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Empresário antecipa ‘carta marcada’ em edital e H2L ganha contrato com Sefaz

 

Conforme antecipado por um empresário a duas semanas atrás, a empresa H2L Equipamentos e Sistemas saiu vencedora no pregão eletrônico 03/2017, realizado pelo governo do Estado de Mato Grosso do Sul para a Sefaz-MS (Secretaria Estadual de Fazenda).

O resultado confirmando a empresa como ganhadora da licitação de R$ 6.240.000, conforme avisado, foi publicado no diário oficial do Estado na sexta-feira (21).

O empresário já havia até antecipado qual detalhe sagraria a H2L como única possível vencedora, já que o edital incluiu a exigência de carta do fabricante, que apenas a empresa possui, o que limita a participação de outros interessados no certame.

“É deslavado. O edital é bastante específico. A H2L vai ganhar, não tem aqui em Campo Grande quem consiga atender. Eles pedem, por exemplo, a carta do fabricante. Se um fabricante só que atende, você tira todos os outros do certame”, afirmou o homem, que preferiu o anonimato por temer retaliações.

No edital, consta a seguinte obrigatoriedade a ser cumprida pela empresa participante, que é a “declaração do fabricante que a empresa proponente está apta a realizar a assistência técnica autorizada”.

Este documento é considerado ilegal por ferir o princípio da isonomia nos processos licitatórios.

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) também deliberou que “o interesse público reclama o maior número possível de concorrentes, configurando ilegalidade a exigência desfiliada da lei básica de regência e com interpretação de cláusulas editalícias impondo condição excessiva para a habilitação”.

O TCU (Tribunal de Contas da União) entende que, em regra, a ‘Administração Pública não pode demandar a declaração de fabricante, carta de solidariedade ou credenciamento como condição de habilitação do licitante’.

Documentos impressos

O objetivo da licitação é a ‘locação de multifuncionais e impressoras laser, monocromáticas e coloridas, scanners de produção, fragmentadoras, com fornecimento de softwares de automação do fluxo de trabalho, software de captura e indexação de documentos e softwares de gerenciamento de impressão’.

O governo justificou a contratação como ‘imprescindível’ para os ‘serviços de reprodução e impressão de documentos, necessários à realização da maioria das atividades dos órgãos, bem como, a necessidade de atualização tecnológica dos equipamentos e inclusão de ferramentas de softwares que proporcionarão economia de gerenciamento e o controle para uma gestão eficaz a ser empreendida nos recursos disponíveis para a composição de reprodução de documentos impressos’.

Os órgãos em questão são agencias fazendárias, postos fiscais, a própria Sefaz (Secretaria de Estado de Fazenda) e a SGI (Superintendência de Gestão da Informação). Serão mais de 400 aparelhos de impressão de documentos, bem como licenças específicas de softwares, que levantaram suspeitas em empresários do setor de direcionamento do certame.

Materiais

De acordo com o edital em questão, a H2L deverá fornecer todos os materiais de consumo, como papel, cartucho de toner, cilindro e outros necessários para o bom funcionamento dos equipamentos, não sendo aceito recargas e remanufaturados, para uma franquia mensal global de 1.304.500 (hum milhão, trezentos e quatro mil e quinhentas) páginas, sendo 1.290.500 (hum milhão, duzentos e noventa mil e quinhentas) páginas A4 monocromáticas e 14.000 (quatorze mil) páginas A4 coloridas, 14 (quatorze) metros de etiquetas, 500 (quinhentos) cartões PVC e 175.000 (cento e setenta e cinco mil) auto-envelopes.

Não consta nos anexos do edital em questão, na página da Central de Compras do governo estadual, a relação das empresas que participaram da licitação.

A reportagem encaminhou um pedido de posicionamento do governo estadual em relação à denúncia.

Operação Lama Asfáltica

Dono da H2L e da HBR, Rodolfo Holsback seria levado em condução coercitiva na quarta fase da Operação Lama Asfáltica, deflagrada no dia 11 de maio deste ano, mas acabou detido após a polícia achar armas ilegais em sua casa.

Durante os três últimos anos da gestão de André Puccinelli (PMDB), o governo de Mato Grosso do Sul desembolsou R$ 270,5 milhões com as quatro empresas investigadas na Máquinas de Lama, a H2L e HBR, ambas do empresário Rodolfo Holsback, além da Digix, antiga Digitho Brasil, e a Gráfica Alvorada, de Mirched Jafar Júnior. Todas as empresas mantêm contrato com o governo desde o início da gestão Puccinelli, em 2007.

Pelo Portal da Transparência, é possível conferir os valores desembolsados nos últimos anos da administração Puccinelli, entre 2012 e 2014, com os pagamentos dos contratos com as empresas. Os valores dos outros anos não são contabilizados no portal eletrônico. As empresas de Rodolfo Holsback foram beneficiadas com R$ 89,4 milhões em contratos no mesmo período, sendo que a H2L loca impressoras e multifuncionais para diversos órgãos do Estado.

Renovação

A H2L já mantinha com a própria Sefaz um contrato para ‘locação de impressoras e multifuncionais com fornecimento de materiais’, firmado em 2012, pelo entao secretário de fazenda, Mário Sérgio Lorenzetto, mas tendo como ordenador de despesas André Luiz Cance, um dos alvos da Operação Lama Asfáltica, apontado como suposto operador de esquemas de propina que envolvem o ex-governador André Puccinelli.

O contrato perdurou até o governo de Reinaldo Azambuja (PSDB), e os valor inicial, antes de ser acrescido por aditivos, assinados já por Marcio Monteiro (PSDB), era de R$ 6,7 milhões. (Jornal Midiamax)