A segunda edição do UFC (Ultimate Fighting Championship) no Brasil ocorre neste sábado, a partir das 19h (horário de Brasília), na HSBC Arena, na Barra da Tijuca, em evento bem diferente do realizado há 13 anos, no ginásio da Portuguesa, em São Paulo. O UFC 134, ou UFC Rio, chega com uma megaestrutura que nem o Maracanãzinho, palco do vôlei na Olimpíada de 2016, teve condições de receber (foi vetado pois não suportaria o sistema de som e o telão).
No berço do MMA, além dos quase 15 mil fãs que esgotaram os ingressos em cerca de uma hora e meia, outros 300 mil circulavam pelo site da franquia em busca de um bilhete, como disse Vítor Belfort nesta sexta-feira, apesar dos preços entre R$ 275 e R$ 1600. Pela primeira vez no país, haverá transmissão em canal aberto. Se na década de 90 o vale-tudo era comentado em rodas de “pitboys”, hoje, do taxista ao executivo, qualquer carioca sabe quem são Anderson Silva e Rodrigo Minotauro.
O espetáculo é inteiramente direcionado para a televisão, afinal, a venda de pay-per-view e o reality show “The Ultimate Fighter” deram o impulso para que o evento idealizado pela família Gracie, no intuito de apontar a arte marcial mais eficiente, se tornasse o gigante que é hoje. São, em média, um milhão de assinaturas da transmissão para cada torneio. A importância do evento pode ser medida pelo fato de a própria Prefeitura do Rio ser o principal patrocinador estampado nos “backdrops” do UFC. Cada torneio da franquia movimenta, em média, de US$ 30 a US$ 40 milhões na cidade que o recebe. Na coletiva oficial, na quinta-feira, o secretário municipal de turismo e presidente da Riotur, Antônio Pedro Figueira de Mello, chegou a afirmar: “Nunca vi essa quantidade de gente pedindo ingressos”.
Seguindo um padrão dos grandes eventos internacionais, como o sorteio das chaves das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014 realizado em julho na Marina da Glória, o UFC chegou ao Rio com programação intensa durante uma semana, entre entrevistas coletivas e visitas à comunidades como a do Cantagalo. Não é apenas um card com lutas, há todo um “mise-en-scène” capaz de reunir cinco mil pessoas em Copacabana para ver os lutadores numa rápida encenação, divulgada como treino aberto.
É igualmente nítida a evolução dos lutadores. Se os Gracie pretendiam provar que o Jiu-Jitsu era a arte mais eficiente, objetivo conquistado nos primeiros UFCs, a transformação do vale-tudo em MMA, talvez iniciada por Marco Ruas (rival dos Gracie) no UFC 7, quando venceu as três lutas da noite com diferentes tipos de finalizações e nocautes, não permite mais a entrada de brigões de rua no esporte. O profissionalismo dos atletas é exigido e pago em altas cifras. Estima-se que Anderson Silva receberá algo entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões para defender o cinturão dos médios contra Yushin Okami, no Rio. O valor não foi divulgado oficialmente.
Os lutadores se mostram extremamente preparados. E não não apenas dentro dos ringues. Nas entrevistas, por exemplo, a pasteurização das respostas se aproxima do futebol, que já enxergou no MMA um novo nicho para os clubes. Silva é patrocinado pelo Corinthians, Rodrigo Minotauro pelo Internacional, enquanto Vítor Belfort e José Aldo, que não lutarão no UFC Rio, torcem por um patrocínio do clube do coração, o Flamengo. Belfort chegou a brincar: “Estamos available (disponíveis). Show me the money! (Mostre-me o dinheiro)”.
Eles repetem, à exaustão, as mesmas respostas, sempre em tom educado, evitando ao máximo as provocações, com raras exceções como a polêmica entre Anderson Silva e o norte-americano Chael Sonnen. A julgar pelo vídeo transmitido no telão durante a pesagem nesta sexta-feira, a rivalidade também serve ao espetáculo, desde que controlada. O clipe mostrava Sonnen, que perdeu para Silva no quinto round do UFC 117 após dominar o combate (o brasileiro alega que lutou com uma costela trincada), treinando o japonês Okami e zombando do campeão dos médios.
Tudo é explicitamente calculado, há um limite claro. Incitar a raiva do público está fora de questão. Depois de fazer piadas sobre o Brasil e Anderson Silva, Sonnen, vaiado até mesmo aparecendo em uma tela, teve sua vinda ao Rio vetada pelo seu patrocinador. Oficialmente, o UFC nada teve a ver com a decisão, mas não é difícil prever o estrago que faria à imagem do evento, que lutou para se desvencilhar da violência de rua, um incidente envolvendo o americano e um torcedor brasileiro, por exemplo.
A mídia, como em todos os grandes eventos internacionais, é tratada a pão de ló. Em absolutamente todos os acontecimentos relacionados ao UFC, não há quem saia do palco ou da frente dos microfones sem agradecer a presença dos jornalistas de várias partes do mundo. Além de credenciais para alguns dos melhores assentos disponíveis na arena, quem participa da cobertura do evento tem direito a regalias como um jantar antes do início do UFC Rio, que tem previsão de término para 1h de domingo. A sala de imprensa é equipada com telas avantajadas e estrutura para dezenas de profissionais.
O UFC Rio começa a partir das 19h deste sábado na Arena HSBC com o card preliminar transmitido pelo canal Combate. Já as lutas do card principal terão início às 22h com transmissão ao vivo da RedeTV. (IG)
Confira abaixo a programação completa das lutas:
Card principal:
Anderson Silva (BRA) x Yushin Okami (JAP)
Forrest Griffin (EUA) x Mauricio Shogun Rua (BRA)
Antonio Rodrigo Nogueira (BRA) x Brendan Schaub (EUA)
Edson Barboza (BRA) x Ross Pearson (ING)
Luiz Cane (BRA) x Stanislav Nedkov (BUL)
Card preliminar:
Spencer Fisher (EUA) x Thiago Tavares (BRA)
David Mitchell (EUA) x Paulo Thiago (BRA)
Erick Silva (BRA) x Luis Ramos (BRA)
Dan Miller (EUA) x Rousimar Palhares (BRA)
Felipe Arantes (BRA) x Yuri Alcantara (BRA)
Yves Jabouin (CAN) x Ian Loveland (EUA)
Raphael Assuncao (BRA) x Johnny Eduardo (BRA)
Por: Da Redação