Corumbá

Comunidade agradece apoio e diz que Corumbá compartilha o sofrimento e angústia dos palestinos

 

Representantes da comunidade palestina de Corumbá lotaram o plenário da Câmara na noite de ontem, terça-feira, 28, para lembrar o 29 de novembro, Dia Internacional da Solidariedade com o Povo Palestino. O ato foi uma iniciativa do vereador e vice-presidente da Câmara Municipal, Samyr Sadeq Ramunieh (Qualhada), bastante elogiada por todos os presentes.

O presidente da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira de Corumbá, Wonder Suelman Safa, fez um agradecimento especial ao vice-presidente e demais vereadores corumbaenses que, por diversas vezes se mostraram solidários à causa palestina, pedindo o fim da guerra na Faixa de Gaza.

Lembrou que Corumbá, Cidade-Irmã do Município de Ramallah (Capital da Cisjordânia, sede da Autoridade Palestina), “compartilha das angústias e, sobretudo, anseios de paz na Terra Santa de toda a humanidade”.

Antes mesmo de iniciar a leitura de uma carta da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira em Corumbá e do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino, entidades fundadas na década de 1980, Adnan Haymour, membro da comunidade, pediu um minuto de silêncio pelas mortes de milhares de palestinos nessa guerra.

A entidade agradeceu Samyr e demais integrantes da Mesa Diretora e vereadores, pela “iniciativa cordial e solidária de mais uma vez dar voz à Comunidade Palestina que, com seu grão de areia e muita gratidão, tem dado sua modesta contribuição para o progresso e o bem-estar de Corumbá, Mato Grosso do Sul e o Brasil”.

A CARTA

“Com saudade e gratidão lembramos da memória dos saudosos prefeitos Ruiter Cunha de Oliveira e Fadah Scaff Gattass, e do vereador Jonas de Souza Ribeiro (então Presidente da Câmara Municipal) quando da aprovação e sanção da Lei Municipal de Criação do Dia de Solidariedade ao Povo Palestino, resgatada pelo prefeito Ruiter durante seu primeiro mandato de Prefeito Municipal, de saudosa memória. E com essa mesma gratidão, reconhecemos o empenho do prefeito Marcelo Iunes e dos atuais vereadores na manutenção desse resgate nas atividades institucionais dos Poderes Executivo e Legislativo municipais.

Gratidão e respeito são nosso sincero modo de corresponder pela acolhida generosa e a solidariedade sincera como temos sido confortados em nossa querida Corumbá, em Mato Grosso do Sul e, sobretudo, no querido Brasil, ao longo de nossa infindável Nabka, a tragédia palestina, desde 29 de novembro de 1947. Por essa razão, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1977, aprovou a resolução que institui o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Foi a forma como o concerto das nações encontrou como reconhecimento da Causa Palestina para que a despeito da diáspora seja preservado vivo o povo palestino e sua rica e milenar história, cultura, culinária, folclore e protagonismo.

O dia 29 de novembro de 1947, reiteramos, marca o início da tragédia palestina, pois, ao dividir o milenar território da Palestina começou a diáspora, o êxodo do Povo Palestino, que como apátridas, peregrinavam por todos os países do mundo. Isso, aliás, está bem visível no banner exposto com o mapa da Palestina de 1947 aos nossos dias: do território que nos pertencia soberanamente hoje nos resta menos de 10 por cento, e sem qualquer soberania e com o território descontínuo: nossa histórica Capital milenar, Jerusalém, dividida; Cisjordânia, a quilômetros de distância, e Gaza, na divisa com a República Árabe do Egito, nosso País- Irmão.

Para a propaganda (porque isso não é jornalismo) pró-colonial, os palestinos é que são “terroristas”, mas é evidente a política de extermínio e guerras de terra arrasada nos sucessivos massacres contra árabes- palestinos cometidos pelos sionistas depois de sua migração em massa oriundos da Europa (atentado ao Hotel King David em 1946, massacre de Deir Yassin em 1947, Guerra de Suez em 1956, Guerra dos Seis Dias em 1967, invasão do Líbano em 1976, massacre de Sabra e Chatila em 1982, violenta repressão à Intifada em 1988, destruição do Iraque em 1991, invasão e destruição do Iraque, da Líbia e da Síria entre 2002 e 2011, invasão e destruição do Líbano, da Cisjordânia e de Gaza entre 2005 e 2007, o massacre de Jerusalém em 2015 e agora o genocídio de Gaza, de 2023, em que mais de onze mil civis (bebês, crianças, adolescentes, mulheres, idosos, doentes, feridos e mutilados), além de um número desconhecido de soterrados, presos sob os escombros. Para o governo de Israel, nós não passamos de animais! Onde estão os Direitos Humanos, usados pelos Estados Unidos e Europa somente quando lhes convêm?!

