Rubén Darío Román Añez, de 71 anos, será o único artista visual a expor individualmente suas obras no Centro de Convenções Miguel Gomez, no Porto Geral, de 24 a 27 de maio, durante o Festival América do Sul Pantanal. Rubén vai apresentar a exposição “Intransigência” com obras em pastéis, nanquim e óleos. A pluralidade de estilos marca as criações desse artista corumbaense com quase 50 anos de atividade. “Sou multifacético”, define-se. “São diferentes linguagens, ora com sensualidade, ora com dramaticidade, ora com crítica social e política, e sempre com movimento”.
De fato, Rubén pode tanto usar o óleo sobre tela como pintar uma figura em bico de pena com nanquim, ou usar pó de café nos traços de outra tela. Há também telas em preto e branco, com linhas mais fortes. E aquelas pinturas que acabaram se tornando uma de suas marcas: mulheres nuas sobre o dorso de jacarés.
Tudo isso pode ser visto no ateliê do corumbaense, que fica na extremidade da avenida General Rondon, esquina com a rua Ladário. Bem ao lado do bar “Boca Maldita”, que recebe um público apreciador de músicas dos anos 1970 e 1980 e uma boa conversa. Entre eles o próprio pintor e sua esposa Gena Barreto, ela uma artesã ceramista também selecionada para o FASP. “Sentado nessa mesa, na calçada, observo o movimento e me vem muita inspiração para alguns dos meus trabalhos”, revela Rubén Darío. Do fundo de seu ateliê, ele pode avistar todo o Pantanal, outro tema vivo nas suas obras.
Uma de suas obras preferidas leva um nome poético que Rubén Dario define como aforismo: “Com jacarés duas ninfas dançam no Mar de Xaraés”. Mais uma vez, trata-se de uma pintura carregada de sensualidade feminina em meio à ferocidade de um dos símbolos da fauna pantaneira, o jacaré.A sensualidade, segundo Rubén Dario, não pode ser vista com melindre, e reflete em traços femininos e masculinos, adultos e jovens na sua obra. “Eu sou dramático e sensual”, define-se. “A sensualidade é uma coisa bonita, não é pecaminosa, é uma sensação sadia você saber perceber a sensualidade”, acentua. “Assim como a vaidade, não existe ser humano sem vaidade. Eu aprendi aos poucos me libertar, a não ter medo, o que me importava era não contrariar a Deus, era o que mandava minha consciência. Essas coisas evidentemente são o pano de fundo de tudo o que existe na minha pintura”, acrescenta.
O tom de crítica social e política de algumas de suas obras provocou certos transtornos, principalmente durante seus estudos na Faculdade de Belas Artes em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, nos anos 1970, quando governos autoritários dominavam o país sul-americano. “Aos 24 anos eu já havia sido detido na Bolívia e andava sendo vigiado no Brasil”, conta o artista. “Dois temas sempre me provocaram problemas na minha pintura: os temas do nu e da indisfarçável postura política”, acrescenta.
Rubén afirma não estar disposto a mudar sequer um milímetro nos seus conceitos, mesmo correndo o risco de censura ou confisco de alguma de suas obras, como já ocorreu com colegas em outras regiões do País. “De repente pintar peixinhos pode deixar alguém rico e famoso e depois esse artista ainda vai criar um conceito, uma teoria, um palavreado para explicar os seus peixinhos”, critica. “Mas para mim a arte é experimentação, é movimento, é curiosidade, precisa levar à reflexão”, diz.
Ele está finalizando um novo trabalho em seu ateliê. É o retrato de uma mulher solitária, sentada, nua, com olhar circunspecto, a quem deu o nome de “Esperança”. Dario conta que pinta desde criança e um de seus primeiros desenhos foi a Virgem de Fátima, inspirado na mãe, muito católica. Do pai, como ele Rubén Darío, herdou o gosto pela pintura. Com o passar do tempo, ganhou admiração pelos artistas plásticos holandeses. Cita como referência Rembrandt (1606-1669), um dos maiores nomes da arte europeia e do mundo ocidental.
Cada obra provoca um tipo de sensação, segundo Rubén Darío. Pode ser encanto, medo, desprezo, raiva. “Deixo que a pessoa imagine o que quiser quando vê meu quadro. Antes eu ficava molestado quando alguém dava uma interpretação que eu não queria, me sentia frustrado, queria fazer com que pessoa sentisse o que eu sentia, mas isso é impossível. Cada um vai dar uma pitada da sua experiência pessoal, da sua sensação, ao ver uma obra”.
Ele já viveu em várias cidades, como Santa Cruz de La Sierra, onde nasceu, São Paulo, para onde se mudou com a família, Curitiba, Campo Grande e por fim Corumbá, onde se estabeleceu. Suas obras percorrem uma linha do tempo de 48 anos. “O primeiro quadro da maior coleção do Estado é meu, que pintei nos anos 1970, na época da Ditadura, e trata-se de uma manifestação política”, lembra. O quadro hoje pertence à coleção de um professor em Campo Grande.
O Festival América do Sul Pantanal, de 24 a 27 de maio, em Corumbá, Ladário, Puerto Quijarro e Puerto Suarez é uma realização do Governo de Mato Grosso do Sul e da Prefeitura de Corumbá. (Comunicação FASP)