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Pesquisas avançam na descoberta de um indicador de consumo para o rebanho

Como saber o quanto o animal está consumindo de capim, tendo um fator exato para fazer esta medição? Uma pesquisa iniciada em 2013 na Embrapa Pantanal aponta a possibilidade do Caulim ser um potencial indicador capaz de oferecer esta resposta. A substância é o foco principal de estudo do projeto de pesquisa “Estimativas de consumo de bovinos a pasto utilizando o caulim como indicador fecal”, coordenado pelo pesquisador da Embrapa Pantanal Luiz Orcírio Fialho de Oliveira em parceria com Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (ASBRAM).

Luiz Orcírio explica que o consumo do ponto de vista técnico e cientifico, para a área de nutrição animal, é o fator que tem a maior correlação com o desempenho animal: quanto mais o animal consome, a chance dele se nutrir é maior, atendendo assim suas necessidades e melhora sua eficiência produtiva, reprodutiva, de ganho de peso, etc. Nós estamos propondo o seu uso para que ele sirva como um indicador de consumo. A proposta é o desenvolvimento de uma metodologia capaz de permitir estimativas práticas de consumo, tanto do ponto de vista científico quanto para aplicação prática a nível de campo.

Ainda segundo o pesquisador, a vantagem em utilizar o Caulim e não outros indicadores de consumo é por ele já ser utilizado regularmente pelas indústrias, como um ingrediente para complementar as fórmulas dos suplementos e, por ser inerte, que não reage e não é absorvido, sendo inclusive autorizada sua utilização pelo Ministério da Agricultura.

“Os procedimentos adotados atualmente não são eficientes pois permite apenas medidas indiretas ou no caso de suplementos das diferenças de peso entre o oferecido e as sobras diárias, o que permite estimativas coletivas de consumo e não individuais dos lotes de animais suplementados. Essa alternativa permitirá ajustes na composição dos produtos e significativa melhoria na eficiência do seu uso”, explica Orcírio. Segundo ele, os produtores questionam as empresas fornecedoras de suplementos principalmente quando os resultados esperados de desempenho não se concretizam – alegando possível falha no consumo dos suplementos, deixando a indústria sem alternativas de respostas. Não existe atualmente uma forma técnica que possa estimar a nível de campo o consumo individual de um suplemento, e a possibilidade do Caulim vir a ser este indicador de consumo, desperta grande interesse por parte da Indústrias de Suplementos.

Para estimar o consumo cientificamente, os nutricionistas utilizam os indicadores: substâncias que são administradas individualmente (no tronco dos currais) aos animais, e por não serem absorvidas, passam pelo trato digestivo e são totalmente excretadas nas fezes. Com a relação entre a dose diária administrada e a sua concentração nas fezes é possível estimar o volume de fezes excretada e pela indigestibilidade dos alimentos o seu consumo. Apesar de parecer complexo o procedimento matemático é simples, resta desenvolver uma metodologia com um indicador que seja administrado no suplemento, sem a necessidade de levá-lo diariamente ao curral – situação impraticável na fazenda.

Primeira etapa em fase de Validação

Segundo Orcírio, a primeira etapa do experimento foi realizada em baias na Escola de Veterinária da UFMS – requisito para os testes a campo, ou seja a sua validação em um ambiente controlado. Ao longo destes primeiros anos de estudo, a doutoranda da UFMS Caroline Bertholini, orientada pela professora Maria da Graça Moraes (UFMS), pelo pesquisador Luiz Orcirio e também pelo professor Henrique Jorge Fernandes (UEMS), trabalhou comparando as medidas estimadas pelo Caulim com as medidas estimadas pelo óxido crômico (indicador universal) e pela medida real (através da coleta total e individual de fezes dos animais nas baias). Estes resultados estão para ser divulgados na defesa de tese de Doutorado de Caroline, previsto para final de julho.

“Os resultados mostraram que é possível utilizar o Caulim como indicador, mas é preciso ainda um aprimoramento da metodologia. Estamos satisfeitos com o que conseguimos até o momento, pois os resultados apontam que o indicador é promissor, mas ainda serão necessários ajustes na metodologia analítica do caulim nas fezes.”

Após a validação do método, estão previstas mais duas etapas:

Resultados preliminares apresentados para a Indústria

Os dados preliminares da primeira etapa da pesquisa foram apresentados para um grupo de empresários do setor de Suplementação Alimentar e membros do Ministério da Agricultura e Produção Agrária (Mapa), durante uma reunião da ASBRAM, realizada em Campo Grande (MS) no último mês. Durante a palestra foram apresentadas algumas das possibilidades de utilização do Caulim, caso comprovada e validada a eficácia do uso do Caulim como um indicador de consumo de matéria seca.

Segundo Luiz Orcírio, na prática a tecnologia permitirá saber, por exemplo, quanto os animais estão consumindo individualmente dos suplementos, quando o mesmo é oferecido coletivamente (em cochos coletivos); se um suplemento proteico promoveu aumento de consumo de forragem fibrosa durante a seca – missão principal do seu uso e ainda comparar ou correlacionar as mudanças no desempenho animal, resultantes das estratégias da suplementação, entre outros.

Para o presidente da Asbram, Nelson Lopes, as empresas de suplemento são diretamente impactadas pela questão da quantidade de consumo de matéria seca ingerida pelo gado, e, na pecuária existe ainda uma grande lacuna quanto as metodologias mais precisas de avaliação desta ingestão, da eficiência alimentar e dos resultados proporcionados pelos suplementos. A descoberta de um indicador que venha responder estas questões é um dos motivos que levou a Associação a firmar esta parceria com a Embrapa e apostar neste projeto de pesquisa, mesmo ainda embrionário. “Parceiras como esta: Instituto de Pesquisa, Universidade e Empresas são muito importantes para toda a sociedade pois produzem benefícios para todos no país, temos que trabalhar juntos” concluiu Nelson.

Segundo Denise Gregório Cassab, Gerente Técnica da M-Cassab (empresa Associada da Asbram), o pecuarista não passa uma informação muito correta da quantidade de matéria seca, de pasto, que ele oferece ao seu rebanho, por não ter como calcular exatamente esta quantia. Uma ferramenta como esta, apresentada pela Embrapa, que possa auxiliar o produtor a obter esta informação correta é importante para que nós possamos aprimorar o nosso produto de suplementação.

Mário Renck Real, Diretor Técnico e um dos proprietários da Real-H, explica que as empresas são muito cobradas e acusadas de que seus produtos são os responsáveis pelos insucessos do produtor no campo. O problema é que, muitas vezes, o pecuarista olha muito para o número de cabeças de gado e não observa com cuidado o outro material vivo que alimenta e supre o rebanho, que é a pastagem. Conseguir desenvolver um marcador que permitisse à empresa demonstrar, de uma forma objetiva ao produtor, a verdadeira capacidade de suporte do pasto da propriedade, para então chegar a quantidade ideal de suplementação necessária para uma nutrição adequada dos animais.

Segundo o Fiscal Federal Agropecuário, Luiz Marcelo Kodawara, o Caulim já é utilizado nas formulações de variados produtos disponíveis no mercado, sendo um produto isento de registro no Ministério por não oferecer riscos à saúde ou ao meio ambiente. Caso venha a ser aprovada sua eficácia como um indicador, não viria a ter nenhum impedimento do ponto de vista sanitário para sua administração na alimentação de animais. (Informações da Embrapa Pantanal)

 

Por: Da Redação

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