Caças ou drones chineses que invadirem o espaço aéreo territorial de Taiwan serão considerados um “primeiro ataque”, alertou o ministro da Defesa de Taiwan na quarta-feira (5), enquanto a ilha busca intensificar suas defesas em resposta à pressão militar de Pequim.
O ministro da Defesa, Chiu Kuo-cheng, fez as declarações ao abordar os legisladores sobre as ameaças representadas pela recente onda de medidas de escalada da China, que viu aviões de guerra e drones chineses voarem perto da ilha autônoma.
Chiu não especificou como Taipei responderia se a aeronave do Exército de Libertação Popular violasse o limite territorial, definido como 12 milhas náuticas (22,2 km) das costas da ilha.
“No passado, dissemos que não seríamos os primeiros a atacar, o que significava que não dispararíamos o primeiro tiro sem [a China] disparar projéteis de artilharia ou mísseis primeiro”, disse Chiu Kuo-cheng.
“Mas agora a definição obviamente mudou, pois a China usou meios como drones. Portanto, ajustamos e veremos qualquer travessia de entidades aéreas [no espaço aéreo territorial de Taiwan] como um primeiro ataque”, disse Chiu durante uma reunião do Comitê de Defesa Nacional e Estrangeira do Legislativo.
No início deste ano, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, disse que os militares da ilha tomariam “contramedidas necessárias e fortes conforme apropriado” contra o que ela chamou de táticas de guerra da zona cinzenta chinesa, incluindo “assédio por drones”.
“Não daremos à China o pretexto para criar conflito. Não provocaremos disputas e seremos contidos, mas isso não significa que não iremos contrariar”, disse Tsai.
Pressionado pelos legisladores na quarta-feira, Chiu disse que os militares de Taiwan “definitivamente têm sua linha vermelha” quando se trata da defesa da ilha, e enfatizou que os militares lançarão “contramedidas” assim que a linha vermelha for ultrapassada, sem especificar qual é a linha vermelha e o que essas contramedidas serão.
A CNN entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores da China para comentar e agurarda resposta.
Taiwan fica a menos de 177 quilômetros da costa da China. Por mais de 70 anos, os dois lados foram governados separadamente, mas isso não impediu o Partido Comunista da China de reivindicar a ilha como sua — apesar de nunca tê-la controlado.
O líder chinês, Xi Jinping, disse que a “reunificação” entre China e Taiwan é inevitável e se recusou a descartar o uso da força.
As tensões entre Pequim e Taipei estão no nível mais alto das últimas décadas, com os militares chineses realizando grandes exercícios militares perto da ilha.
Após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan no início de agosto, a China intensificou as táticas de pressão militar na ilha, enviando caças através da linha mediana do Estreito de Taiwan, o corpo de água que separa Taiwan da China.
Durante décadas, a linha mediana serviu como uma linha de demarcação informal entre as duas, sendo raras as incursões militares através dela.
Mas Chiu disse que Pequim “quebrou” esse entendimento. Ele afirmou que Pequim “mudou o status quo” e está “estabelecendo um novo normal”.
A declaração de Chiu aumenta a complicada situação de segurança no estreito, após comentários recentes do presidente dos EUA, Joe Biden, de que os militares dos EUA defenderiam Taiwan se os militares chineses lançassem uma invasão da ilha democraticamente governada.
Sob a política “Uma China”, os EUA reconhecem a posição da China de que Taiwan é parte da China, mas nunca reconheceram oficialmente a reivindicação do Partido Comunista à ilha autônoma de 23 milhões de habitantes. Os EUA fornecem armas defensivas a Taiwan, mas permanecem intencionalmente ambíguos sobre se interviriam militarmente no caso de um ataque chinês.
Segundo a comunidade de inteligência dos EUA, a China está tentando ativamente construir um exército capaz de dominar Taiwan — mesmo diante do apoio dos EUA à ilha.
No início deste ano, o vice-diretor da CIA, David Cohen, disse que, embora os líderes da China prefiram obter o controle de Taiwan por “meios não militares”, eles querem que os militares do país tenham a capacidade de assumir o controle da ilha até 2027, caso tal decisão seja tomada.
*CNN Brasil