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Seca do Rio Paraguai pode impactar reprodução e aumentar morte de peixes em Mato Grosso do Sul

A seca do Rio Paraguai deve impactar a reprodução dos peixes em Mato Grosso do Sul este ano, podendo elevar a taxa de mortalidade dos animais dependendo da intensidade da estiagem. A situação é esperada, visto que o Estado caminha para presenciar a maior seca de todos os tempos.

O alerta é feito pelo pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani, que acompanha o comportamento dos rios de Mato Grosso do Sul há anos. Ele afirma que em anos de seca é esperada uma redução do estoque pesqueiro, devido à dificuldade no desenvolvimento dos peixes.

O cenário é esperado, pois os peixes comerciais do Estado têm característica migradora, subindo o rio para botar os ovos. “Os filhotes precisam de um ambiente de área alagada para poder se alimentar e crescer, mas sem essas áreas alagadas aumenta muito a mortalidade, pois eles estarão dentro da calha do rio e mais sucessivos a predadores”, explica Padovani.

No início de março deste ano, a Marinha do Brasil emitiu um estudo técnico sobre a bacia do Rio Paraguai no Pantanal, onde há a probabilidade do rio atingir níveis negativos nos próximos meses, assim como ocorreu em 2020 e 2021.

Estiagem histórica no Rio Paraguai

Historicamente, o Rio Paraguai chega ao período de cheia em julho, mas o nível dos rios começa a subir em fevereiro com o período chuvoso. Acontece que, em 2024, o período de chuvas não foi suficiente para acumular água nos rios e criar planícies alagadas. Com isso, aumenta a preocupação para a época de estiagem.

De abril a agosto, período de seca, o pesquisador Padovani explica que a tendência é de que o sistema hídrico perca água, principal fator no risco de incêndios e de impacto nas pastagens pantaneiras. A referência usada pelo pesquisador é o nível do Rio Paraguai na régua de Ladário, que representa 80% da baía e tem histórico de 123 anos.

O ano começou com o Rio Paraguai no mesmo nível de 2023, quando houve cheia, mas o cenário mudou rapidamente e em 1° de fevereiro o nível era de 0,63 metros contra 1,31 metros no mesmo dia de 2023.

Em 1° de março, era possível visualizar o contexto preocupante. Dados da Marinha do Brasil mostram que enquanto o nível do Rio Paraguai marcava 0,87 metros em Ladário, no mesmo dia de 2023 o rio atingia 1,93 metros. Nesse cenário, a navegação pela hidrovia foi paralisada e sem perspectiva de retomada.

Alerta para incêndios florestais

Não é preciso esforço para se lembrar do que ocorreu em 2020 no Pantanal. Muito calor, pouca chuva, seca dos rios e incêndios florestais grandiosos. O ano de 2023 foi marcado pelas ondas de calor, sendo o ano mais quente da história do planeta, segundo a Organização Meteorológica Mundial.

O pesquisador da Embrapa, Carlos Padovani, afirma que ainda é difícil afirmar sobre como as mudanças climáticas afetam as cheias dos rios, mas é claro que vivemos dias cada vez mais quentes e o calor muda tudo. As altas temperaturas afetam não só a regularidade das chuvas, mas também a forma como a umidade se comporta no solo.

“A chuva não é suficiente, pois tem feito muito calor e quando chove não satura o solo e a água que chega não é o bastante para encher os rios. De abril a setembro devem ser cinco meses de calor e pouca chuva – o que é esperado, mas crítico quando olhamos para o cenário atual do Pantanal”, explica o pesquisador.

Com esta circunstância preocupante, equipes do CBMMS (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul) serão enviadas para realizar atividades de educação ambiental e prevenção aos incêndios florestais nas comunidades tradicionais, propriedades rurais e parques estaduais. Estas ações acontecem anualmente.

A tenente-coronel, Tatiane Dias de Oliveira Inoue, explica que as mudanças climáticas são uma realidade enfrentada pelo Estado anualmente. O contexto de seca e queimadas, enfrentado em novembro de 2023, por exemplo, é um reflexo de que os trabalhos na região devem ser constantes, principalmente em 2024.

“Em novembro enfrentamos uma situação bem severa, com baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas. Prova disso são aquelas ondas de calor que tivemos até outubro. Então, por conta dessas mudanças climáticas, tivemos essa situação, de muitas queimadas em novembro”, aponta. Segundo a tenente-coronel, este é um parâmetro de preparação para os profissionais efetivos na ação.

*Midiamax

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