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A difícil arte de sair de cima do muro

A decisão do deputado Federal Reinaldo Azambuja (PSDB) em favor da candidatura de Alcides Bernal (PP), no segundo turno eleitoral de Campo Grande, contém riscos que não podem ser desprezados. O tucano está jogando muitas fichas nesta tacada. Ele espera fazer uma boa colheita no futuro, sonhando ir mais longe. Mas isso dependerá de fatores imponderáveis, pois em política não há lógica que sustente as circunstâncias do momento.

Uma coisa, porém, é certa: quem sempre ironizou a postura do tucanato de ficar em cima do muro agora deverá prestar atenção nos próximos passos do partido. Sair da esfera de influência do PMDB e do governador André Puccinelli – que não é pouca coisa – talvez tenha sido a maneira de afirmar identidade política própria ( um sonho que vem há muito sendo acalentado pelos militantes) e enviar um recado geral para os tradicionais aliados: o jogo mudou, chega de alinhamento automático, chega de convivência pacífica e chega de coadjuvância. Essa é a ideia: pular o muro sem se preocupar em perder a ternura.

Mas não se pode escamotear um fato: o apoio de Azambuja a Bernal não é tema pacificado entre os eleitores que votaram no tucano. Por esses dias é provável que fique claro para as lideranças do partido que um naco ponderável do capital político acumulado por Azambuja será queimado pelo estranhamento que a decisão causou. Ele afirmou que o apoio a Bernal foi balizado por pesquisa. Isso foi um chute e também uma provocação a Puccinelli (que sempre afirma que se baseia em levantamentos estatísticos para tomar decisões), como se dissesse com um sorrisinho nos lábios: “veja como é gostoso este argumento!”.

Claro que cutucar com vara curta o governador não é bom negócio. Puccinelli tem cacife político de sobra para manter sua liderança. É sempre bom lembrar: quem tem a caneta na mão tem imensa capacidade para mudar seu entorno. Além disso, é inegável que o governador faz uma gestão competente e muito responsável do ponto de vista econômico-financeiro, com realizações e projetos que vão impactar o Mato Grosso do Sul no médio e longo prazos – e isso fará sempre a diferença em momentos de disputa eleitoral. O deputado Reinaldo Azambuja é pragmático o suficiente para não trocar o fígado pelo cérebro, e certamente terá seu momento para tentar recompor a relação com Puccinelli, talvez com menor padrão de subserviência.

O momento, porém, é de disputa, e Azambuja está sendo testado. O acordo que fez com Alcides Bernal causou certo frisson no ambiente político, que, se bem calibrado, poderá até ajudar a melhorar a performance de Edson Giroto(PMDB) na hora da eleição. Assim, o tucano terá que se submeter à campanha negativa, com as intrigas, fofocas e especulações de praxe. Se ele não se movimentar adequadamente aquele eleitor que apostou suas fichas em sua candidatura no primeiro turno permanecerá ressentido e vai cobrá-lo no momento adequado. É aquela história: quem entra na chuva é pra se molhar.

Eleição não se ganha na véspera. As impressões de hoje podem se alterar amanhã. O dinamismo emocional do eleitorado é algo palpável e amplamente exemplificado, mesmo porque está demonstrado que os institutos de pesquisa não tem conseguido acompanhar mudanças de humor e tendência de voto. Poderá haver reviravolta eleitoral de Campo Grande? Tudo é possível. O ambiente ainda é volátil. Bernal pode estar sendo marquetado para fazer papel de manso – mas inegavelmente ele causa temor. Ele lembra muito o ex-prefeito de Dourados Ari Artuzi – apesar de falar corretamente.

Francamente, é difícil para o segmento mais esclarecido do eleitorado – que votou em peso em Azambuja – aceitar o apoio do tucano a essa, digamos, “aventura”. Mas em política só o tempo dirá quem está certo e quem está tendo a melhor leitura dos cenários futuros. Mesmo assim, é muito complicado engolir essa coalizão partidária (que vai do PP, passa pelo PSDB e chega até o PT) sob o argumento de que isso é coisa nova na política, além de uma demonstração de força contra André Puccinelli. Haja coração!

 

Por: Dante Filho – Jornalista (dantefilho@terra.com.br)

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