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Até sempre, querida Helô!

Estimado(a)s Amigo(a)s,

Com profundo pesar, repasso a triste e indesejável notícia do falecimento da querida Amiga Helô Urt, hoje, às 17 horas, no Hospital de Corumbá, onde havia sido internada ontem à noite por causa de um mal-estar súbito.

A agora saudosa Companheira de luta e de Vida, aguerrida e guerreira como poucas em nossa terra, foi batizada com o nome Heloísa Helena da Costa Urt, nunca tendo negado sua ascendência palestina de militância inesgotável. Como poucas de sua geração ousou transgredir as normas impostas pela hipocrisia de plantão, no auge do período de trevas que infelicitou toda a América Latina, marcando sua existência por atitudes contundentes nem sempre simpáticas, mas autênticas e corajosas. Quem, entre os que tiveram o privilégio de viver naqueles anos, não se lembra da linda e aguerrida professora que estimulava seus alunos com os mais puros questionamentos? Dá para esquecer a singular dirigente estudantil, nos tempos do “Diretório Acadêmico Dom Aquino Corrêa” (DADAC), que desafiava docentes e autoridades para abrir os horizontes dos acanhados colegas de universidade e fazer valer o ambiente universitário, com filmes, recitais, saraus e toda sorte de eventos culturais, tão temidos pelos gendarmes de plantão nos obscuros tempos do arbítrio e da tortura? Pois ela, em tenra idade, decidiu abandonar o magistério afrontando os engomadinhos da época com iniciativas extraordinárias, levando a cultura à praça, seja como artesanato alternativo ou como sua saudosa galeria de arte “Corumbarte” na mais badalada avenida de Corumbá, defronte ao Rio Paraguai. Não por acaso, nessa época, reuniu amigas ousadas como ela (entre as quais a querida Marlene Peninha Mourão) para conhecer a Europa e colocar por terra o discurso dos colonizados de que o Velho Continente é um pedaço do paraíso e que seu habitantes são seres dotados de superioridade nata. Essa mesma guerreira de causas justas e nobres, num tempo em que ser de esquerda era uma heresia, teve a coragem de ser uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores em Ladário, mais tarde ampliando a sua militância a Corumbá, como uma mãezona de todo(a)s o(a)s despossuído(a)s, muito(a)s do(a)s quais jamais demonstraram gratidão. Sem medo ou titubeio esteve igualmente nos momentos mais difíceis da existência do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino, da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida em Corumbá e Ladário, do Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário (FORUMCORLAD), do Pacto Pela Cidadania (Movimento Viva Corumbá) e da Organização de Cidadania, Cultura e Ambiente (OCCA) e do Comitê Corumbá Pela Paz, sempre unindo sua voz e sua coragem para as causas justas e nem sempre compreendidas pela mediocridade reinante e pelos mandarins de plantão.

Com seu jeito peculiar de ser e de agir, desenvolveu com altivez — e muita polêmica, é verdade — os cargos que conquistou com mérito e dignidade. Foi a primeira presidente do Conselho Gestor de Saúde do Hospital de Caridade. O mais recente deles foi o de gestora das políticas culturais do município de Corumbá, cuja dedicação exemplar a fez colocar em segundo plano, como de hábito, sua saúde e seus compromissos pessoais.

Em meu encontro derradeiro com ela, na Praça Generoso Ponce, em Corumbá, no dia da abertura dos Festivais de Dança e de Gastronomia do Pantanal, ela estava com o incontido otimismo que sempre a caracterizou. Fez questão de chamar-me a atenção para os cuidados com minha saúdo, com a contundência de mãe carinhosa, e me confidenciou que o próximo passo de suas atividades será a realização mensal de um dia destinado à gastronomia pantaneira, como forma de disseminar a culinária regional e valorizar os sabores e odores da terra que acolheu seus ancestrais e que tão bem soube retribuir em toda a sua existência.

Ainda que seja frase-feita, sem dúvida, a querida Helô vai fazer falta. Muita falta. Sobretudo para este povo carente de militantes dignos e autênticos para o qual em sua curta mas intensa existência soube emprestar sua voz e lhe dar vez com seu insubstituível estilo benuíno-pantaneiro.

Toda homenagem será pequena diante de sua magnitude única como o Pantanal que como ninguém soube defender, embora muito de seus líderes divergissem frontalmente dela. Como gostaríamos ver estampado seu nome na rua defronte à Casa de Cultura (curiosamente chamada de Praça da República) — é uma rua de apenas uma quadra, mas ficaria bem representativa se passasse a ser chamada de Rua Professora Heloísa Urt. É o mínimo que deve ser feito em reconhecimento à dedicação, ao amor e à luta empreendida por alguém que com tamanha abnegação priorizou o bem público.

Nós, no FORUMCORLAD, no Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino, na Ação da Cidadania, no Pacto Pela Cidadania, na OCCA e no Comitê Corumbá Pela Paz, estaremos prestando nossa humilde e leal homenagem com a renovação de nossos ânimos para dar continuidade às causas nobres que ela abraçou e liderou generosamente.

Até sempre, querida Helô! O pranto é pequeno demais diante do que precisamos fazer em sua desoladora ausência.

Fraternalmente,

Schabib

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