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Primeira-dama de Campinas é chefe do esquema, diz ex-presidente da Sanasa

Um relatório entregue de forma anônima na noite de domingo (22) à EPTV mostra como um dos maiores esquemas de fraude já visto na história de Campinas foi montado. Segundo as investigações do Ministério Público, as negociações eram feitas no Palácio dos Jequitibás, sede do Poder Administrativo da cidade. O material apresenta informações detalhadas de como tudo acontecia nos bastidores do poder público, envolvendo diretamente a primeira-dama de Campinas, Rosely Nassim Santos Jorge.

As denúncias de fraudes foram confirmadas em janeiro deste ano, pelo ex-presidente da Sanasa, Luiz Augusto de Aquino. Engenheiro eletrônico, Aquino começou a fazer parte do episódio quando assumiu a presidência da empresa em janeiro de 2005. Ele ficou no cargo até julho de 2008. O esquema, segundo o ex-presidente, começou no primeiro ano de sua gestão. Para não ser preso, Aquino se beneficiou da delação premiada.

Segundo a versão dele, a coordenação geral do esquema ficava com a esposa do prefeito de Campinas e também chefe de Gabinete, Rosely Nassim Jorge Santos. O diretor técnico da Sanasa, Aurélio Cance Junior, era responsável pela arrecadação de dinheiro de obras. Luiz de Aquino cuidava do valor que entrava nos contratos de serviços prestados à Sanasa. Já os diretores comercial José Elias Marin e administrativo financeiro Luiz Landes da Silva Pereira não participavam da arrecadação, mas evitavam qualquer impasse no negócio. Meses depois do início do esquema, Landes deixou a Sanasa, e foi substituído por Marcelo de Figueiredo, que além de participar do esquema, também recebia o dinheiro.

Luiz de Aquino optou pela delação premiada e deu detalhes da negociações das fraudes

Todos esses detalhes estão nos documentos entregues à EPTV, onde está o depoimento de Aquino ao Ministério Público, além de parte das transcrições telefônicas de grampos feitos pelos promotores e os motivos que levaram o juiz a determinar a prisão de 20 pessoas de empresas que tinham contratos com a Sanasa, secretários municipais e até o vice prefeito da cidade.

O esquema, relatado por Aquino, começa ainda antes da publicação de editais de licitação da Sanasa. A chefe de Gabinete, Rosely Santos, decidia qual seria a empresa vencedora. Cabia então a Aquino e Aurélio Cance Junior fazer a negociação. A Sanasa pagava o valor total da obra e de 5% a 7% da quantia, que eram devolvidos, por fora.

Ainda durante depoimento dado à Promotoria, o ex-presidente da Sanasa explica como ficava a situação das empresas que não aceitavam fazer parte do esquema. Nesses casos, a empresa era avisada de que a licitação já tinha dono e era deixado claro quem mandava no negócio, a data da concorrência era adiada e depois confirmado o resultado da empresa escolhida. Uma forma de pressionar outros empresários a fazerem parte do esquema.

De acordo com Aquino, isso aconteceu com obras muito importantes em Campinas, como as feitas pela construtora Camargo Correia da Estação de Tratamento de Esgoto do Anhumas, uma das maiores bandeiras desta administração municipal. Com ela, a cidade passou a ter, em 2007, 65% do esgoto tratado na cidade.

Foi também em um suposto acordo de repasse irregular de dinheiro que os moradores do Parque Oziel e Monte Cristo passaram a ter redes de esgoto através de um serviço feito pela empresa Saenge. A empresa Constran também ganhou a licitação de forma fraudulenta para as obras de combate a enchentes na Avenida Princesa D’Oeste. Todas as informações foram passados pelo ex-presidente da Sanasa ao MP.

Pelo depoimento de Aquino, neste caso específico, o próprio Cance Junior e Marcelo de Figueiredo iam à sede da empresa buscar o dinheiro. Segundo ele, quem passava a quantia combinada era José Carlos Bunlai.

Bunlai já esteve envolvido em outras denúncias de corrupção. A Revista Veja citou na edição de março deste ano o pecuarista como “amigo do peito do ex-presidente Lula e especialista na arte de fazer dinheiro – inclusive em empreendimentos custeados com recursos públicos”. Ele teria montado o consórcio de empresas que venceu o leilão para construir a terceira maior hidrelétrica do mundo, a de Belo Monte.

Luiz de Aquino cita também outras licitações fraudadas com as empresas Hydrax, Lotus, Infratec, Pluriserv e Global. Todas com a Sanasa. De acordo com Aquino, todo o valor repassado a ele, a Cance Junior e a Marcelo de Figueiredo nas negociações eram entregues à Rosely Santos.

O dinheiro era entregue em três endereços: na própria prefeitura, no escritório da Nova Campinas – endereço da transportadora da primeira-dama – e na residência dela. Muitas vezes, o empresário Ricardo Candia, ex-diretor de controle urbano da prefeitura, ia junto com Rosely Santos receber o dinheiro. O valor era conferido na presença de Aquino.

O depoimento de Aquino impressiona pela quantidade de detalhes, de citação de nomes, locais e principalmente valores, muitos deles negociados também com os lobistas Emerson de Oliveira e Mauricio Manduca, que estão foragidos da Justiça. Neste caso, 25% do valor ficavam com eles e o restante com a Sanasa.

Mas algumas divergências com este grupo específico surgiram. Aquino não quis mais fazer parte do negócio e começou a ser ameaçado, como conta ao Ministério Público, e passou a andar com seguranças, mas ainda teve relações com os lobistas até 2008. Na época, a primeira-dama se reuniu com Aquino em seu gabinete e disse que ele “teria que deixar o cargo por exigência dos lobistas”.

Depois disso, fica a dúvida: o esquema teve continuidade? E se teve, como acaba a história?. Apesar de assumir que pode ter se confundido na ordem dos fatos, o ex-presidente da Sanasa, Luiz de Aquino, encerrou seu depoimento à Promotoria da seguinte forma: “obviamente, face ao volume de informações, posso ter cometido algum equivoco quanto à cronologia dos fatos, mas não quanto aos fatos em si”.

 

Por: Da Redação

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