Corumbá

História de vida de Sonia Ruas recebe homenagem no Carnaval de Corumbá

Sonia Ruas encena o espetáculo Moinho in Concert e na calçada do Instituto Moinho Cultural em Corumbá (Fotos: Divulgação)

 

Sonia Ruas encena o espetáculo Moinho in Concert e na calçada do Instituto Moinho Cultural em Corumbá

O bloco Olodum Afro Reggae rende homenagem no desfile deste sábado de Carnaval, 9 de fevereiro, na avenida General Rondon, à ilustre corumbaense Sonia Ruas Rolon, precursora da dança clássica e contemporânea em Corumbá, diretora artística do espetáculo Moinho in Concert e ex-presidente do Instituto Moinho Cultural. Sonia desfila com uma comissão de frente formada por bailarinas da Companhia Juvenil de Dança Moinho Cultural, destaque no recente espetáculo Moinho in Concert. “A homenagem me emociona, me faz refletir e pensar em ficar mais perto de Corumbá, mais perto do Moinho Cultural, trazer mais contribuições”, afirma Sonia.

Em Campo Grande há 20 anos, Sonia coordena o grupo Fantasia, que une dança, teatro e canto e apresenta espetáculos de sucesso como “Humor na Terceira Idade”. Na Capital também comanda a Companhia de Dança da Uniderp. E ainda encontra fôlego para se dedicar às atividades em Corumbá no Instituto Moinho Cultural, onde atua como diretora artística do espetáculo Moinho in Concert.

Sonia é graduada em Artes Cênicas pela Uniderp e Pós-graduada em Dança para UCDB, além de possuir formação em Metodologia em Ballet (Niterói), Metodologia, Atuação e Direção pelo Centro Pró Danza da Escola de Ballet Nacional de Cuba e especialização em Dança Contemporânea e Dança Teatro.

Nesta entrevista, ela conta sua trajetória, desde o começo precoce aos 12 anos de idade na Rádio Difusora, onde narrava as crônicas escritas pelo radialista Clio Proença para o quadro “Janela Aberta para Cidade”, até os dias atuais com as aulas de dança para o grupo Fantasia, formado por 15 integrantes do Centro de Convivência do Idoso (CCI) de Campo Grande, e para a Companhia de Dança da Uniderp.

Esta é a primeira homenagem no Carnaval de Corumbá?

Não. Em 1991, fui homenageada pela Unidos do Arthur Marinho com o tema “Sonia Ruas, sua vida, sua arte – 10 anos de Son’Art. Na época, eu dirigia a academia de dança Son’Art Studium em Corumbá. Tinha um refrão assim: “Baila, baila, bailarina, abre a cortina dos seus sonhos”. Formamos uma comissão de frente com bailarinas que tirou a nota dez.

Como é a homenagem do Olodum Afro Reggae de 2013?

Na homenagem atual, o tema não sou eu, mas o que eu realizei, a história, porque eu brincava e brinco até hoje com o imaginário. Por que uma pessoa de 70 anos agüenta subir ao palco e dançar uma hora? Porque ele não é ele, ele é um personagem. É um personagem forte e jovem. Eles estão homenageando meus personagens, Ratinho, Patinho e outros, além de contarmos com as bailarinas da Companhia Juvenil de Dança do Moinho Cultural na Comissão de Frente.

Como tudo começou em Corumbá?

Trabalhei desde os 12 anos na Rádio Difusora. Aliás, comecei na rádio a cantar quando fiz 5 anos de idade, eu cantava todos os domingos no programa de calouros, Clio Proença tirava a chupeta da minha boca e falava, “canta, Sonia”. Com o Ademar Amaral (conhecido como Ramda Larama) fazíamos em conjunto o programa “Os brotos comandam”, ele veterano e eu com 12 anos, e outro programa “Quando as fofoqueiras se encontram”, com críticas ao prefeito da época que me traziam para ler. E declamava o Janela Aberta para a Cidade (crônica de Clio Proença).

