Setembro, mês do aniversário de Corumbá, cidade histórica e habitada por um povo hospitaleiro, festeiro por natureza, e responsável por toda esta riqueza cultural. Cidade que há 237 anos iniciou esta longa e bela história, às margens do Rio Paraguai, um dos principais atrativos turísticos da cidade, habitada por famílias de pescadores, em sua grande maioria.
E foi justamente na margem direita do Rio Paraguai que surgiram os primeiros bairros como o Beira Rio, a Cervejaria e o Generoso. Muito difícil apontar um morador de um destes três bairros que ainda não se aventurou pelas águas do Rio Paraguai, em busca dos pintados, dos pacus, dos dourados, dos jaús, e tantas outras espécies de peixes, as principais fontes de renda destas famílias ribeirinhas.
Mas, esta região ribeirinha tem também artistas. Tem o Moinho Cultura, o Museu de História do Pantanal, a Casa Massa Barro, onde crianças, adolescentes e jovens transformam argilas em belas peças artesanais. Tem músico, tem pessoas que fabricam seus próprios instrumentos musicais. Tem a viola de cocho, o cururu, o siriri… E tem, quem sabe, uma das figuras mais ilustres da cultura corumbaense, responsável direto por toda esta arte que encanta não só a população local, mas todos que visitam Corumbá, Agripino Soares de Magalhães.
O ‘seu’ Agripino, como carinhosamente é chamado, é uma das figuras mais conhecidas na cidade. Aos 97 anos, o corumbaense que nasceu em Poconé no ano de 1918, se destacou como músico e construtor de violas de cocho. Foi ele que trouxe esta arte para Corumbá há 84 anos, quando deixou Cuiabá. E esta vinda para cá foi uma aventura pelos rios Cuiabá, São Lourenço e Paraguai.
Nas primeiras horas da manhã de quinta-feira, o ‘seu’ Agripino recordou uma pequena parte de sua trajetória. Foi num encontro que ele teve com o prefeito Paulo Duarte que visitou na sua residência, na Rua Brandão Júnior, na Cervejaria, acompanhado da primeira dama e diretora-presidente da Fundação de Desenvolvimento Urbano e Patrimônio Histórico, Maria Clara Scardini, e da vice-prefeita e diretora-presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, Márcia Rolon.
“Com 10 anos aprendi tocar a viola de cocho. Com 13 já cantava o cururu. Vim para cá e esparramei a viola de cocho. Acho que fiz umas 300”, contou ele a Paulo, Maria e Márcia. Casado com Maria Madalena de Magalhães, 87 anos, pai de 12 filhos, ele revelou que aqui, montou uma fábrica, construiu violas e mais violas de cocho, e ensinou muita gente.
A arte ele aprendeu com o avô e, aqui, formou muita gente. Entre os alunos, crianças do Moinho Cultural. O ‘seu’ Agripino é uma das únicas pessoas vivas no Estado, aptas a construir artesanalmente uma viola de cocho. Segundo ele, é necessário que a árvore seja cortada na lua minguante. Caso contrário, a madeira fica cheia de furos. Depois de escavado em forma de viola, o tronco recebe um tampo, o cavalete, as tarraxas e as cinco cordas.
A viola de cocho tem cerca de 70 x 25 cm de dimensão com 10 cm de espessura. “Antes, as cordas eram de tripas do bugio. Mas a caça foi proibida e hoje as cordas são de náilon mesmo”, disse. E foi um mestre. “Tinha gente que vinha até do Rio. Queria aprender a tocar. Ficava aqui uns 15 20 dias e ia embora com sua viola de cocho”, relembra. Ele só não sabe quantas pessoas apenderam esta arte com ele, foram muitas e, hoje, esta arte continua viva.
‘Seu’ Agripino já não fabrica e não participa das rodas de cururu e siriri. Com problemas de saúde, devido a uma queda, fica mais em casa. E foi lá que ele recebeu o prefeito Paulo Duarte, Maria e Márcia Rolon para um bate papo descontraído, regado a muito sorriso, principalmente do mestre em fabricar e tocar este instrumento que se tornou Patrimônio Imaterial Nacional.
“Estamos no mês do aniversário da cidade e nada melhor do que visitar pessoas que fazem parte da história de Corumbá, que ajudaram a cidade a desenvolver. O ‘seu’ Agripino é uma dessas pessoas. Ele é uma das pessoas mais importantes da nossa cidade, da nossa história, da nossa cultura. Devemos muito a ele”, ressaltou o prefeito.
Paulo, Maria e Márcia conversaram bastante com ‘seu’ Agripino e com ‘dona’ Maria. Foi uma oportunidade para conhecer um pouco mais da história de vida desse artista que, conforme o prefeito, tem contribuído, e muito, com o enriquecimento da cultura da maior cidade pantaneira.
Por: Da Redação