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A Ecologia Pantaneira

 

O Pantanal foi descoberto nos anos 70 do século XX, quando já lá vivíamos por dois séculos criando bois que até hoje continuam pastando junto de animais silvestres sem agredir o meio ambiente. A descoberta do Pantanal foi devido ao assombro de ecologistas que encontraram essa imensa área com o homem trabalhando alegremente sem agredir a natureza. O príncipe herdeiro da coroa Britânica e presidente de uma das maiores ONGs de preservação ambiental declarou que o Pantanal era o maior exemplo da existência de uma atividade econômica aliada à preservação. Nunca fomos aqui elogiados por essa façanha e a todo o momento encontramos ecologistas querendo tirar o homem do seu Paraíso Ecológico.

A ecologia tem prestado serviço à preservação ambiental, mas por um desvio de percepção vê o homem como um animal necessariamente destruidor da natureza. Querem conceber o paraíso ecológico como um lugar onde o homem nunca esteve. Essa concepção idiotamente apaixonada é decorrente da estupidez de se conceber o homem como necessariamente destruidor. Penso ao contrário. O homem é o único animal capaz de preservar e recuperar o meio ambiente pela sua condição de animal racional. Sinto nos ecologistas mais fanáticos uma agressão inconsciente, talvez ideológica, que lhes faz parecer insuportável a ideia de que a terra tenha dono. Não vejo a mesma agressão em relação à propriedade industrial, empresarial e comercial.

Faz pouco tempo, em uma reunião de pantaneiros com presença de autoridades, em um rápido depoimento, disse que me sentia tomado de temor e tremor, toda vez que o Governo volta os olhos para o Pantanal. Agora, acho-me atemorizado, triste e de cabeça baixa, pois vejo o preconceito e a má vontade dos que querem legislar sobre o Pantanal. O novo Código Florestal deu aos centros de pesquisas a tarefa de auxiliar de forma cientifica ao legislador. A Embrapa Pantanal é o centro de excelência em pesquisa nessa região, cabe a ela a tarefa.

A pecuária pantaneira é por natureza extensiva, isto é, muita terra para pouco gado, com índice aproximado de três hectares para uma vaca, portanto, uma légua (3.600 hectares) para 1000 vacas. Isso quer dizer que a área de pastagem é relativamente pequena em relação à área total onde predominam cerrados, lagos, brejos, corixos e vazantes inundados nos períodos de chuva. A pastagem é menor e não é homogênea, há sempre uma parte dela que nem o gado nem os herbívoros silvestres comem. Essa parte cresce muito e é responsável pelos incêndios indesejáveis e quase sempre incontroláveis na época da seca. Nessa medida o pantaneiro sobrevive sem agredir o meio ambiente.

Essa pecuária extensiva é a única possível no Pantanal, mas o aumento enorme nos custos de produção e impostos que nos são cobrados deixou a rentabilidade da atividade quase impossível. Nessa situação, o pantaneiro é obrigado a melhorar a sua produtividade com a aplicação de tecnologias adaptadas, fazendo formações no cerrado e substituição das pastagens nativas de baixa qualidade, evitando incêndios indesejáveis. Essas substituições não agridem o meio ambiente, engrandecem a paisagem e a biodiversidade. Importante destacar que, com essa tecnologia adaptada, o pantaneiro não pretende aumentar sua carga animal por hectare e sim sua produtividade. Pois bem, a proposta sugerida pela Embrapa Pantanal restringe o direito dessa substituição e pode inviabilizar economicamente a atividade pecuária no Pantanal.

Assisti ao maior desastre ecológico do Pantanal quando uma Promotora levada a erro por uma ONG com motivação duvidosa proibiu o fechamento das bocas do Taquari. A atividade de fechar as bocas do rio era historicamente feita pelos índios assentados por Rondon nessa região desde 1904. A proibição causou a inundação de uma imensa região do Paiaguás, destruindo matas inteiras, dizimando animais silvestres e expulsando o homem desses pantanais.

De novo, sinto-me tomado de temor e tremor quando a Embrapa que tanto nos conhece, sugere uma restrição da troca de pastagem que irá inviabilizar a pecuária tradicional pantaneira. A saída dessa gente e de sua atividade econômica tradicional é necessariamente a destruição de uma cultura e o final da preservação ecológica do Pantanal, talvez o maior desastre.

 

Por: Abílio Leite de Barros – Pecuarista e escritor