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Ladário: Revelando os Brasis V lança o filme “O Trem Fantasma e a Viola de Cocho”

Sebastião de Souza Brandão, morador de Ladário (Foto: Divulgação)

 

Sebastião de Souza Brandão, morador de Ladário (Foto: Divulgação)

No ano de 1977, trabalhadores da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, ligada à Rede Ferroviária Federal, viram por várias ocasiões surgirem luzes nos trilhos, na região entre Estação Agente Inocêncio e o Posto 50, próximo a Porto Esperança, no Mato Grosso do Sul. Mas o trem nunca chegou, deixando assombrado quem presenciou a repentina claridade do outro lado da linha.

Na época, Sebastião de Souza Brandão, morador de Ladário, não acreditou na história até ver com os próprios olhos, quando trabalhou no trecho como supervisor de via permanente. Trinta e oito anos depois, o ferroviário aposentado, aos 71 anos de idade, irá contar o que viu no documentário de curta-metragem “O Trem Fantasma e a Viola de Cocho”.

A obra será lançada no dia cinco de novembro, às 19 horas, na Rua 14 de Março, como parte da programação do Circuito Nacional de Exibição do Revelando os Brasis – Ano V. O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras.

Inaugurado em 22 de outubro, o Circuito Revelando os Brasis – Ano V percorrerá o país até 27 de novembro. Divididos em duas rotas, dois caminhões adaptados para se transformar em cabine de projeção vão percorrer cerca de 25 mil quilômetros, realizando 20 sessões de cinema ao ar livre nos 20 pequenos municípios com até 20 mil habitantes onde as histórias foram gravadas e mais 15 sessões nas capitais dos estados participantes. Os veículos levam tela de cinema, projetores e cadeiras.

Contemplando as cinco regiões brasileiras, o Circuito percorrerá em 35 dias localidades dos estados de Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.

A nova edição é composta por 11 documentários e 09 ficções. Com roteiro, produção e direção dos autores selecionados, a mostra traz um conjunto de histórias sobre lendas, causos, crendices, personagens populares, tradições, destacando temas que registram a memória e a diversidade cultural brasileira e valorizam novos olhares sobre o Brasil.

O Revelando os Brasis promove a democratização do acesso aos meios de produção audiovisual, oferecendo aos moradores das pequenas cidades com até 20 mil habitantes a possibilidade de contar suas próprias histórias através do cinema.

A história

Por quase quatro décadas, a história do misterioso trem ficou guardada nas lembranças dos ferroviários que atuaram naquele trecho da ferrovia que cortava a região Centro-Oeste. “Os antigos me contavam que à noite apareciam luzes de um trem, vindo no sentido entre a Estação Agente Inocêncio e o Posto 50, na direção do Pantanal. Era visto dos dois lados, mas nunca havia saído de lugar algum”, conta Sebastião, ferroviário aposentado há cinco anos.

Inicialmente, ele não acreditou na veracidade dos relatos. Mas, quando foi transferido para a região, teve a oportunidade de confirmar o caso. “Vi as mesmas luzes e também vi fogo queimando na linha férrea. Por várias vezes, como responsável pela turma, reuni a brigada para apagar as chamas, porém, nunca foi constatado a queima de qualquer coisa no local”, relata o diretor. Segundo ele, os homens da brigada chegavam a andar por dois quilômetros na direção do fogo, mas o local permanecia intacto.

Em 2013, a filha de outro ferroviário, colega de trabalho de Sebastião, e ligada à Fundação Municipal de Cultura de Ladário, o incentivou a inscrever a história na quinta edição do Revelando os Brasis. “Espero que o filme fique muito bom. Muitas pessoas costumam não valorizar as tradições da região. Com o filme, vamos mostrar Ladário e Corumbá”, almeja.

