O ex-governador e atual deputado federal, Zeca do PT, aponta os motivos que levaram a cassação da presidente da República, Dilma Rousseff (PT), da necessidade de uma reforma política, do processo de privatização da Sanesul e da falta de uma política pública junto as comunidades indígenas do Estado.
Veja a entrevista, na íntegra
Qual a sua avaliação sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff?
Zeca do PT – Vai servir para recuperação do espaço do PT outra vez e esclarece a opinião publica que o impeachment está fundamentado em razões que não se justificam para o afastamento definitivo de uma presidente. Afinal, o conjunto da obra, não se definiu e concluiu, perante a Constituição, o crime de irresponsabilidade fiscal.
É verdade que a Dilma cometeu erros administrativos, como por exemplo, a publicação de decreto de suplementação, que nada mais é, que transferir recursos duma determinada dotação, que naquele momento não tem uma destinação específica para uma outra que precisava. Coisa que qualquer prefeito, qualquer governador faz ou faria.
Eram seis decretos, acabou caindo para três. Se continuasse mais um tempo, não haveria mais nenhum decreto que embasasse a justificativa de ato criminoso, como não tinha. Se juntou um acervo administrativo com uma alta rejeição da presidente imposta por 24 horas de mídia contra o governo da presidenta, irradiando todo preconceito, intolerância e ódio contra o PT.
E a questão da Lava-jato, que jogaram tudo dentro. Se tem alguém que não tem nenhuma ligação com a Lava-jato, com certeza é a Dilma. Se a alta taxa de rejeição dá direito a um afastamento, devemos agora afastar o Temer.
O PT, durante o governo Dilma, teve dificuldade para governar, conquistou o governo mas não o poder?
Zeca do PT – O presidencialismo pressupõe governo de coalizão quando você não tem maioria. Infelizmente temos um processo político eleitoral totalmente deturpado, a começar pela composição dos partidos políticos. Dos 43 partidos políticos registrados, você tira 5 ou 10 no máximo, com alguma coloração ideológica, os outros não tem nada.
Faltou a Dilma, um jogo de cintura que o Lula teve para articular os partidos com grande bancada e ter maioria com tranquilidade.
É claro, para que você possa ter apoio de uma bancada dentro do processo politico brasileiro, você tem que contemplar os partidos com seus devidos espaços, coisa que a Dilma também não soube fazer.
Movimentos sociais como a Fetems têm protestado contra medidas adotadas pelo governo Temer. Como você avalia estas manifestações?
Zeca do PT – Tive a oportunidade de falar sobre isso ontem, em Campo Grande. Estamos votando no congresso nesses últimos dias, algumas medidas preocupantes, uma que flexibiliza o pre-sal, que é uma grande riqueza do Brasil.
A segunda é que a câmara federal está quase autorizando o governo Temer a abrir o capital da Caixa e do Correio para o processo de privatização.
Terceiro, a discussão sobre a divida dos Estados, onde remete ao Estado, a responsabilidade de demitir funcionários públicos.
Quarto, aprovamos uma medida do governo Temer propondo extinção de ministérios, como o Ministério da Ciência e Tecnologia, onde, um país como o Brasil, não tem como ficar sem um ministério desse…enfim, pior que isso…é o que se articula até o final do ano, que é a reforma previdenciária, que pretende fixar a idade de 65 anos para aposentadorias, tanto para homens como para mulheres.
Ao invés de cassar sonegadores, acabar com os incentivos fiscais, a medidas propostas caem nas costas dos trabalhadores.
E também da reforma trabalhista, que aumenta a jornada de trabalho e o fim da negociação coletiva. Temos que avançar no ponto de vista de assistir os mais pobres, os programas sociais, a juventude… inclusive se fala em privatizar as universidades públicas.
Então os movimentos sociais devem estar preparados, a Fetems é muito importante em nível de Estado… as Centrais Sindicais já trabalham juntas neste sentido.
Muito se fala também da privatização da Sanesul, já não basta a privatização da Enersul, que foi a preço de banana, um patrimônio que era do Estado….e hoje sabemos o péssimo serviço que é oferecido.
Cerca de 30% da população de Amambai é composta por indígenas. Como melhorar a situação deste segmento?
Zeca do PT – A saída é o governo federal provisionar de recursos públicos para a aquisição de terra para os índios.
É verdade que as terras levantadas historicamente são dos índios, mas é verdade também que a grande maioria que ocupam essas terras levantadas como indígenas, foram compradas e possuem titulo… compraram do Estado nacional ou do velho Mato Grosso. Se têm o título de boa fé, eles devem ser indenizados.
Estamos propondo uma CPI para investigar os recursos utilizados pela missão Kaiowá, instalada em Dourados. Para se ter uma ideia, de 2014 para cá, a tal da missão recebeu em torno de um bilhão de reais para usar em todo Brasil, para o MS, com certeza mais de 300 milhões de reais.
Esse dinheiro que vem pra Missão é especificamente para contratação de profissionais da saúde. A verdade é que, não tem ambulância, os atendimentos da Sesai não estão presentes, os recursos públicos não estão sendo utilizados… é uma roubalheira. (Informações do Amambai Notícias)
Por: Da Redação