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Casinha Pantaneira: A noiva de Ladário

 

Quando recebi o convite do meu amigo Léo Júnior para escrever esta Casinha Pantaneira para o CliqueABC, decidi aceitá-lo por três motivos: o primeiro é que um convite deste naipe não se despreza. Afinal de contas tenho grande respeito pelo profissional e amigo Léo Junior e seu veículo de comunicação.

Depois porque sou um homem de texto, que se não recusa a chance de expor ideias, pontos de vista, contar histórias. E por fim terei a oportunidade de mostrar um pouco mais da cultura, das tradições, das histórias e estórias desta terra pantaneira, a qual decidi adotar como minha. Lendas, causos, enfim o jeito ladarense e corumbaense de ser.

Assim, inicio esta nova jornada contando uma das histórias de assombrações mais conhecidas do pantanal: “A Noiva de Ladário”. Sabemos que no interior do Brasil, em qualquer um dos quatro cantos da nossa Nação, contar histórias é uma arte que preserva a cultura de um povo. Aqui não é diferente. Na cidade de Ladário, que está localizada a margem direita do Rio Paraguai, na fronteira oeste do Brasil, muitas pessoas acreditam que ela exista.

A nossa narrativa começa em um sábado, do mês de maio de 1899, ano em que o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios havia acabado de ser construído. No final da noite, por volta das 23h, vinda de seu casamento na Igreja ladarense, uma linda noiva, acompanhada de seu novo marido e um charreteiro, se dirigia para um sítio da família em que o casal teria sua noite de núpcias.

Feliz, ao lado de seu amor, a moça fazia planos quando, no meio da estrada, que hoje é a avenida Rio Branco, via de ligação entre as cidades de Corumbá e Ladário, no cruzamento ao lado onde hoje fica uma usina de cimento, a carroça foi interceptada por um grupo de ladrões que, de maneira violenta, decidiu barbarizar e matar os noivos.

Mas no caso da noiva, a situação ganhou requintes de crueldade, quando o chefe do bando resolveu arrancar o dedo anelar da mão direita da moça para ficar com a aliança e um grande anel de brilhantes.

O crime chocou a todos na época e fez com que a polícia realizasse várias buscas sem sucesso. Conta a lenda que, três meses depois do fato, seis marginais procurados apareceram mortos no ponto da Estrada (em que havia ocorrido o crime) com uma característica comum: todos os cadáveres tinham o dedo anelar decepado.

O caso da Noiva de Ladário ganhou força de Lenda Urbana quando pessoas, que passavam pelo mesmo local, após as 23h, começaram a ver uma mulher vestida de noiva, toda iluminada na beira da estrada que aparece, desaparece e reaparece dentro dos carros com a mão direita no ombro do motorista, sem o dedo anelar.

Meu amigo Fabricio Arruda, por exemplo, disse que já viu e teve a visita da noiva em seu carro, fato que lhe fez gelar o coração. Muitos evitam passar pelo local após as 23h ou quando o fazem é em alta velocidade, sem olhar para o lado da estrada. Verdade ou não muita gente acredita e reza para não ter o infortúnio de ver a assombração que afirmam com convicção que existe sim.

Esta é apenas uma das várias lendas que povoam o imaginário pantaneiro. Existem ainda o Mãozão (um tipo de lobisomen); o Minhocão (um misto de sucuri gigante e minhocuçu); o Velho do Rio (um protetor da natureza), entre outras figuras. Lembro que esse é apenas o começo. Na próxima semana falaremos sobre figuras folclóricas da política local que misturavam discursos eloquentes, muito humor e canções populares cantadas por alguns candidatos campeões de votos.

 

Por: Montero Netto