haverá grandes probabilidades que as eleições de 2014 sejam configuradas por uma agenda completamente diferente da dos dias que correm.
Acredito que, por esses e outros motivos, debater temas como esse com uma visão imediatista seria não só precipitado como imprudente porque os elementos históricos do jogo ainda estão sendo jogados. Podemos arriscar palpites conforme nossas preferências pessoais, mas ainda é prematuro dizer categoricamente se o julgamento do mensalão deve ser ou não elemento de influência no atual processo eleitoral.
Como se sabe, o julgamento da sociedade sobre fatos políticos é um edifício em permanente construção. Acredito que uma frase mal posta afirmando que o povo “não está preocupado com isso” tem tudo para provocar reações negativas da opinião pública, levando-a a fazer considerações mais afirmativas sobre o assunto. Algo que ontem não influiu, amanhã poderá perfeitamente transformar-se em referência de decisão de voto.
Deu para perceber nesta eleição que grandes contingentes populacionais mudam de opinião com uma rapidez surpreendente. Talvez seja essa a essência daquilo que os teóricos costumam chamar de “sociedade de comunicação”. Não há nada fixo. Tudo se move com extrema rapidez. Os levantamentos dos institutos de pesquisa não estão conseguindo, neste ambiente, acompanhar o dinamismo das mudanças. E assim será cada vez mais daqui pra frente.
Por: Dante Filho – Jornalista (dantefilho@terra.com.br)