Há mais de dez dias mantido sob efeito de calmantes e sem ingerir líquidos ou alimentos sólidos, o interno Leandro de Oliveira Ferreira, de 30 anos, morreu por volta das 11h e 45 min deste domingo, 13 de novembro, na enfermaria do presídio masculino de Corumbá. O resultado da autopsia assinada pelo medico legista da Polícia Civil Ricardo Chauvet foi conclusivo: desidratação e desnutrição (fome e sede).
Ele foi sepultado as 10h da manhã desta segunda-feira (14) com presença da mãe Maria Aparecida de Oliveira Ferreira e da irmã Eliane Oliveira, que cobraram justiça, “passamos o sábado com ele e pedia comida e água, mas estava muito dopado. Toda vez eu ele manifestava uma reação os enfermeiros aplicavam um coquetel de injeção nele. Depois disso ele não conseguia mais se alimentar, comer ou beber. Ele devia estar internado. Tomando soro. O que fizeram com ele foi uma desumanidade. Meu filho ia para o semi aberto mês que vem. Meu Deus que absurdo. Ele morreu na cela e ninguém fez nada. Quando chamaram a ambulância ele já estava morto. Foi tratado como um animal”, desabafou a mãe.
A comissão dos Direitos Humanos esteve no Presídio na hora do episodio e está investigando o caso. O juiz das execuções penais Anderson Royer conversou com os lideres das celas e evitou uma rebelião no presídio. Os internos mandaram as mulheres embora por volta das 13h , “eles iam quebrar tudo”, disse J.A.D mulher de preso, “por sorte o juiz conversou com eles e evitou o pior”. O diretor do Estabelecimento Penal Masculino de Corumbá Ednaldo Dias Lemos não foi encontrado na unidade prisional nesta manhã devido ao “feriado”. Não há informação oficial sobre o fato por parte da Agepen. Agentes informaram a reportagem do site que hoje estão de folga. Em primeiro momento o presídio havia noticiado sobre “morte natural”.
Entenda o caso
A Polícia Civil investiga o caso. De acordo com informações apuradas pela reportagem há mais de 15 dias o rapaz , vinha tomando doses altas de medicamentos controlados desde que foi tirar um “espírito”do corpo de um companheiro de cela ( cela 15 do solar 5). “Canela de Concreto”,como era conhecido, teria pego o “espírito”e passou a ficar incontrolável tendo que ser medicado com calmantes fortíssimos para conter a agressividade, com ordens do médico do presídio Fabio de Oliveira. Além disso ele não estaria se alimentando ha vários dias.
Segundo familiares que acionaram a imprensa na porta do presídio logo que souberam da morte do rapaz, “até foi para o hospital, mas deram medicamento e trouxeram de volta. Um psiquiatra veio aqui, mas não sei dizer se atendeu ele, na sexta-feira. Pastores fizeram orações, falaram que era espírito, mas tudo em vão”, disse a mãe do interno Maria Aparecida de Oliveira Ferreira, “ ele estava doente. Precisa de médico, de hospital, não de exorcismo. Mataram meu filho. Davam tanto tranqüilizantes que ele estava ficando bobo. Não falava, não reagia”, desabafou a senhora indignada. Segundo informações o jovem estava tomando a mesma medicação prescrita há dias e já chegou morto na enfermaria.
Polêmica
O presídio masculino de Corumbá esteve na mira da imprensa este ano e foi alvo de criticas por parte da sociedade. Um homem foi encaminhado para o hospital com pneumonia, mas morreu porque chegou com o quadro avançado. Em julho, logo após esta morte, o jovem Patrick de 19 anos, pediu para ir para a cela forte e se enforcou com o cadarço da própria bermuda em seguida o padrasto passou 24h trepado em cima de um caixa d’água, num frio de 12 graus , revoltado com a situação e cobrando atenção das autoridades para o problema da superlotação carcerária. Outro caso foi de um preso que se matou estourando os “miolos” apos bater a bater a cabeça várias vezes nas paredes da cela forte, também há poucos meses.
O presídio masculino de Corumbá tem a capacidade para 180 homens e abriga mais de 480. Um anexo está sendo construído e deve ser inaugurado em 2012. Quanto ao corpo de Leandro de Oliveira Ferreira ainda não foi liberado para sepultamento, o que deve ser feito após autopsia. A família junto com a Agepen estao tentando conseguir um caixão para sepultar o rapaz , pois são de Campo Grande.
Transtorno
Com o episódio inesperado as visitas tiveram que ser interrompidas até a saída do corpo para o IML. Centenas de pessoas tomaram toda chuva da tarde deste domingo na porta do Estabelecimento Penal Masculino. O almoço que geralmente entra até as 15h acabou atrasando a vida e quebrando e rotina do sistema prisional e das famílias, “além de estar toda molhada meu marido vai comer comida fria ”, disse M.A.O às 16h.
“Eu pensei que fosse rebelião. Fiquei apavorada com a movimentação”, disse outra jovem, também mulher de preso, “quero ir para casa”.
Por volta das 16h 30 min ainda havia varias pessoas na fila para entrar no EPC. O horário de visitas é das 9h as 15h mas, devido a morte do interno o horário foi prolongado. (Reportagem Capital do Pantanal)
Por: Da Redação