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O festival é América do Sul

 

Quando surgiu, dez edições atrás, o Festival América do Sul (FAS), ainda que na ocasião fosse objeto de questionamento por não haver sido parcialmente construído na cidade-sede (Corumbá), prometia. Prometia muito, aliás.

Apesar dos inúmeros atropelos, frutos da centralização em Campo Grande, durante suas seis ou sete primeiras edições o FAS se mostrou cosmopolita, integrador, interdisciplinar (oferecendo uma série de atividades culturais das quais participar). As suas últimas edições, porém, vêm dando sinais de uma fadiga (ou melhor, enclausuramento) muito preocupante.

O número de dias (inicialmente sete, hoje cinco), a participação de artistas das diferentes áreas e de todos os treze países do subcontinente sul-americano, o envolvimento da comunidade mediante algumas estratégias de participação, tudo isso levava a acreditar num processo evolutivo e que viesse a produzir impactos positivos significativos.

Pois a décima edição está bem provinciana, hermética (no pior sentido), pouco divulgada, desarticulada e até excludente, pois nem os artesãos locais tiveram um espaço digno, até como reconhecimento do valor da produção artística popular.

Mas o pior é que, ao lado da Bolívia e perto do Paraguai, o festival sediado em Corumbá, cujas colônias boliviana e paraguaia são significativas, não ofereceu aos expectadores sequer um grupo folclórico ou de artistas de renome de cada um desses países irmãos (é como se as duas culturas dos povos vizinhos não tivessem qualquer importância para os organizadores, ou que as suas produções artísticas não tivessem relevância).

E o que mais causa estranheza é o fato de a curadoria compartilhada com o Memorial da América Latina (sediado em São Paulo) ter sido encerrada, sendo trocada pelo Instituto Cervantes, em cujo sítio oficial sequer há uma divulgação do Festival América do Sul. Além do mais, entre os seus objetivos (do Instituto Cervantes, óbvio) não está explícita a proposta central do evento que chega a uma década para promover a integração dos povos sul-americanos, até porque a referida instituição, fundada em 1991, mantida pelos reis da Espanha e com sedes em Madri e Alcalá, não tem tal propósito, como traz sua apresentação, no link http://www.cervantes.es/sobre_instituto_cervantes/informacion.htm.

Com o maior respeito pelo trabalho dos organizadores da décima edição do FAS, mas nós, que tivemos a oportunidade de intervir durante a preparação da sua primeira edição e vimos prestigiando todas as edições com a lealdade dos que querem que dê certo (até para não arranjarem pretexto para acabar com ele ou levá-lo para outra cidade), sentimo-nos, mais que frustrados, indignados, traídos. Jamais pedimos qualquer remuneração ou “crédito” pelas inúmeras dicas, sugestões e contribuições (muitas delas acintosamente desdenhadas pelos pretensos arautos da cultura sul-mato-grossense), de modo que nos consideramos dignos de reivindicar (e isso sabemos fazer bem, desde sempre) o direito de os diferentes segmentos sociais e culturais serem ouvidos durante o período de preparação de cada edição.

 

Por: Ahmad Schabib Hany