Carnaval e pesque e solte são dois grandes atrativos neste mês de fevereiro, em Corumbá, a maior cidade Pantaneira. A maior festa popular começa esta semana e atrai um grande número de turistas à região, inclusive adeptos da pesca que está liberada desde o dia 1º, atraindo pescadores esportivos dos mais diferentes estados brasileiros e até do exterior.
A liberação da pesca, na modalidade do pesque e solte, está prevista na Resolução Semac 024, de outubro de 2011, e só vale na calha do Rio Paraguai. Nas demais regiões do estado, a suspensão vai até o dia 28 de fevereiro, época em que os peixes sobem os rios em direção às cabeceiras para desovar, garantindo a reprodução das espécies e assim manter os cardumes.
Procedimentos corretos
A pesca no Pantanal é uma atividade muito procurada por quem deseja momentos de interação com a natureza, sossego, descanso mental e lazer. Mas nem por isso é uma atividade que dispensa regras e respeito, principalmente àqueles que é a parte mais importante da pescaria: o peixe.
Uma das tentativas de exercer a pesca de forma sustentável é o pesque e solte. Esta modalidade geralmente ocorre em locais definidos pela legislação, ou em períodos específicos nos quais há necessidade de proteger o peixe do abate.
Muitos pescadores acreditam que praticando o pesque e solte estão conservando a natureza. Porém, fisgar o peixe e submetê-lo a uma briga longa, por exemplo, pode levá-lo a um nível muito alto de estresse e/ou causar alguma lesão que resultará na morte do animal.
Os efeitos do manuseio, durante o pesque e solte, têm sido objetos de estudo nas diversas regiões onde a prática foi adotada. A Embrapa Pantanal, ao lado de parceiros, tem realizando pesquisas acerca dos efeitos do pesque e solte em peixes do Pantanal, visando avaliar a efetividade desta prática de manejo para a conservação dos estoques pesqueiros.
Conforme os pesquisadores, é um grande erro pensar que o peixe é resistente a tudo, e que pode ser pescado de qualquer maneira antes de ser devolvido à água. O pesque e solte precisa ser feito seguindo algumas regras, para que o peixe, ao retornar ao seu ambiente, tenha garantida a sua sobrevivência. Afinal, se não fosse assim, o pesque e solte não teria razão de existir como prática desportiva.
O pesque e solte é adotado fundamentalmente quando se quer garantir a diversão da pescaria, com vantagens econômicas e ecológicas, com a manutenção de um ambiente equilibrado.
Praticando de forma correta, um mesmo peixe pode ser fisgado várias vezes num mesmo período, permitindo que este peixe mantenha a capacidade de fugir de predadores, se alimentar, crescer e se reproduzir, o que não ocorreria caso ele fosse abatido, ou devolvido sem condições de sobrevivência ao rio.
Existem procedimentos corretos para a realização do pesque-e-solte que são conhecidos no mundo inteiro. Os anzóis apropriados para esta prática são aqueles que não têm farpas. Mas, os anzóis comuns podem ter suas farpas retiradas ou amassadas. Também só retire o anzol que estiver preso na boca do peixe ou nas regiões externas. Nunca tente recuperar o anzol que o peixe engoliu.
A briga com o peixe é o ponto alto da pescaria. Quanto mais uma determinada espécie de peixe resiste, mais ela é apreciada e alvo da pesca esportiva. Entretanto, o ideal é diminuir o tempo de briga com o peixe, pois a luta do peixe para escapar resulta em estresse ou alguma lesão séria, que pode comprometer a sua sobrevivência. O peixe estressado é mais suscetível a predação e a doenças.
O ideal é não retirar o peixe da água. Mas, como isto é necessário para a retirada do anzol, por exemplo, quanto menor for o tempo de permanência do peixe fora da água, maior será a garantia de sua sobrevivência.
Nunca coloque o peixe na posição vertical, pois isso pode causar lesões na coluna ou nos órgãos internos do peixe. A posição correta para o peixe é a horizontal. Deve-se evitar o contato direto com a pele do peixe, revestida por muco, que entre as suas muitas funções, tem ação contra fungos e bactérias. A retirada deste muco representa uma porta de entrada para doenças.
As brânquias são os órgãos responsáveis pela respiração dos peixes. Esta região é muito delicada e jamais deve ser tocada, pois o contato das mãos pode causar lesões e levar à contaminação por fungos e bactérias, resultando em diminuição da eficiência respiratória e doenças.
A soltura do peixe deve ser feita lentamente. O peixe não deve ser arremessado na água. Isto pode causar lesões no corpo do peixe e faz com que o animal fique cansado e desorientado e se torne uma presa fácil para outras espécies predadoras. Coloque o peixe na água, apoiando-o com as mãos por baixo do corpo para que se recupere lentamente e só saia quando estiver em boas condições e por conta própria.
Evite o movimento de vai-e-vem dentro da água antes de soltar o peixe. Embora alguns pescadores acreditem que este movimento reanima peixe, na verdade ele pode comprometer a respiração e o equilíbrio do peixe e, em vez de ajudar, vai atrapalhar a sua sobrevivência.
Seguindo estes procedimentos, as chances de sobrevivência dos peixes submetidos ao pesque e solte aumentam muito e esta prática torna-se efetiva na conservação e uso sustentável dos recursos pesqueiros.
As dicas fazem parte uma publicação da Embrapa, fruto de um trabalho realizado por Débora Karla Silvestre Marques, Mestre em Ciências Biológicas e Dra. em Genética e Evolução de Peixes; Roberto Aguilar Machado Santos Silva, Mestre em Patologia Animal (ambos pesquisadores da Embrapa Pantanal na época), e Ricardo Pinheiro Lima, biólogo (na época era o chefe do escritório do IBAMA em Corumbá/MS). (Texto/Fonte: Assessoria de Comunicação)