Mais de um século e meio após o movimento de libertação da América Latina, que culminou com a independência dos países da Região, novos ventos de liberdade e esperança voltaram a soprar à partir de Corumbá, coração da América.
O ex-presidente Lula esteve ontem na Cidade Branca e durante pouco mais de uma hora falou a um público de mil pessoas sobre a importância de se perseguir um novo patamar de integração entre os países da Região, com laços fortes de fraternidade e solidariedade. “Não existe integração só econômica, ela tem de ser também social e cultural. Integração é criar uma consciência de irmandade no Continente”.
Lula elogiou Corumbá por acolher 650 estudantes bolivianos em sua rede municipal de ensino e por abrir as portas do sistema de saúde para realizar mais de 15 mil atendimentos anuais aos vizinhos de fronteira. “Continuem assim, nunca digam não aos nossos irmãos bolivianos”, disse o presidentes se dirigindo ao prefeito de Corumbá, Paulo Duarte. “Vocês aqui em Corumbá haverão de ensinar o cidadão brasileiro a se transformar em um País solidário”.
Indignação
Sem esconder sua indignação, o ex-presidente criticou os séculos de oportunidades perdidas que atenderam somente os interesses dos países colonizadores e de uma elite dominante. “Nós não fomos educados para dar importância aos países vizinhos da América do Sul. O Brasil ficou 500 anos olhando seus colonizadores. Depois de Portugal, veio a Inglaterra e depois os Estados Unidos”, lembrou. “Basta refletir um pouco e vocês vão perceber que esse país continental nasceu e se desenvolveu somente próximo à costa marítima”, acrescentou, destacando ainda que o Brasil só começou a experimentar algum desenvolvimento “País-adentro” na década de 50, com a inauguração de Brasília e a rodovia Belém-Brasília.
“Nossas fronteiras secas, mesmo tendo o dobro de extensão territorial (16 mil km), historicamente foi relegada a segundo plano em relação à costa marítima. As duas primeiras pontes que interligam Brasil-Bolívia e Brasil-Paraguai fora construídas no meu governo, com cinco séculos de atraso”, advertiu. “Além disso, os países pobres aprenderam, por interesse dos dominadores, a tratar o Brasil como um império, um inimigo e adversário”.
Esperança
Munido de muitos números, o ex-presidente Lula fez um discurso apaixonado sobre a força do continente sul-americano e a importância de ‘dividir as riquezas e conhecimentos e experiências para ganhar’. “Temos 12,7 milhões de km2, quase o triplo do território da União Europeia; 275 milhões de habitantes com uma riqueza de origem e etnias talvez único no mundo”.
Segundo Lula, a América do Sul atravessa seu período mais promissor das ultimas décadas. “Temos uma taxa média de desemprego de 6,5%, inferior a quase todos os países ricos, temos um PIB de US$ 3,5 trilhões, 19,6% das reservas globais de petróleo e 260 mil mega watts de potencial hidrelétrico. Juntos, somos o maior exportador de açúcar, soja e carne bovina, somos a quarta maior indústria automobilística e produzimos aviões modernos”.
As fronteiras, de acordo com ele, devem unir e não separar os países do continente. “Integração política pressupõe entendimento de pessoas, entre presidentes, e isso não se faz em gabinete, pelo telefone, mas por meio do olho no olho”.
Lideranças regionais
No melhor espírito bolivariano, o ex-presidente admitiu que sente orgulho por ter ajudado a formar uma nova geração de líderes na América Latina, a maioria de esquerda, que acreditam também na força da integração entre os países do Cone-Sul e trabalham principalmente para o povo menos favorecido. “Chavez, Kirchner, Evo Morales, Corrêa, Nicanor, Toledo, Uribe e Tabre, quase todos de esquerda democrática”, destacou. “Quem há 30 anos diria que um metalúrgico, um índio, um negro e mulheres liderariam esses países?”.
Por: Da redação