O diretor

Casado há 42 anos, Sebastião de Souza Brandão, tem seis filhos e nove netos. Aos 13 anos, trabalhou na bilheteria de um circo que circulou por várias cidades do Mato Grosso do Sul. Foi caminhoneiro, peão boiadeiro, maquinista de barco no Rio Paraguai até chegar a ferroviário.

Atualmente, o diretor, além de trabalhar com reforma de móveis antigos, é um grande mobilizador de ações de preservação da cultura tradicional no município. Aprendeu a fabricar a viola de cocho com o pai e com os Guatós, grupo indígena conhecido pela habilidade na construção de canoas com troncos de árvores, originários do Alto Paraguai, que após a expulsão de suas terras, foram viver em áreas do Pantanal.

Feita de madeira, a viola de cocho é um instrumento musical marcante dos estados Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso. Seu som acompanha os ritmos e danças do Pantanal, o cururu e siriri, usados para saudar os folguedos populares. O Ministério da Cultura registrou o modo de fazer a viola como patrimônio imaterial do Brasil.

Inicialmente, o mestre artesão e cururueiro ensinou os filhos e netos a construir a viola. Hoje, em um pequeno galpão no quintal de casa, ele instrui pessoas com idade entre 18 e 29 anos a fabricar o instrumento. A Oficina de Confecção da Viola de Cocho faz parte do Microprojeto Pantanal, viabilizado por meio da Funarte. Para Sebastião, que toma o cuidado de buscar a licença dos órgãos ambientais para o corte da madeira de modo a não agredir a natureza, a oficina é importante porque incentiva o jovem a conhecer a história do seu povo e a manter viva a cultura do estado.

A seleção na quinta edição do Revelando os Brasis surpreendeu o diretor. “Eu não tinha ideia que ia dirigir um filme. Quanto mais vivo, mais experiência aparece. Enquanto estiver vivo, eu não quero parar”, comemora Sebastião de Souza Brandão.

Ao som da viola de cocho, o documentário mostra o reencontro, as lembranças e a memória afetiva de ex-ferroviários que trabalharam na construção da linha férrea de Ladário e viveram muitas histórias fantásticas.

Conheça um pouco mais sobre o Revelando os Brasis

Lançado em 2004, o Revelando os Brasis realizou quatro edições que resultaram na produção de 180 obras, entre ficções, documentários e uma animação. Depois das histórias selecionadas, os autores participam de uma oficina audiovisual com duração de 15 dias, no Rio de Janeiro, onde aprendem noções básicas de roteiro, direção, produção, direção de fotografia, direção de arte, som, mobilização comunitária. Após o curso, os autores retornam às cidades para a gravação dos filmes com o acompanhamento de uma produtora custeada pelo projeto e a participação de membros da comunidade em funções artísticas e de produção.

Na etapa de difusão, os filmes são apresentados nas comunidades e nas capitais através de sessões de cinema com entrada franca em praças e ruas dos municípios. Na fase seguinte, as produções do projeto ganham lançamento em DVD com distribuição gratuita entre organizações sociais e culturais, bibliotecas, universidades e cineclubes de todo o Brasil. Promovido em 2013, o 5º Concurso Nacional de Histórias do projeto recebeu 951 inscrições.

Serviço

Circuito Nacional de Exibição Revelando os Brasis – Ano V
Lançamento do filme O Trem Fantasma e a Viola de Cocho
Data: 05/11/15
Horário: 19 horas
Local: Rua 14 de Março – Centro – Ladário – Mato Grosso do Sul (MS)

O Trem Fantasma e a Viola de Cocho
Roteiro, direção e produção: Sebastião de Souza Brandão
Ladário – MS
Nasceu em 1944. Ensino Fundamental. Ferroviário Aposentado.
Documentário: Ao som da viola de cocho, o reencontro, as lembranças e a memória afetiva de ex-ferroviários que trabalharam na construção da linha férrea de Ladário e viveram muitas histórias fantásticas.

 

Por: Da Redação