Ícone do site Pérola News

Experimentos atestam potencial de feijão biofortificado em Corumbá

Experimentos desenvolvidos pela Embrapa Pantanal em Corumbá (MS) confirmam a viabilidade de plantio do feijão biofortificado na região. Alimentos biofortificados são mais nutritivos, pois passaram por um processo de cruzamento de plantas da mesma espécie, também chamado de melhoramento genético convencional. Embora as pesquisas estejam completando cerca de dez anos no Brasil, na região de Corumbá os testes começaram apenas no ano passado. Mas são promissores.

José Aníbal Comastri Filho, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pantanal, conta que foram plantados quatro acessos de feijão BRS, cultivares disponibilizados pela Embrapa Agroindústria de Alimentos, e dois feijões comerciais no sítio Luz Divina no assentamento Taquaral.

“O objetivo era verificar a sua adaptação ao clima e aos solos dessa região. Como as amostras recebidas continham poucas sementes, esta primeira etapa foi conduzida com o objetivo de multiplicá-las para em seguida, após colheita, realizarmos a sua distribuição para outros produtores parceiros localizados em outros assentamentos, com a função de verificar a sua adaptação”, disse o pesquisador.

As variedades plantadas foram BRS Estilo e BRS Cometa, ambas do tipo carioquinha, e BRS Esteio, de feijão preto. As variedades comerciais foram: feijão Amendoim, muito cultivado no Espírito Santo, devido à sua boa produtividade, e Feijão Manteigão Vermelho. A pesquisa contou ainda com a introdução do BRS Xique-Xique, uma variedade de feijão de corda, também proveniente da Rede BioFORT. “É um feijão que está se adaptando muito bem às nossas condições, com alta produtividade e resistência a doenças”, aponta Comastri.

PESQUISA EM REDE

A Rede BioFORT, citada por ele, é coordenada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e reúne todos os projetos de biofortificação de alimentos no Brasil. O principal objetivo é garantir uma maior segurança alimentar através do aumento dos teores de ferro, zinco e vitamina A na dieta da população mais carente. A essência está em enriquecer alimentos que já fazem parte da dieta da população para que esta possa ter acesso a produtos mais nutritivos e que não exijam mudanças de seus hábitos de consumo, combatendo assim a fome oculta (termo que designa a carência de micronutrientes no organismo humano; ela afeta uma a cada três pessoas no mundo).

Para Marília Nutti, que lidera a Rede BioFORT e atua como pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), a região Centro-Oeste do país tem sido estratégica para o aumento da produção de biofortificados. Esse incremento ocorre graças ao fortalecimento de parcerias como as firmadas com a Embrapa Pantanal (MS) e com a Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), em Mato Grosso. “Ambas vêm desempenhando um importante papel de transferência de tecnologia nas comunidades locais. A Rede BioFORT mantém a expectativa de buscar também novas alianças para ampliar e facilitar o seu trabalho com os pequenos produtores”, afirmou.

De acordo com a coordenadora da rede, o Brasil é o único país que trabalha com uma gama alta de cultivares, sendo oito ao todo (batata-doce, trigo, milho, feijão, mandioca, feijão-caupi, arroz e abóbora). É de se esperar, portanto, que cada região nacional tenha potencial de plantio para no mínimo uma desses cultivares. Outros critérios utilizados pela rede para definir se determinada região tem potencial para o cultivo são os hábitos alimentares do local onde a tecnologia seria transferida e a quantidade de pessoas com insegurança nutricional.

Marília explica que a biofortificação consiste em um processo de cruzamento de plantas da mesma espécie, gerando cultivares mais nutritivos. “No melhoramento convencional, não ocorre incorporação de genes de outro organismo ao genoma da planta, sendo necessária a realização de repetidos cruzamentos até atingir o cultivar melhorado desejado.”

A pesquisadora afirma ainda que a introdução dos biofortificados no mercado tem sido impulsionada por políticas públicas. “Além delas, a Rede BioFORT vem identificando que muitos produtores estão comercializando seus cultivos biofortificados em feiras agrícolas”, falou. O custo de produção se assemelha ao cultivo de plantas convencionais, de acordo com Marília. “Em alguns municípios, o preço de venda pode variar dependendo do nicho de mercado e de certas particularidades utilizadas pelo pequeno produtor durante o plantio, como é o caso da produção orgânica”, disse.

