Pontinhos felizes compõem a grande história de vida de Beatriz Bispo Urt ou simplesmente Beia. Minha mãe. E que mãe! Nunca escrevi sobre ela. Julgava desnecessário cobri-la de elogios. Dancei com ela uma valsa na formatura do ginásio de Ladário. Dancei com ela um bolero quando foi homenageada pelo grupo Bella Idade no SSCH. Beia gostava de dançar. E gostava de dançar mais ainda com seu par predileto, Otávio, meu pai. Disputavam os primeiros lugares nos concursos de dança do Ladário Atlético Clube. Beia gostava de cantar, de costurar, de preparar comidas deliciosas. Gostava de artesanato. Gostava de se vestir bem, de se pentear bem, de se apresentar bem, e até montou um salão de beleza em Ladário. Era devota de Nossa Senhora dos Remédios e pertenceu à Legião de Maria. Juntos, íamos à Missa do Galo para celebrar a passagem do ano. Juntos, fomos acampar na beira da represa de Jurumirim, em Avaré. Moramos juntos em São Paulo. E juntos praticamos a Arte Mahikari. Beia passou 27 anos de sua vida sem Otávio, vítima de ataque cardíaco em 1990.Mas não desistiu da vida. Morou com a irmã Biri em Natal e se divertiu na praia da Redinha. Juntos, passamos uma temporada em São Paulo. Celebramos um Réveillon juntos e brindamos com champanhe na avenida Paulista. Enfim, Beia sempre esteve presente nos melhores momentos de minha vida. Pontinhos felizes que na teoria do Eterno Retorno, de Nietzsche, compõem o que conhecemos por felicidade, porque gostaríamos que durassem para sempre. Neste 14 de dezembro, aos 93 anos, ela deu o último suspiro e se desligou serenamente deste mundo material, deixando dois filhos – eu e Margareth – sete netos, onze bisnetos, e como legado a herança de como viver com dignidade. Reorganizou-se como partículas de energia no infinito. “Foi uma referência como mãe de família, algo que está em falta nos dias de hoje”, definiu o diácono Victor, na sua oração de despedida na Capela Cristo Rei.
Por: Nelson Urt