Araquém Alcântara, de 64 anos, acaba de chegar de São Paulo para a primeira de uma série de expedições na produção de seu novo livro, que deve se chamar Pantanal da Serra do Amolar. O mais premiado fotógrafo de natureza está completando 45 anos de trabalho. Ele é autor de Terra Brasil, o livro de fotografias mais vendido do País, com 120 mil exemplares, e produziu “Bichos do Brasil”, para a National Geographic. “Quero lançar um olhar amoroso sobre a natureza, o homem e a cultura pantaneira”, afirmou ao chegar a Corumbá, na sala de reuniões na Casa Vasquez, sede do Instituto Homem Pantaneiro (IHP).
O novo trabalho é uma parceria do IHP, que coordena a Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, com um dos precursores da fotografia de natureza no Brasil. Só para preparar Terra Brasil, Araquém pesquisou durante dez anos. “O livro é um legado às futuras gerações”, define. “Para fotografar os sete parques nacionais amazonenses eu tive de morar no meio da mata da Amazônia”, conta.
O prazo para completar o novo livro é de dois anos, conforme o fotógrafo. Será seu 48º livro com tema ambiental. Ele vai percorrer longas trilhas ou permanecer horas na tocaia, camuflado, embrenhado nas matas da Serra do Amolar, à espera de uma onça-pintada, de um veado, de uma jaguatirica ou qualquer outro bicho silvestre, que irão se tornar personagens das páginas da nova publicação.
Com seu olhar feroz e penetrante a onça-pintada foi capa do livro Terra Brasil. Quem será o próximo animal a merecer tamanha honraria ainda é um suspense. Vai depender do que Araquém captar com suas potentes bazucas, como ele costuma chamar as câmeras com lentes de 800 milímetros que carrega em suas expedições. O fotógrafo teve de pagar mais de 700 reais de excesso de bagagem nesta viagem de São Paulo a Corumbá. Além das lentes, ele traz como parceiro e assistente Leonello Concha, engenheiro paulista que se entrega agora à arte da fotografia. “O silêncio e a paciência são requisitos essenciais na espera, tudo é questão de frações de segundos, por isso não gosto de andar com gente que faz barulho”, acentua, entreolhando o companheiro Concha.
Além de fotografar, Araquém se dedica à dar aulas a novos fotógrafos de natureza em workshops marcados por todo o País. O próximo, ainda sem data, será ali mesmo na Serra do Amolar, cenário de seu novo trabalho.
‘A maior riqueza do País está na natureza’
Os livros de Araquém Alcântara servem como grito de alerta à preservação da vida silvestre do Brasil. Precursor da fotografia de natureza, o fotógrafo nascido em Florianópolis mas criado em São Vicente, litoral paulista, se preocupa com os rumos que estão sendo tomados pela política do meio ambiente. “A maior riqueza do País está na natureza, mas aqui não sabem explorar o ecoturismo, não regularizam a situação fundiária das unidades de conservação”, alerta. Estudos do Instituto Homem Pantanal (IHP) mostram que o avanço do plantio da soja em Mato Grosso aumenta a pressão no entorno, na zona de amortecimento, no norte do Pantanal, e compromete as nascentes do rio Paraguai e a planície pantaneira. “O Brasil infelizmente está desertificando, jogando fora seu patrimônio, o Pantanal é um país que precisa ser preservado”, destaca. De suas expedições ele também pretende extrair um vídeo documentário como legado às futuras gerações, junto com a Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, que engloba 276 mil hectares de terras pantaneiras.
Os urubus foram tema do seu primeiro ensaio
Araquém Alcântara prioriza a fotografia como expressão plástica e instrumento de transformação social, e hoje é um dos mais combativos fotojornalistas em defesa do patrimônio natural do País. É formado em Comunicação pela Faculdade de Santos, cidade onde foi correspondente dos jornais Estadão e Jornal da Tarde. Os urubus (e a miséria) de Santos e Cubatão foram tema de seu primeiro ensaio. Em sua vasta produção, constam 47 livros sobre temas ambientais, 22 livros em co-autoria, cinco prêmios internacionais, 32 prêmios nacionais, 75 exposições individuais, ensaios e reportagens para jornais e revistas nacionais e estrangeiros. Ganhou o Prêmio Dorothy Stang de Humanidade, Tecnologia e Natureza em 2007 e o Prêmio Jabuti com o livro Amazônia na categoria arquitetura, urbanismo, comunicação e artes em 2006. Possui fotos em acervos e galerias de vários museus internacionais, entre eles o Museu do Café, em Kobe, no Japão; o Centro Cultural Georges Pompidou, em Paris; o Museu Britânico, em Londres; e o Museu de Arte de São Paulo. (Agência Navepress)
Por: Da Redação