Acolhidos com bastante hospitalidade e generosidade pelo povo brasileiro, nossa felicidade só não é maior por causa do drama, da tragédia sem fim, porque passam nossos conterrâneos, familiares e amigos em nossa Palestina, onde os mais poderosos exércitos do mundo despejam seus modernos armamentos sobre nossos bebês recém-nascidos, nossas crianças, adolescentes, mulheres, idosos, doentes, feridos e mutilados. Nossa população palestina tem sido cobaia de novas armas e tecnologias de guerra, repressão e extermínio.

A população corumbaense, sul-mato-grossense e brasileira de modo geral, é testemunha da índole pacífica, ordeira, laboriosa e civilizada de nossos conterrâneos palestinos desde que chegaram as primeiras famílias, no início do século XX, quando o patriarca da Família Urt chegou em Ladário, procedente da Cidade de Belém, na Terra Santa, onde nasceu Jesus de Nazaré.

Quem assistiu ao Globo Repórter da semana passada deve ter visto parte do legado árabe em território português, no município de Setúbal, Portugal, região preservada com muita ciência, bom senso e, sobretudo, respeito aos católicos que lá residiam e que foram respeitados em sua religiosidade. Assim, no tempo da Palestina árabe, os judeus eram respeitados e acolhidos quando migravam em massa à procura de proteção da perseguição europeia.

Ofende-nos muito que a imprensa chame a população árabe-palestina de “terroristas”. A história tem provas eloquentes das contribuições árabes para a civilização chamada ocidental. Enquanto a Europa era submetida ao feudalismo na Idade Média, eram árabes os cientistas, professores, sábios, filósofos, escritores, que protegiam não só os templos sagrados das três religiões monoteístas mais populosas da Terra como cuidavam das maiores bibliotecas existentes então, além de resgatar e divulgar o legado da Antiguidade Clássica e entregá-lo, durante o Renascimento europeu, em bandeja de ouro, para o progresso da humanidade.

Nos últimos dias pudemos ver que, graças à mediação dos países irmãos da Liga dos Estados Árabes (especialmente Catar e Egito), o Estado sionista acabou negociando, sob muita pressão dos Estados Unidos e da União Europeia, e além de dar início ao um cessar-fogo pequeno, mas necessário, foi possível fazer troca de prisioneiros palestinos (inclusive crianças, adolescentes e mulheres) por um refém. Essa foi a maneira que os governos árabes encontraram para pôr fim à violência contra a população infantil e feminina de Gaza.

Contra os mais poderosos exércitos do Planeta, só a persistência da Resistência Civil Palestina, jamais “terroristas”. É bom recordar algo que a grande imprensa ocidental não noticiou, como que houvesse censura na mídia: o jornal israelense, dos mais antigos, chamado “Haertz”, de Tel Aviv, denunciou que investigação feita pelo jornal com mais de 50 anos de existência, que foram pilotos do exército sionista os responsáveis pelo massacre de israelenses no dia 7 de outubro, pois eles não tinham lista de reféns e, na ânsia de tirar os eventuais ativistas de circulação, acabaram por mutilar, queimar e matar os israelenses na fronteira do território de Gaza, pois os combatentes que atacaram áreas militares dos invasores sionistas sequer sabiam da existência de um show nas imediações do maior quartel do poderoso exército sionista.

Fazemos uma breve pausa para, por iniciativa do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino, fazer uma justa homenagem póstuma ao nosso Irmão e Companheiro Jadallah Safa, verdadeiro mártir da Causa Palestina, em cuja estadia de quase 10 anos em Corumbá foi um dos responsáveis pela realização da Primeira Mostra da Cultura Árabe- Palestina entre junho e setembro de 1987 e pela criação do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino em novembro de 1987, e que doravante passa a ser seu Patrono. Jadallah Safa, presente!

Ao concluir, senhores vereadores, autoridades e senhoras e senhores presentes, nossa infinita gratidão pela solidariedade manifestada durante toda a nossa permanência neste paraíso que é Corumbá, coração do Brasil, cujo querido povo brasileiro tem sido um verdadeiro irmão a nos dar eloquentes provas de amor e generosidade ao longo de nossas vidas!

Obrigado Corumbá! Obrigado Ladário! Obrigado Pantanal! Obrigado Mato Grosso do Sul! Obrigado, Brasil! Obrigado, querido povo brasileiro!

Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira de Corumbá

Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino”

*Assessoria de Comunicação da Câmara