Para que os meios navais, aeronavais e de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (MB) realizem missões essenciais no Pantanal — que vão desde ações de assistência a ribeirinhos até o apoio no combate a incêndios florestais —, é indispensável um trabalho silencioso, porém estratégico, que assegura o êxito de cada operação: a logística militar.
Por trás de cada missão — do gerenciamento de recursos humanos ao abastecimento preciso de gêneros alimentícios para equipes que permanecem isoladas por semanas, seja em terra ou nos rios que cortam Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e até países vizinhos — há um planejamento minucioso conduzido pelo Comando do 6º Distrito Naval (Com6ºDN) e suas organizações subordinadas.
Nesse contexto, destaca-se um protagonista: o Oficial Intendente da Marinha (IM), que, em março deste ano, completou 255 anos de história. Esses profissionais tornam realidade, no dia a dia, o princípio que rege a logística nas Forças Armadas: fornecer os meios e recursos necessários, na quantidade, qualidade, momento e local exatos — mesmo nas circunstâncias mais adversas.
“Antes mesmo da operação acontecer e a logística de material e pessoal ser colocada em prática, existe o planejamento, que é a base para o sucesso das operações militares”, explica a Encarregada da Subseção de Planejamento e Finanças do Com6ºDN, Capitão-Tenente (Intendente) Heloá Lima de Araújo. “Há muitos desafios nessa etapa, como a limitação de recursos e a incerteza, pois as necessidades mudam rapidamente. A priorização dos gastos e a escolha dos meios a serem empregados são, portanto, tarefas imprescindíveis para reduzir riscos e, consequentemente, aumentar a eficiência da operação”, conclui.
Esse planejamento minucioso se transforma em ação por meio das sete funções logísticas — engenharia, manutenção, recursos humanos, salvamento, saúde, suprimento e transporte. São elas que permitem à Intendência da Marinha, na fronteira oeste do País, assegurar, por exemplo, que o Navio de Assistência Hospitalar “Tenente Maximiano” mantenha capacidade plena para levar assistência médica, odontológica e sanitária às populações ribeirinhas. Da mesma forma, garantem que os Fuzileiros Navais, quando empregados em áreas remotas, disponham do essencial — das rações operacionais aos armamentos e equipamentos de comunicação.
O Diretor do Centro de Intendência da Marinha em Ladário (CeIMLa), Capitão de Fragata (Intendente) Osmar da Silva Junior, explica que o consagrado lema “Prever para prover”, tradicionalmente associado ao Corpo de Intendentes da Marinha, traduz a vocação desses profissionais. “Nosso foco principal é atender às necessidades logísticas das organizações e meios do Com6ºDN, especialmente no que se refere ao suprimento de material, transporte e apoio às manutenções”. Esse apoio logístico, acrescenta o Diretor, estende-se de forma centralizada a áreas como a obtenção — com a aquisição de materiais e contratação de serviços —, o orçamento e finanças — por meio da execução financeira —, e o pagamento de pessoal, entre outros.
O abastecimento em uma das regiões mais remotas do país
Manter o abastecimento regular de gêneros alimentícios no Complexo Naval de Ladário representa um dos maiores desafios logísticos enfrentados pelo Com6ºDN. A operação exige vencer mais de 1.800 km entre os depósitos localizados no Rio de Janeiro e o Centro de Intendência da Marinha em Ladário, mesmo com as peculiaridades geográficas da região.
O processo tem início com a aquisição e o armazenamento no Depósito de Suprimentos de Intendência da Marinha (RJ), onde os gêneros secos e frigorificados passam por perícia em laboratório próprio. O Centro de Distribuição e Operações Aduaneiras da Marinha então define o modal — rodoviário, ferroviário ou aéreo (em situações emergenciais) — até Ladário, onde o CeIMLa assume o armazenamento final. Enquanto os itens básicos são distribuídos por meio de um sistema centralizado, os produtos perecíveis e de demanda sazonal são obtidos regionalmente, conforme as necessidades operacionais e a disponibilidade nas localidades atendidas.
“É fundamental uma sincronia perfeita entre todos os atores logísticos, a fim de evitar interrupção do fornecimento do material ou quebra de estoque e consequente desabastecimento local. Navios em operação dependem desse fluxo contínuo. Além disso, o apoio no fornecimento de combustíveis marítimos e rodoviários também permite maior autonomia e mobilidade aos meios navais nas missões no âmbito do Com6ºDN”, destaca o Diretor do CeIMLa.
