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‘Sábado do Papagaio’: iniciativa busca conscientizar crianças sobre o tráfico de animais

Casal de papagaio-verdadeiro no ninho (Foto: Jaire Marinho)

Simpático, falante e inteligente. Esse é o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), espécie de psitacídeo nativa do Pantanal que atrai a atenção por sua capacidade de vocalização, imitando a fala humana. Em virtude dessa habilidade, o tráfico de filhotes para venda é uma realidade no Mato Grosso do Sul, estado com grande população da espécie. De acordo com dados do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), de 2007 a 2011 foram resgatados 2.636 filhotes no estado, com média de 527 filhotes por ano, provenientes do tráfico.

“Vale lembrar que essa é uma parcela pequena dos filhotes de papagaios-verdadeiros retirados da natureza para abastecer o comércio ilegal de animais. Muitos morrem antes de serem apreendidos pela fiscalização ou antes de chegarem ao destino final”, afirma Glaucia Helena Fernandes Seixas, da Fundação Neotrópica do Brasil, doutora que pesquisa a ave há 16 anos.

De acordo com ela, o comércio ilegal é a maior ameaça à espécie e a conscientização é o caminho para a conservação do papagaio-verdadeiro. Para ampliar o conhecimento sobre essa ave, será realizado em 26 de outubro o ‘Sábado do Papagaio’, na Estação Natureza Pantanal, exposição interativa sobre a natureza pantaneira, mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em Corumbá (MS).

Entre as atividades programadas para o evento estão uma exposição de fotos sobre a espécie, produzidas pela pesquisadora Gláucia durante um projeto de manejo e conservação do papagaio-verdadeiro; um bate-papo com a pesquisadora contando suas experiências em fases de campo dessa iniciativa; além de sessões de teatro de fantoches com a peça ‘Nas Asas do Vento’. As crianças também terão diversas brincadeiras à disposição e poderão montar um papagaio de papel para levar como lembrança.

Para o administrador da Estação Natureza Pantanal, Gustavo Gaertner, o evento será uma oportunidade de sensibilizar tanto as crianças como os pais sobre a realidade do tráfico de papagaios. “Vamos aproveitar o mês das crianças para, de forma lúdica e divertida, falarmos do papagaio-verdadeiro, espécie que é nativa da nossa região. Nosso objetivo é aproximar a fauna e a flora pantaneiras das famílias que moram aqui”, explica. Para conhecer as plantas pantaneiras, as crianças poderão aprender com os painéis explicativos.

Essas ações de conscientização já fazem parte do calendário fixo da Estação Natureza (em agosto, por exemplo, foi realizado o ‘Sábado da Onça’) e já rendem bons frutos. A funcionária pública Fátima Feher leva há vários anos o seu filho João Mateus (7) ao espaço e afirma que o resultado é positivo. “Ele adora ir porque se diverte e aprende. Ele já incorporou esses conceitos de educação ambiental, coisa que nós adultos muitas vezes não tivemos oportunidade. Eu acho maravilhoso o trabalho que é realizado pelo pessoal da estação. Meu filho ama o Pantanal”, comenta.

É melhor prevenir do que remediar

A pesquisadora Gláucia conta que o seu trabalho para a conservação do papagaio-verdadeiro é realizado com dois focos: geração de conhecimento e conscientização da população. “É nessa segunda linha que estamos trabalhando no Sábado do Papagaio. Precisamos que as pessoas entendam a importância de se conservar essa ave”, destaca. Ela afirma que é difícil conscientizar as pessoas e o governo quando a espécie em questão não consta como ameaçada de extinção, como é o caso do papagaio-verdadeiro: “será que precisamos que ele entre em extinção para que as ações de conservação sejam colocadas em prática?”, questiona.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Pantanal mantêm 86,77% de sua cobertura vegetal nativa. Apesar disso, o órgão afirma que o bioma vem sendo muito impactado pela ação humana – principalmente pela atividade agropecuária – e que apenas 4,4% do Pantanal se encontra protegido por unidades de conservação.

Gláucia destaca ainda que, apesar de ocorrer em outros biomas, o Pantanal é muito importante para a conservação do papagaio-verdadeiro. “O bioma oferece uma peculiaridade interessante: as áreas mais fechadas, que são florestadas, proporcionam um ambiente adequado para a construção dos ninhos. Já as regiões mais abertas oferecem ampla opção de alimentação”, conta.

O projeto de conservação do papagaio-verdadeiro é realizado pela Fundação Neotrópica. A iniciativa tem o patrocínio do Programa Empreendedores da Conservação (E-cons), da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e do banco HSBC; do Parque das Aves de Foz do Iguaçu (PR) e do Refugio Ecológico Caiman, localizado no Pantanal Sul Matogrossense.
O papagaio-verdadeiro

Essa é uma espécie muito conhecida e que costuma atrair muita atenção por conta de sua capacidade de vocalização, imitando a fala humana. No Brasil, ele pode ser encontrado no Pantanal, Cerrado e Caatinga, mas também existe na Argentina, Paraguai e Bolívia. Essa ave precisa das florestas para se reproduzir, uma vez que é em árvores maduras e com grandes cavidades que ela constrói o seu ninho. Apesar disso, consegue se adaptar muito bem ao cativeiro, motivo que leva muitas pessoas a ter um exemplar da espécie como animal de estimação.

O papagaio-verdadeiro possui, em média, 36 cm e pesa 400 g. Sua coloração é verde com o bico preto, mas apresenta detalhes em azul e amarelo na cabeça e vermelho na junção das asas. Uma característica interessante da espécie é a monogamia: os papagaios escolhem um parceiro para toda a vida. Os animais vivem em casal ou em pequenos agrupamentos familiares e levam cerca de três a quatro anos para entrar em idade reprodutiva. Essa é uma espécie que vive longo tempo, tendo registros de indivíduos que atingiram 50 anos de idade.

“Apesar de viver em biomas ameaçados, o papagaio-verdadeiro não está na lista de animais em extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (ICUN) nem na lista oficial brasileira. Isso acontece por conta da sua grande capacidade de se adaptar ao meio e à sua vasta base alimentar, composta por frutas, sementes, grãos e flores”, explica Gláucia.

Serviço

’Sábado do Papagaio‘
Dia: 26 de outubro
Horário: das 14h às 18h
Local: Estação Natureza Pantanal, Ladeira José Bonifácio, 111 Porto Geral – Corumbá.
Mais informações: (67) 3231-9100
O evento é gratuito e não há necessidade de inscrição prévia para participar.

Sobre a Fundação Grupo Boticário

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.355 projetos de 465 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br, www.twitter.com/fund_boticario e www.facebook.com/fundacaogrupoboticario.

 

Por: Da Redação

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