Corumbá

78% dos moradores de rua em Corumbá querem mudar de vida

 

A Secretaria Municipal de Assistência Social realizou levantamento sobre pessoas em situação de rua em Corumbá. O diagnóstico tem como finalidade a construção de política pública para o setor. De acordo com dados coletados, a maioria desses moradores é proveniente de outras cidades e muitos deles já chegaram ao município em situação de rua. A pesquisa mostra que quase a totalidade dessa população faz uso de alguma substância psicotrópica (drogas e/ou álcool). Há cerca de 60 pessoas atualmente fazendo das ruas sua moradia no município e 78% delas expressam a vontade de deixar essa condição. Das que querem sair da rua, 44% desejam retomar suas vidas.

A investigação feita por assistentes sociais detectou que 91% desse público são homens, 79% tiveram emprego antes de irem para as ruas e mais de 30% já tiveram carteira de trabalho assinada. Os entrevistados afirmaram que os principais motivos para a saída dos seus lares foram o vício e desentendimentos familiares, já provocados pela dependência química. Questões religiosas e desemprego também apareceram como causas.

A maior parte não tem documentação básica como RG e CPF (53%). O Centro Pop auxilia no pedido de confecção desses dados pessoais, no entanto, pela própria situação dos assistidos, esses documentos acabam se perdendo. Dos que vivem nas ruas de Corumbá, 12% estão vivendo com a/o companheira/o. A investigação apontou que 10% deles apresentam algum tipo de deficiência física ou mental e 65% dormem de fato na rua, não tendo nenhum tipo de abrigo temporário. O Município trabalha na reinserção familiar dessas pessoas, mas a maior dificuldade é que 54% delas não têm mais nenhum tipo de vínculo com suas famílias.

Outra dificuldade enfrentada é que esses moradores estão nessa condição há muito tempo, sendo necessário trabalho de reinserção social e cultural. Dessas pessoas, 32% já têm de cinco a dez anos vivendo nas ruas, mas 9% têm mais de trinta anos vivendo nessas condições. “Por isso é difícil, porque elas já fizeram da rua a sua morada, é uma cultura. Para você tirar isso dessas pessoas, você tem que refazer a mente delas, pois são muitos anos na rua”, afirmou Adelma Galeano, assessora de políticas sociais da Secretaria Municipal de Assistência Social.

O levantamento descobriu que 64% desse público é solteiro, mas 68% têm filhos. São pessoas que já tiveram alguma família antes de estarem nas ruas e os números variam de um a três filhos. Geralmente têm o mínimo de escolaridade, que é o Ensino Fundamental incompleto.

Esses moradores são naturais de diversas cidades do Brasil. Só do Mato Grosso do Sul tem gente de Campo Grande, Anastácio, Miranda e Jardim, mas há aqueles que são do Rio Grande do Sul, Bahia, Alagoas, Paraná, Minas Gerais e São Paulo. Entretanto, esse público já chegou a Corumbá em situação de rua de outras localidades, geralmente não de onde tem família. Eles vêm de Campo Grande, Cuiabá, Goiás, Brasília, Belo Horizonte e outros municípios do Mato Grosso do Sul. “O público da rua é sortido e isso é um trabalho complicado porque precisamos realizar abordagem, fazer o convencimento para a pessoa sair da rua e entrar em contato com a família, mas muitos deles perderam o vínculo familiar”, explicou Adelma.

O diagnóstico da Secretaria Municipal de Assistência Social revelou que 88% desse público não recebem benefícios eventuais do Governo. Isso porque para receber, a pessoa precisa apresentar toda a documentação, o que não é o caso da maioria dos moradores em situação de rua. Entretanto, 56% foram atendidos por algum programa do Município, seja pelo Centro Pop, receberam atenção médica, usufruíram da Casa de Passagem ou receberam alimentos e cobertores. Dos que participam de atividades comunitárias, a maioria frequenta igrejas seguido dos serviços do Centro Pop.

Mais de 50% sofrem discriminação e 28% alegam ter problemas de saúde. “Por isso, a importância do consultório na rua”, destacou Adelma. Esse consultório é composto por enfermeiro e psicólogo que fazem encaminhamento para especialistas. Esses profissionais realizam abordagens em conjunto com os servidores do Centro Pop. Geralmente, o serviço é feito à noite, cerca de três vezes na semana, mas no período de frio é realizado todos os dias.

O secretário municipal de Assistência Social, Haroldo Cavassa, afirmou mais uma vez que precisa da ajuda da população para que todas as pessoas que estejam em situação de rua possam ser devidamente assistidas pelo Município. “Estamos intensificando as atividades neste inverno. Além de entregarmos cobertores, oferecemos pão e sopa aos moradores de rua. Como muitos que estão no presídio em regime fechado não têm família aqui, a doação de cobertores foi estendida a eles também. Pedimos para que se a população souber de algum caso de morador de rua que ainda não tenha sido assistido, que entre em contato conosco através do Centro Pop”, frisou o secretário.

Serviço: O Centro Pop fica localizado na rua Cuiabá, 1.252, Centro de Corumbá, entre as ruas 15 de Novembro e 7 de Setembro. O horário de atendimento ao público é das 07h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30. A sede da Secretaria Municipal de Assistência Social fica na rua Dom Aquino, 884, entre as ruas Antônio Maria e Frei Mariano.

* Pessoas em situação de rua participam de programa de reinserção no mercado de trabalho