Um dia de campo realizado no assentamento 72, em Ladário, motivou a troca de experiências entre agricultores familiares sul-mato-grossenses e bolivianos. Os visitantes vieram de Puerto Soarez, especialmente das comunidades de Yacuses, Costanera e Guapuru, e passaram o dia nos lotes 38 e 39, visitando hortas em transição agroecológica. O interesse deles é produzir verduras, legumes e frutas sem o uso de agrotóxicos e de forma padronizada.
A demanda havia sido formalizada em abril, quando representantes de três instituições bolivianas estiveram na Embrapa Pantanal em busca de parcerias para desenvolver a agroecologia no Departamento de Santa Cruz de la Sierra. Eles representavam a Secretaria de Desenvolvimento Produtivo do Governo de Santa Cruz, a FTE (Fundacion Trabajo Empresa) e a Sedacruz (Serviço Departamental Agropecuário de Sanidade e Inocuidade Agroalimentar de Santa Cruz).
Além da equipe interna da Embrapa Pantanal, participou da primeira reunião o diretor do campus local da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Edgar Aparecido da Costa, representando o mestrado em Estudos Fronteiriços. Edgar também desenvolve projetos de estímulo à agroecologia nos assentamentos e é parceiro do pesquisador Alberto Feiden, da Embrapa.
NO CAMPO
Cerca de 35 agricultores familiares acompanharam as atividades no lote dos assentados Raimundo Nogueira Lima e Adalgisa de Oliveira Lima. O pesquisador Alberto recepcionou os visitantes. Professor Edgar Costa esteve com eles no horário do almoço. Também participaram o engenheiro agrônomo Leandro Henrique Jung, do escritório municipal da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), e o técnico em agropecuária Márcio da Silva, da Fundação de Meio Ambiente de Ladário.
O dia de campo utilizou a metodologia Intercâmbio de Experiências e começou com uma dinâmica em que todos os participantes fizeram uma roda, deram as mãos, se apresentaram e, ao final, afirmaram: “Eu aprendo, eu ensino”. Essa metodologia consiste em um encontro presencial entre grupos de agricultores para que eles descrevam os problemas que enfrentam e as soluções que encontram em seu dia-a-dia. A metodologia é uma adaptação do método “Campesino a campesino” [De agricultor para agricultor], desenvolvida na América Central.
Na horta do casal, os agricultores do assentamento e da Bolívia puderam ver de perto a produção de variedades de alface, cebolinha, coentro, agrião, couve, mandioca e outros produtos. Alberto teve a oportunidade de mostrar o plantio direto, que utiliza palha sobre o solo, funcionando como uma cobertura protetora.
Os bolivianos tinham dúvidas sobre o controle de pragas e doenças sem o uso de produtos químicos. Os assentados explicaram que utilizam inimigos naturais para esse controle, como o plantio de flores, que atraem alguns insetos e deixam de atacar as hortaliças. “No começo não é fácil. Mas nós estamos conseguindo e hoje somos reconhecidos por nossos produtos”, comentou o agricultor Ramão da Silva Pires, um dos integrantes do grupo Bem-Estar, formado pelos assentados que decidiram apostar na agroecologia.
Alberto Feiden orientou os bolivianos a introduzir o sistema agroecológico de forma gradual. Disse também que não adianta produzir esses alimentos apenas em busca de um lucro maior – até porque a filosofia agroecológica defende a prática do preço justo.
“A melhor forma de fracassar é entrar para o sistema orgânico esperando o sobrepreço. Quem entra no processo de transição deve estar preparado para vender o produto a preços do mercado convencional, ganhando na redução de custos e não no sobrepreço. O mercado convencional está pronto e é facilmente acessível. Já o mercado orgânico precisa ser construído e muitas vezes o custo do acesso a este mercado é maior que o sobrepreço”, comentou.
Os agricultores visitaram o lote de Osírio Bento da Silva e Maria Aparecida Leite da Silva, onde o destaque foi a produção de tomate. O técnico Márcio falou sobre os métodos utilizados para manejo e prevenção de doenças no tomateiro. Também puderam observar como a família usa a integração de diversas espécies para produzir biodiversidade e reduzir as populações de organismos não desejados.
Alberto e Edgar disseram que o próximo passo é promover uma oficina na Bolívia, com esse mesmo grupo que esteve aqui, para orientar sobre a produção de caldas naturais que são usadas no controle de pragas.
AVALIAÇÃO
Rene Salomon Vargas, diretor executivo da Fundacion Trabajo Empresa, disse que a visita foi parte da estratégia de responsabilidade social da empresa de cimento Itacamba. “A visita permitiu conhecer as atividades e princípios básicos da produção sob métodos amigáveis com o meio ambiente e que tendem a ser orgânicos no futuro. Puderam conversar diretamente com os produtores, que explicaram suas experiências, problemas e perspectivas”, afirmou.
Segundo Salomon, a experiência que a Embrapa tem na pesquisa e desenvolvimento de capacidades produtivas é importante para a produção da fronteira, “onde os campesinos e produtores em geral podem assimilar conhecimentos válidos para se desenvolver com relativo êxito”.
Por fim, Salomon aponta que “a geração de renda dos agricultores também é parte de um processo de formação responsável pela promoção da cultura e produção de hortaliças para os mercados de fronteira”. Essa integração entre fronteiriços tem sido bastante estimulada pelo programa de mestrado em Estudos Fronteiriços da UFMS.
São parceiros dos projetos a Embrapa Pantanal, a UFMS (através do mestrado em Estudos Fronteiriços), a Prefeitura de Ladário e a Agraer. O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) apoia a iniciativa. (Texto: Ana Maio / Informações da Embrapa Pantanal/Corumbá)
Por: Da Redação