CORUMBÁ

O pesquisador Frederico Lisita, da Embrapa Pantanal, que vem acompanhando os plantios, confirma que a variedade BRS Xique-Xique apresentou bons resultados na região. “Já estamos replantando para distribuir as sementes nos assentamentos”, disse ele. As variedades BRS Cometa e BRS Estilo (tipo carioquinha) são plantadas em abril ou início de maio, quando as temperaturas estão mais amenas. Como o ciclo é de três meses, a colheita ocorre em julho.

“O Xique-Xique dá mais catas. Colhemos a primeira em três meses e continuamos colhendo durante seis a sete meses”, afirma o pesquisador. Essa variedade de feijão de corda é pequena, mas chega a dobrar de tamanho se for colocada de molho, antes do preparo. Sobre a resistência às pragas, a Xique-Xique passou intacta no ano passado. Já as outras duas sofreram um pouco com pulgão, mas as caldas verdes conseguiram controlar o problema.

Confira, a seguir, a entrevista do pesquisador José Aníbal Comastri Filho sobre os experimentos com alimentos biofortificados na região:

Núcleo de Comunicação Organizacional (NCO): Como as sementes de feijão biofortificado chegaram à Embrapa Pantanal?

José Aníbal Comastri Filho: Após tomarmos conhecimento de como funciona a Rede BioFORT, entramos em contato com um dos seus participantes, o pesquisador Alexandre Mello, da Embrapa Hortaliças, e colocamo-nos como interessados e dispostos a fazer parte da Rede. Após os acertos finais sobre nossa participação, recebemos as sementes das variedades de feijão para teste. Marília Nutti é a líder do Projeto BioFORT na Embrapa Agroindústria de Alimentos e Alexandre Mello o nosso ponto focal para este assunto.

NCO: Quais são as principais características dessas culturas?

Comastri Filho: São alimentos largamente consumidos pela população brasileira, estando presentes nas suas refeições diárias. É muito importante para os cidadãos da região ter em sua mesa, no momento das refeições, produtos saudáveis. A essência desse trabalho é oferecer alimentos enriquecidos para a população com maior oferta de ferro e zinco para melhorar a resistência do organismo, garantindo o seu desenvolvimento saudável. No campo as cultivares mais promissoras que apresentam boas qualidades agronômicas, como boa produtividade, resistência à seca e a pragas e doenças, bem como boa aceitação no mercado, seguem para as etapas seguidas de melhoramento genético e multiplicação para posterior envio aos participantes da Rede.

NCO: Elas se adaptaram bem à região?

Comastri Filho: Sim. No momento da solicitação dos materiais já tínhamos informado a rede sobre algumas características do clima e dos solos da região; assim, os materiais já vieram pré-selecionados, evitando trabalhar materiais que não iriam se adaptar às condições locais. A adaptação das cultivares de feijão que nos foi enviada pelo representante da rede BioFORT foi muito boa e nos permitiu, após colheita, armazenar uma boa quantidade de sementes para o próximo plantio que deverá ocorrer em março/abril. Na realidade, o plantio destas cultivares está sendo realizado num dos lotes do assentamento Taquaral, localizado na Borda Oeste, parte alta da cidade de Corumbá.

NCO: Por que o plantio desses alimentos é interessante para a região pantaneira e quem pode se beneficiar disso?

Comastri Filho: Trata-se de alimentos ricos em nutrientes que atuam de forma positiva na alimentação saudável da população. Existem outras cultivares de outras espécies, como mandioca e batata-doce, que também fazem parte da rede de alimentos BioFORT e também são alvo dos nossos trabalhos na região. São culturas que apresentam níveis mais elevados de nutrientes como ferro, zinco e provitamina A. A ausência destes minerais e vitamina no organismo pode provocar anemia, baixa resistência orgânica e problemas de visão, etc. São produtos que devem fazer parte da mesa dos consumidores como alimentos saudáveis e também podem fazer parte da merenda escolar para melhorar a sua qualidade.

*Informações Comunicação da Embrapa Pantanal

 

Por: Da Redação

Sair da versão mobile