O que a levou ao rádio?

Eu fazia aula de dicção e declamação com a professora Luci Bonilha, e isso me levou ao rádio. Estudava a arte do dizer. E assim fui para o rádio e cheguei até o teatro. Em Corumbá fui a primeira a ter uma academia de dança, mas eu sempre misturei com o teatro. Quando cheguei em Campo Grande fiz a faculdade de Artes Cênicas, ai me senti segura de mexer com o teatro.

Com o que você mais se identifica?

Em Corumbá comecei com a dança clássica. Me apaixonei pela dança contemporânea durante cursos em São Paulo. Sempre gostei de dança mais solta, com criação. Hoje sou professora de dança contemporânea. Era religioso o tempo de ir a São Paulo e Rio de Janeiro fazer cursos em janeiro, fevereiro e julho. Quem quer se formar tem de ir para os grandes centros, São Paulo, Rio, fazer bons cursos, buscar novidades. A gente tem de correr atrás. Eu sempre levei (para as aulas) minha filha (Márcia Rolon) desde os 7 anos. Às vezes até sem dinheiro para comer. Éramos pessoas humildes, com recursos medianos para baixo, tivemos de ralar.

Em certo momento, você largou para viver em uma fazenda no Pantanal. Como foi?

Fui por amor mesmo. Porque me apaixonei pelo Sebastião (Rolon) e larguei tudo para ir para o Pantanal. Já era formada, tinha 18 anos. Ele era o fazendeiro no Taquari. Eu formada em piano, em declamação, e radialista. Em Corumbá, eu participava de todos os desfiles, mas larguei tudo. Meus pais não se conformavam. Achavam que eu tinha ficado doida, largar tudo para ir para o mato. Só voltei depois que eu tive dois filhos (Márcia e Marcos Tadeu) e porque eles quiseram estudar. As primeiras letras eu ensinei para eles na fazenda. Márcia aprendeu a escrever no Taquari. Marcos Tadeu hoje é engenheiro e mora em São Paulo. Depois que voltamos tivemos outro filho, Sebastião Neto, que mora em Campo Grande, é advogado.

Há quanto tempo você dá aulas de dança para idosos?

Há 20 anos. O grupo Fantasia está formado faz quatro anos, mas muitos já dançavam comigo. Começamos por brincadeira, mas um professor decidiu transformar essa brincadeira em uma coisa mais séria, até que começamos a trabalhar artisticamente. Porque profissional não é só ganhar dinheiro, mas ter atitude e dedicação, com horários para ensaiar e tudo o mais, chova pau ou pedra. A gente até se surpreende pela idade, pessoas na faixa dos 60 a 70 anos, trabalhando como profissionais. São 15 pessoas, homens e mulheres. Apresentamos o espetáculo “Humor na Terceira Idade”, que une teatro, dança e canto, no Teatro de Arena e no Aracy Balabanian.

Como foi a criação do vídeoclip “Minhas mãos, meus pés”?

Na conclusão da pós-graduação na Uniderp, me pediram um trabalho que tivesse algo importante para a dança. E eu ressaltei que na dança o importante são as extremidades. São os pés e as mãos. E eu coloquei as extremidades quando estão sendo formadas, no caso de uma criança, e quando já estão cansadas, no caso de uma pessoa idosa. Então, eu filmei minha netinha Luana de um aninho com o meu pai Carlos Ruas, de 93 anos. É uma super recordação, foi o último trabalho onde ele (meu pai) aparece brincando com a última pessoa que entrou na família. Ele que já não gostava de tomar banho, corria pra tomar banho toda vez que tinha que receber a Luana. Parecia que ela , Luana, sabia que estava brincando com as mãos e os pés dele. Uma poesia de Jorge Linhaça diz: “Minhas mãos levam meus pés; onde os pés não alcançam; não se cansam dos balés; que os meus pés não dançam”. (Nelson Urt/Assessoria de Imprensa IHP/Moinho)

 

Por: Da Redação