A onça pintada capturada na região da Serra do Amolar, em novembro do ano passado, e trazida para o CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) para curar as queimaduras sofridas no incêndio que atingiu o Pantanal, está prestes a retornar ao seu habitat. A soltura está programada para essa quinta-feira (21), no início da tarde, na mesma região em que foi encontrada. Antes, o animal passou pela última bateria de exames, foi pesada e ganhou um colar para monitoramento via satélite.
Os veterinários do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) montaram uma operação especial para os últimos procedimentos médicos e a soltura da onça. Na tarde dessa quarta-feira (20) o animal foi sedado e recolhidas amostras de sangue para exames. A pesagem mostrou uma recuperação excelente, na avaliação do responsável técnico do CRAS, veterinário Lucas Cazati. “Está com 87 quilos, praticamente dobrou o peso desde que chegou aqui”, conta.
A onça – um macho com aproximadamente dois anos de idade – chegou ao CRAS no dia 4 de novembro, após ter sido resgatada por equipes de organizações não governamentais que atuam no Pantanal. “Estava debilitada, anêmica, com queimaduras de segundo e terceiro graus nas quatro patas, e os exames revelaram ainda pneumonia difusa aguda por conta da aspiração da fumaça e a presença de um projétil alojado na região da costela”, conta Lucas.
Eram, na verdade, duas onças aproximadamente da mesma idade que foram resgatadas na mesma ocasião. A outra, também macho, não resistiu e morreu horas depois de chegar ao CRAS. No exame de necropsia foi encontrado um projétil de arma de fogo alojado próximo aos pulmões, o que pode ter contribuído para o óbito, na opinião de Cazati. Essa outra onça também estava com os pulmões bastante comprometidos pela fumaça, com queimaduras nas patas e debilidade.
A reabilitação
A onça sobrevivente permaneceu por dois meses e meio no CRAS, passou por quatro baterias de exames “que demonstraram gradualmente a melhora do animal”. Nesse trabalho os técnicos do CRAS contaram com apoio de instituições como a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e organizações não governamentais. As queimaduras nas patas foram tratadas com aplicação de ozônio e a cicatrização foi completa. “Já está de alta faz algum tempinho”, disse Cazati. Só aguardava o momento certo para retornar ao habitat. Enquanto isso, a onça consumia cerca de 7 quilos de carne por dia, demonstrando preferência por peixes.
A volta à Serra do Amolar acontecerá nessa quinta-feira (21) em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira). A onça volta com o dobro do peso e um acessório importante: um colar para monitoramento via satélite que vai permitir acompanhar seu deslocamento e saber se ela segue um padrão de atividade considerado normal para a espécie. O colar foi implantado pelo pesquisador da UFMS, Gediendson Ribeiro de Araújo, especialista no assunto, e será monitorado por pesquisadores do Cenap (Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos Carnívoros) e do IHP (Instituto do Homem Pantaneiro).
A coleira contém uma bateria e um chip que a cada hora emite um sinal, capturado pelo satélite e retransmitido ao software de monitoramento. “O sinal nos permite saber qual o percurso transcorrido pelo animal durante o dia, se tem se alimentado, quantas horas tem descansado”. Com base em dados de outros felinos da espécie, é possível saber se essa onça estará apresentando um comportamento considerado normal. A bateria deve durar cerca de um ano e meio.
*João Prestes, Semagro/Fotos: Edemir Rodrigues