Além dos gêneros alimentícios, há também desafios relacionados a outras categorias de insumos igualmente essenciais às atividades do Com6ºDN, como itens de fardamento, marinharia, saúde, combustíveis e Equipamentos de Proteção Individual. “Tudo isso pode garantir o sucesso ou comprometer uma missão. A atividade logística torna-se, portanto, tão importante quanto a própria operação em si”, reforça o Capitão de Fragata (Intendente) Osmar.
Posicionado estrategicamente em Ladário, o Centro de Intendência da Marinha assegura não apenas o fluxo de materiais, mas toda a estrutura administrativa que mantém a prontidão operacional no coração do Brasil. “Seja nas ações humanitárias ou nas missões de defesa, é essa estrutura logística que vai além de números e planilhas e torna cada missão possível”, conclui o Intendente Osmar.
O papel da logística foi decisivo em missões como a Operação Pantanal, que envolveu atuação prolongada no combate aos incêndios florestais no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A operação envolveu o emprego coordenado de meios navais, aeronavais e de Fuzileiros Navais, com suporte logístico para aquisição, transporte e distribuição de equipamentos especializados, como bombas, mangueiras, drones de mapeamento, roupas de aproximação, esguichos de alta vazão, lançadores de espuma, capacetes com viseiras, detectores de gases e câmeras termográficas portáteis — fundamentais para a detecção de focos subterrâneos.
A logística dupla do Hospital Naval de Ladário
Como função essencial da logística militar, a saúde no Com6ºDN enfrenta desafios particulares. O Hospital Naval de Ladário (HNLa) tem a missão de conciliar dois compromissos permanentes: o atendimento contínuo à Família Naval e o suporte às diferentes operações na região — que vão desde evacuações aeromédicas até operações combinadas, como a “ACRUX”, maior Operação Ribeirinha Combinada da América Latina.
Para o Diretor do HNLa, Capitão de Mar e Guerra (Médico) Marcus Vinícius Miguez Oliveira, o equilíbrio entre essas frentes exige um planejamento logístico preciso, tanto de material quanto de pessoal. “É necessário gerir com rigor os estoques hospitalares para garantir o atendimento cotidiano, sem comprometer a resposta a situações operacionais. Além disso, adotamos o rodízio de profissionais de saúde como estratégia para manter nossa capacidade de atuação — seja em terra, nos rios ou pelo ar — com eficiência e prontidão em todos os cenários”, explica.
A logística da Marinha nas ações de saúde no Pantanal
Participante de todas as edições do Projeto “Navio” (Navegação Ampliada para Vigilância Intensiva e Otimizada), o advogado e pesquisador Gilson Carlos Soares ressalta a importância do apoio logístico da MB para o sucesso das missões no Pantanal. “O apoio foi essencial em todas as etapas: fornecimento de combustível, acomodação, alimentação e, sobretudo, o acesso às comunidades isoladas, inalcançáveis por vias terrestres”, afirma.
Ele lembra que, na primeira edição, a equipe do projeto chegou ao Com6ºDN dias antes, para adaptar dormitórios e outros espaços dos navios, que se transformaram em laboratórios funcionais, viabilizando desde exames de rotina até análises de biologia molecular e sequenciamento genético. Gilson destaca ainda o ambiente acolhedor construído a bordo. “Rapidamente, nos sentimos em casa nos navios, como uma grande família unida por uma causa maior: o cuidado com o bem-estar de cada ribeirinho que vive às margens do Rio Paraguai.”
Além da infraestrutura essencial, o pesquisador elogia a pronta atuação das equipes militares na montagem das estruturas nas comunidades. “O Suboficial Ricardo Luiz de Souza Silva e sua equipe estavam sempre entre os primeiros a desembarcar, organizando o espaço e garantindo que a triagem começasse o quanto antes”, relembra Gilson. Para ele, a integração entre logística, operacionalidade e acolhimento foi determinante para o êxito das missões no coração do Pantanal.
*Informações da Agência Marinha de Notícias / Foto capa: Cabo-EL Otávio Henrique