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BC só baixará juros quando tiver certeza de que a inflação está em trajetória estável, dizem economistas

 

Os indicadores econômicos divulgados nos últimos dias pressionam o Banco Central (BC) para iniciar um ciclo de corte de juros. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano — patamar mantido pela autoridade monetária desde agosto de 2022.

No dia 7 de junho, o Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), e surpreendeu os analistas de mercado. O índice oficial da inflação do país desacelerou para 0,23% em maio.

Em abril, o IPCA marcou alta de 0,61%, desacelerando em relação ao avanço de 0,71% de março. Em maio de 2022, a variação da inflação havia sido de 0,47%.

Porém, na visão de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, a autoridade monetária só dará início ao processo de cortes na taxa de juros quando tiver certeza de que a inflação está em trajetória estável e em direção à meta.

“As expectativas ancoradas e sem grandes choques podem mudar a rota no meio do caminho. Choques positivos quanto negativos podem alterar esse cenário e suas respectivas probabilidades”, avalia o economista.

Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama e professor do Ibmec-RJ, diz que a inflação de maio foi menor do que o mercado aguardava. Além disso, os índices medidos pelos IGPs da FGV estão favoráveis a uma mudança de direção do BC.

Referente aos indicadores que mais impactaram neste cenário no Brasil, Espírito Santo vê uma tendência para a queda de juros.

“Para os consumidores, os preços dos alimentos, bem como de combustíveis, que a Petrobras vem reduzindo. A safra agrícola foi recorde, isso alivia muito o orçamento familiar e era um grupo que vinha sofrendo bastante lá atrás. Ademais, o Boletim Focus vem mostrando nas últimas semanas uma maior ancoragem de expectativas.”

Cenário interno

Algumas ações da equipe econômica do governo federal pressionam ainda mais a autarquia monetária do Brasil. O novo corte da Petrobras nos preços da gasolina, anunciado na quinta-feira (15), somado a um dólar consistentemente mais barato, está alimentando uma nova leva de revisões para baixo nas projeções de economistas para a inflação de 2023.

Alguns bancos e corretoras já falam até em um resultado que pode ficar em 5% ou abaixo disso até dezembro.

Outro indicador que mostra uma desaceleração nos preços é o Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M). O último dado recuou 1,95% na primeira prévia de junho, após cair 1,13% na mesma leitura de maio, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV).

A contração foi puxada por deflação do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), que recuou 2,74%, ante queda de 1,74% no mesmo período de maio.

Sung diz que desde a última reunião do Copom, realizada no início de maio, a inflação continuou dando sinais de arrefecimento e, diante de uma redução do risco fiscal, a taxa de câmbio passou a ser negociada abaixo dos R$ 5,00.

“Além disso, as expectativas melhoraram e as taxas das longas da curva de juro futura começaram a cair.”

Para ele, o BC não está somente preocupado com a inflação corrente, mas, principalmente, com a inflação futura.

“Se os agentes econômicos enxergarem uma inflação maior amanhã, hoje eles já incorporam este aumento nos seus contratos, nos salários e nos preços.”

Ao observar o Boletim Focus, que serve de parâmetro para os modelos do BC, o economista percebe que as expectativas para 2023 estão caindo relevantemente nas últimas semanas e, para 2024, há uma queda marginal.

“Além disso, o mais importante, as expectativas de longo prazo finalmente começaram a ceder. Após ficarem estáveis em 4% por várias semanas, o mercado passou a ver uma inflação de 3,90% para 2025 e 3,88% para 2026.”

Nos últimos comunicados, o Banco Central ressaltou a preocupação com as expectativas do IPCA para períodos mais longos. Sung pontua que essa primeira queda é um bom sinal.

“É importante que essa tendência continue para que a autoridade monetária se sinta confortável para iniciar o ciclo de cortes na taxa de juros.”

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research

Ele destaca alguns fatores que explicam essas quedas. “Os últimos dados de inflação, principalmente o de maio, levaram a uma revisão para baixo da inflação para 2023-24; a baixa probabilidade de termos mudanças nas metas de inflação na reunião do CMN; e a redução do risco fiscal com a aprovação do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados.”

Pontou também que a atividade econômica começa a sentir mais os efeitos das altas de juros, o que deve ajudar a aliviar pressões sobre os preços, apesar da resiliência do mercado de trabalho.

“O mercado de crédito continua desacelerando. Tanto o estoque quanto as concessões de novos créditos estão caindo na comparação mensal e anual.”

Trajetória da Selic

Espírito Santo diz acreditar em manutenção na reunião da próxima semana, porém espera que o Copom já deva dar indícios no comunicado que o ciclo de queda está mais próximo.

“Nossa expectativa é que a queda se inicie em agosto, com queda de 25 pontos. Depois teríamos outra queda de 25 pontos e mais duas de 50 pontos, encerrando o ano em 12,25%.”

De acordo com o Banco Central, esse cenário já era esperado diante de uma política monetária bastante restritiva, monitorando o elevado nível de endividamento das famílias e os problemas que isso pode gerar para o sistema financeiro.

Diante disso, Sung diz ver sinais de que a situação atual é melhor do que meses atrás para o BC. A inflação vem cedendo — mesmo em ritmo lento —, o cenário internacional está menos deteriorado, a concessão de crédito e atividade econômica vem desacelerando, e as expectativas de inflação para horizontes mais longos começaram a cair.

“Logo, acreditamos que se abriu uma janela de oportunidades para que o Copom comece uma discussão sobre cortes na taxa de juros. Ficaremos de olho no comunicado desta reunião, pois poderá nos dar mais pistas sobre os próximos passos.”

Sung mostra que, em seu cenário base, a perspectiva é de um primeiro corte em agosto, de 0,25 pontos percentuais.

“Podemos ver mais duas reduções da mesma magnitude e, por fim, na última reunião do ano, em dezembro, um corte de 0,5 p.p., levando a Selic para 12,50% a.a. em dezembro.”

*CNN Brasil