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Consumo de antidepressivos deve ser controlado, dizem médicos

Cada vez mais as pessoas sofrem de depressão, e esse cenário requer atenção e cuidado. Tratar a doença com medicamentos não é uma simples decisão do paciente. Tem de ser uma necessidade indicada pelos médicos.

A comerciante Íria dos Santos, que deixou o Rio Grande do Sul para morar em Campo Grande, diz que a mudança não fez bem a ela. “Por uma semana fiquei fechada, não queria tomar banho nem me alimentar. É uma dor horrível, uma vontade de fugir”, relata.

Veio a irritação e a instabilidade emocional. Ela percebeu que além do mal-estar, a depressão estava prejudicando o convívio familiar. Foi preciso ter forças para mudar de vida sem mudar de cidade. “O que me ajudou foi o apoio da família. Eles entenderam quando eu não estava bem, e o tratamento psicoterapêutico me auxiliou muito a me encontrar de novo, além da busca do meu trabalho”, diz.

Já fazem onze anos de tratamento com remédios antidepressivos. Dois comprimidos diários que ajudam no caminho da recuperação, dia após dia. “A medicação entra como se fosse um elo de uma corrente que se quebrou. Só que depois de tanto tempo eu percebo que não consigo ficar sem medicação”, afirma.

Um estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria apontou que 23 milhões de brasileiros, cerca de 12% da população do país, precisam de algum atendimento em saúde mental. Deste índice, 3% sofrem com transtornos mentais graves e persistentes. Os problemas mais comuns estão ligados a depressão, ansiedade e transtornos de temperamento.

Para o psiquiatra Kleber Meneghel, presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Psiquiatria, são vários os fatores que podem desencadear uma depressão, a começar por uma predisposição genética. “Isso vai depender do quanto a genética é importante para cada indivíduo. Já alguns indivíduos vão necessitar de fatores externos impactantes para que se desenvolva a doença”, observa.

O médico reforça que diminuiu o preconceito em assumir a depressão. Com isso, as pessoas têm tido menos vergonha e receio em buscar ajuda. A industria farmacêutica também tem colaborado. Os medicamentos mais recentes acabam sendo mais eficientes no tratamento e provocam efeitos colaterais diferentes.

Aumento no consumo

A procura por calmantes e antidepressivos não para de crescer. Dados de uma consultoria que faz levantamentos na indústria farmacêutica revelam que entre 2006 e 2010, o número de antidepressivos vendidos saltou de 13,5 milhões para 18 milhões de caixas de comprimidos.

O aumento do consumo de antidepressivos fez com que a indústria farmacêutica apostasse na produção desses medicamentos. Há três anos uma farmácia vendia pouco menos de 30 marcas diferentes. Atualmente, são mais de 50, incluindo os genéricos. Com novas opções, a procura também cresceu. De janeiro a julho, as vendas subiram 30%.

A farmácia chega a vender mais de 200 caixas de comprimidos por mês de uma única marca de antidepressivo. Apesar das restrições, pacientes em situação de dependência chegam a tentar comprar o produto sem receita médica. “Elas arrumam desculpa, pedem com jeitinho, mas a Vigilância Sanitária exige que tenha receituário médico”, diz a farmacêutica Lívia Dias Costa.

Os especialistas alertam ainda para um hábito que também está se tornando comum: o de consumir calmantes. Tudo por causa do estresse: a sobrecarga de trabalho, a pressão por resultados e a falta de tempo acabam sendo as principais causas do problema. A necessidade de fazer muitas atividades em pouco tempo acaba sobrecarregando o corpo e a mente. Aos poucos os sintomas do estresse aparecem: dores musculares, insônia e dor de cabeça.

Profissões mais estressantes

A Associação Internacional de Controle do Stress e da Tensão fez uma pesquisa no Brasil para descobrir qual a profissão que mais sofre de estresse. O trabalho mais estressante é o do bombeiro militar. Em seguida, piloto de voo comercial, executivos de relações públicas e de grande empresas, e o fotojornalista.

Em Campo Grande, o Corpo de Bombeiros tem um centro de apoio biopsíquico social. Quem coordena o serviço é o tenente Edilson Reis. Ele explica que dos quase 500 militares que trabalham na capital, três estão internados por apresentarem problemas mentais, como a depressão. Seis seguem em tratamento. “Chega o momento em que o militar, devido à carga de trabalho e a responsabilidade de socorrer a tempo, decorre esse estresse”, diz.

A soldado Mara Lubas desde 2007 recebe o acompanhamento do centro de apoio. Ela ficou 37 dias internada após descobrir que sofria de depressão. “Eu estava na profissão que eu sonhava, tinha uma família estruturada, tinha contexto religioso estruturado. Só sei que meu mundo veio abaixo de uma hora para outra”, conta.

Mara diz que teve de mudar a rotina de trabalho: deixou de atender vítimas para se dedicar à parte administrativa. Mas a volta ao serviço teve de ser em um ritmo bem mais lento do que ela estava habituada. Para a sorte dela, a recuperação é ao lado do marido e também bombeiro Murilo Segato. Como a esposa, ele precisou passar pelo centro de apoio da corporação. Hoje recuperado, encontrou na esposa o estímulo para não esquecer do tratamento diário. “Cobro para ela tomar o remédio no horário certo, assim como ela faz”, diz Murilo.

A união de esforços ajuda no tratamento de um problema que vem de forma quase que inexplicável e que provoca muitos transtornos. “Todo dia é um dia de cada vez, senão não tem como. Percebo que eu tenho que melhorar, dar a volta por cima, mas é muito complicado”, conta Íria. (TV Morena)

 

Por: Da Redação

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