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Famasul e pantaneiros pedem mudanças no Instituto SOS Pantanal

 

A organização não-governamental Instituto SOS Pantanal poderá ter seu nome modificado em virtude de remeter à ideia de que a região pede socorro e deverá acolher representantes de entidades e produtores pantaneiros em seu conselho. Essas foram as principais deliberações da reunião realizada nesta quarta-feira (20), na sede da fazenda e pousada Baia das Pedras, região pantaneira da Nhecolândia, entre representantes da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul), o presidente da organização, empresário Roberto Klabin, equipe da Expedição Pantanal e produtores da região.

Projeto do Instituto, a Expedição Pantanal percorre propriedades rurais pantaneiras a partir do objetivo de destacar as boas práticas do Pantanal, as quais não dizem respeito somente à relação do homem pantaneiro com o meio ambiente, mas dos pantaneiros entre si.

A reunião teve a presença de equipe da Famasul, liderada pelo presidente da Comissão da Pecuária de Corte da entidade, José Lemos Monteiro, e foi motivada pelo descontentamento dos proprietários da região com o desenrolar e a repercussão da iniciativa na mídia. No início da semana, o jornal Folha de S. Paulo publicou matéria de jornalista que acompanhou a abertura dos trabalhos da expedição, enfatizando que o Pantanal tem 17% de sua área desmatada e que “sofre com as ameaças de fora”.

“O pantanal tem 87% de sua cobertura original, ou seja, é o bioma mais preservado do País, e isso graças à presença do homem pantaneiro”, corrige Monteiro, mais conhecido com Zé Ito. Na reunião, realizada bem ao estilo pantaneiro, à sombra de uma árvore, os produtores foram francos ao expressar sua contrariedade à equipe. “As organizações já constituídas e entidades formadas por pantaneiros não foram contatadas e os proprietários estão se sentindo invadidos. Até porque o pantaneiro já viveu isso antes: recebeu pessoas de braços abertos e passou informações, mas o resultado foi embora com elas e de concreto não ficou nada”, sustentou o proprietário Nilson Barros.

Mas a maior reclamação dos produtores é mesmo em relação ao nome SOS Pantanal, que remete à idéia de destruição da região não só pelo ‘pedido de socorro’ como pela comparação com a Ong SOS Mata Atlântica, também encabeçada pelo empresário Roberto Klabin, com objetivo de defender o bioma. Segundo Censo Agropecuário do IBGE de 2006, a cobertura preservada de mata atlântica no País é de apenas 26,97%, condição bem diferente da encontrada no Pantanal, defendem os produtores. “Movimentos que trazem benefícios são bem-vindos, mas uma Ong com esse nome já nos deixa com o pé atrás, como se o Pantanal estivesse em risco”, enfatiza o presidente da União dos Pantaneiros da Nhecolândia (Unipan), André Coelho Lima Hofke.

Roberto Klabin se mostrou aberto ao reconhecer que entende as reclamações dos produtores e disse que fez questão de comparecer à reunião para demonstrar o princípio de total transparência da iniciativa. “Queremos conhecer mais a fundo as peculiaridades do Pantanal para melhor representar este ambiente”, assinalou o empresário, dono da Pousada Caiman, propriedade que abriga o projeto Arara Azul, voltado para a preservação da espécie. Além de se mostrar aberto a reavaliar o nome da Ong bem como a formação do conselho para a entrada de novos representantes, dentre eles a Famasul, Klabin afirmou que atesta os objetivos da Expedição Pantanal porque bancou financeiramente o projeto, junto com outros patrocinadores da iniciativa privada. “Não tem dinheiro internacional aqui. E queremos que ela (a expedição) seja uma conjunção de interesses para capitalizar o que temos de mais precioso”, sustentou.

Considerando também a conversa antecipada com a equipe da expedição, que segundo a coordenadora Lucila Egydio está aberta a mudanças, Zé Ito avaliou positivamente a reunião. “As apreensões dos proprietários pantaneiros foram compreendidas e nos foi afirmada a disposição de promover mudanças no sentido de atender a essas preocupações”, avaliou.

A Expedição Pantanal cumpre rota pela região do rio Paraguai de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, conversando com pantaneiros, de funcionários de pousadas e boiadeiros a fazendeiros, procurando levantar o modo de fazer das atividades realizadas na região. “A intenção é valorizar o que está dando certo e apontar as boas práticas que possam ser replicadas em outras regiões”, define Lucila. A previsão é de que até dezembro a equipe passe por entre 100 a 120 propriedades, uma amostragem que está sendo definida por meio de indicações, conforme as entrevistas vão sendo realizadas.

O pantaneiro

Desde os 17 anos morando no Pantanal, aos 75 anos o seu Jocy Reginaldo Coelho Lima pode ser considerado um típico proprietário pantaneiro. E como tal, se mostra preocupado com a visão que o homem urbano tem da vida pantaneira. “O pantaneiro não destrói nada. O povo dos gabinetes, do ar condicionado, tem que vir aqui olhar. Tá vendo algo destruído aqui?”, pergunta, abrindo os braços em direção à mata cerrada que chega até as proximidades da Baia das Pedras, fundada pelo pai em 1940 e que hoje pertence à irmã.

A pecuária pantaneira é a grande responsável pelo índice de preservação da região, avaliza estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Atividade introduzida recentemente na realidade pantaneira, o turismo aparece como complemento e se alimenta justamente das atividades pantaneiras como principal atrativo. “É uma atividade secundária, que não se mantém sozinha porque a sazonalidade das águas pantaneiras acentua a baixa temporada. Por isso, tanto a preservação como a sustentação econômica do Pantanal estão relacionadas à pecuária”, afirma Zé Ito.

 

Por: Da Redação