Seca histórica do Rio Paraguai ameaça reprodução de peixes, navegação e regime de cheias no Pantanal
O Rio Paraguai está próximo de atingir o menor nível de toda a série histórica — desde que começou a ser monitorado em 1900. Com muitos bancos de areia, o gigante de águas caudalosas já não recebe mais a navegação e o futuro pode ser ainda mais trágico com consequências ao regime de cheias do Pantanal, que pode afetar a reprodução de peixes e toda a cadeia alimentar da fauna pantaneira.
A situação preocupa, principalmente, por estarmos a um mês do início da Piracema, período de reprodução dos peixes. “Não vai ter cheia, não vai se formar baías e lagoas, que são necessárias para a reprodução de peixes”, explica o biólogo José Milton Longo.
No boletim diário divulgado nesta quarta-feira, a régua em Ladário mostra que o nível do rio está em -35 cm. Relatório do CRPM (Serviço Geológico do Brasil) indica que o cenário deve se agravar e a tendência é de que alcance o nível mais baixo de toda a história (verificada em 1910) e chegar a -48 cm nos próximos 28 dias. “O rio Paraguai continuará a apresentar a tendência ao declínio do seu nível principalmente a partir da estação de Ladário”, informa o boletim.
Para a coordenadora da sala de situação dos rios de MS, a fiscal ambiental do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS), Elizabeth Arndt, os prejuízos da seca devem se prolongar por muito tempo. “Causa prejuízos ao estoque pesqueiro, à dinâmica do Pantanal, da cheia, da decoada… É um limiar bem preocupante por conta disso, se não chove, a cadeia alimentar acaba prejudicada. Isso tudo em decorrência do que pode vir a acontecer. Nossos estoques pesqueiros podem ficar reduzidos para os próximos anos”, declarou.
A seca de 2021 aliada ao cenário do ano passado agravou a situação, conforme o gerente de previsões hidrológicas do Paraguai, Max Pastén. “A seca afetou gravemente os níveis dos rios e isso causou uma queda acentuada porque nestes dois anos, 2020 e 2021, o recorde mínimo histórico foi quebrado”, disse.
Ele explicou que a queda se deve ao forte impacto da estiagem que começou a se fazer sentir no ano passado e que em 2021 se agravou. O especialista acrescentou ainda que o setor mais afetado é o de navegação e não descartou que em alguns pontos comece a restringir a passagem de navios.
O que esperar daqui para frente?
Ambos os especialistas são categóricos em afirmar que seria necessário grande volume de chuva para amenizar o problema. “O Rio Paraguai é grande indicador, por ser a grande artéria que controla esse processo [de cheias do Pantanal], então, precisa chover muito nas cabeceiras”, comentou Longo.
O posicionamento é compartilhado pela técnica do Imasul. “Tem uma preocupação que se as chuvas não retornarem, a gente pode ter prejudicada a Piracema, pois, sem as planícies inundadas, as desovas que acontecem podem ficar prejudicadas. Estamos na expectativa de que no mês de outubro venha a chover, mas não sabemos quanto, porém, vai precisar muito para recuperar os rios”, avaliou Elizabeth.
*Informação do Portal Midiamax