Mato Grosso do Sul comemora 34 anos nesta terça-feira (11). Para conhecer um pouco mais da história da criação, foram procurados os deputados e ex-deputados que participaram do processo de criação do Estado para saber como vivenciaram o período político mais importante, quais as dificuldades da época e como avaliam a atual situação do Estado, criado em 11 de outubro de 1977 e instalado em janeiro de 1979.
O ex-deputado Sérgio Cruz participou da última Assembleia do estado uno e da Constituinte de Mato Grosso do Sul. Ele analisa que a divisão foi boa tanto para o Norte quanto para o Sul. A seu ver, os benefícios são visíveis e poderiam estimular novas subdivisões no País. Para Sérgio Cruz, o Brasil poderia ter 50 estados, seguindo o exemplo dos Estados Unidos.
Sérgio Cruz lembra que a divisão ocorreu por conta do tamanho e de diferenças culturais e econômicas, uma vez que as regiões eram totalmente independentes, provocando disputas políticas e adversidades culturais, expondo rivalidades históricas. O ex-deputado se recorda que diferente do Norte, Mato Grosso do Sul passou por uma divisão política.
“Era uma torre de babel. Ninguém se entendia. Recursos do Sul foram desviados para o Mato Grosso. O norte criou uma classe nova e nós ficamos com políticos mais antigos como Rachid Derzi, Wilson Barbosa e Pedro Pedrossian. Quando o Wilson Barbosa assumiu teve que emprestar R$ 200 milhões de dólares, o que comprometeu o Estado até agora, sendo recuperado pelo governador André Puccinelli”, analisa.
Sérgio Cruz relata que a classe política só conseguiu se unir com a eleição do primeiro governador, quatro anos depois, fazendo com que o Mato Grosso do Sul tivesse uma “infância perturbada”. Cruz explica que a permanência dos mais experientes no Estado não aconteceu por conta de preferência, mas porque estes já tinham eleitorado na região Sul.
Sérgio se recorda ainda que o PIB (Produto Interno Bruto) do Mato Grosso estava todo na região Sul e havia expectativa de que ela seria uma potência nacional, o que segundo ele, não aconteceu. “O Norte, como era previsto, se desenvolveu muito mais, pois tinha potencial territorial. O Mato Grosso do Sul não tinha um palmo de terra para assentamento ou colonização”.
Cruz analisa que as dificuldades do Estado estão sendo superadas, mas destaca o preço alto da energia como fator negativo para o crescimento, o que só deve ser resolvido quando o estado for auto-suficiente. Ele cita os projetos de reaproveitamento da cana, mas espera que o problema seja resolvido rapidamente, para que o Estado se aproveite da sua localização, bem próxima dos grandes mercados.
O ex-deputado defende o aumento da população do Estado, que considera muito vazio. Em sua opinião, Mato Grosso do Sul deveria ter pelo menos cinco milhões de habitantes para ampliar a representação e maior poder de influência nas decisões do poder central.
Começar do Zero
O deputado estadual Onevan de Matos foi eleito pela primeira vez em 1978, logo após a criação de MS e ainda atua na Casa, com alguns mandatos alternados na prefeitura de Naviraí. Ele acredita que a divisão foi bastante satisfatória, tanto para o Mato Grosso, quanto para o Mato Grosso do Sul, que conseguiram se desenvolver e evitar prejuízos.
Onevan se recorda que após a divisão Mato Grosso do Sul passou por inúmeras dificuldades, uma vez que, teve que iniciar do zero, contando apenas com uma estrutura razoável em Campo Grande. Assim, acredita que o maior desafio foi integrar o Estado, que à época era formado por vários distritos.
Passados 34 anos da divisão, o deputado lembra que hoje é bem diferente, pois o Estado conseguiu sua industrialização e possui agricultura e pecuária bem desenvolvidos. Desta maneira, acredita que o principal desafio está na geração de empregos. Para resolver o problema, Onevan aconselha os prefeitos a aproveitarem os incentivos do governo estadual e atrair empresas. Sobre a fase mais difícil após a criação do Estado, Onevan relata que não teve período fácil e que não é possível separar uma fase da outra.
Problemas com o Governo Federal
O ex-senador Valter Pereira também era deputado antes da criação do Estado. Ele avalia que mudança foi benéfica para os dois estados, com um fomento a atividade econômica, maiores investimentos do Governo Federal e maior presença da iniciativa privada. Valter se recorda que o maior problema enfrentado foi com relação ao descumprimento de alguns compromissos do Governo Federal, como o de dotar o estado com recursos para garantir infraestrutura aos investidores e a inadimplência, também da União, com servidores inativos filiados no sul do Mato Grosso, que passou para responsabilidade do Mato Grosso do Sul.
“O Governo Federal não fez o repasse e trouxe transtorno para os inativos e ônus para o Estado. A crise política também acabou retardando a corrida do Estado, principalmente no momento em que o primeiro governador se incompatibilizou com a bancada federal, o que travou o repasse dos recursos e o Estado teve dificuldades”.
Valter avalia que o Mato Grosso do Sul ainda enfrenta problemas com infraestrutura, tanto rodoviária quanto no sistema modal. Ele ressalta a deficiência de aeroportos, formação de pessoal e na Saúde, que precisam ser enfrentadas. “Hoje o Estado claudica na garantia destes serviços essenciais”.
Briga durante a nomeação do primeiro governador
O ex-deputado João Leite Schimidt se recorda que antes da divisão a região sul do então Mato Grosso era representado na Assembleia Legislativa por ele, Edson Pires, Horácio Cerzózimo, Valter Pereira, Sérgio Cruz, Rubens Figueiró, Cecílio de Jesus Gaeta, Carlos Ronald Albaneze, Henrique Pires de Freitas e Cleomenes Nunes da Cunha. Os deputados cumpririam o mandato até 31 de janeiro de 1978, mas a divisão aconteceu antes, o que fez os mesmos optarem por registrar domicílio em Mato Grosso do Sul.
A época, Schimidt, junto com Rubens Figueiró, foi eleito para a Câmara Federal, compondo com Levi Dias, Ubaldo Barem, Valter de Castro e Antônio Carlos de Oliveira, a primeira bancada do Mato Grosso do Sul na Câmara Federal, ainda com seis deputados.
Schimidt lembra que havia um entusiasmo muito grande com a possibilidade da divisão, pois a maioria das pessoas achava que o Mato Grosso do Sul era riquíssimo e o Norte, pobre. Entretanto, Mato Grosso ficou com dois terços do território, com a capital instalada e todo organizado, diferente do Sul, onde Campo Grande ainda era uma cidade provinciana. “Tivemos que criar empresas públicas, Sanesul e Enersul, além de toda a infraestrura que não tinha. O Estado tinha pouco asfalto”.
Schimidt explica que a briga entre a bancada federal e o primeiro governador, Harry Amorim Costa, ocorreu por conta da nomeação feita por Ernesto Geisel, então presidente. Segundo Schimidt, os senadores Rachid Saldanha Derzi, Antonio Mendes Canale e Pedro Pedrossian tinham interesse de governar Mato Grosso do Sul e não gostaram da indicação de Harry Amorim, que era desconhecido da classe política e da população. A briga só terminou quando os senadores fizeram um acordo e conseguiram colocar Marcelo Miranda, então prefeito eleito de Campo Grande à frente do Governo do Estado. (Reportagem Campo Grande News)
Por: Da Redação